Alegado homicida estava em liberdade em troca de plano de reinserção que não foi feito

Homem de 62 anos suspeito de matar quatro vizinhos, em Barcelos, já tinha sido condenado por agressão. Suspensão da pena de prisão foi condicionada a um plano de reinserção social que nunca chegou a ser executado.

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O crime em Barcelos vitimou um casal de 80 e 84 anos, uma mulher de 62 anos e uma grávida de 37 anos Nelson Garrido

Antes de ter matado alegadamente quatro vizinhos, António Adelino Briote já tinha agredido a sua filha e ex-sogra com um ferro. O plano de reinserção social – condição para que fosse suspensa a pena de três anos e dois meses de prisão resultantes do julgamento desse caso – não chegou a ser elaborado, noticia o Jornal de Notícias.

Na sequência do julgamento de Novembro de 2016, ficou definido que António Briote não teria de ir para a prisão desde que lhe fosse aplicado um plano de reinserção. Mas o tribunal de Barcelos só formalizou o pedido de elaboração deste plano a 9 de Janeiro de 2017.

A partir dessa data, dispunha-se de 30 dias para concluir o plano. Só que tal não aconteceu e, a 24 de Março, sem que houvesse qualquer controlo por parte do sistema judicial, António Briote matou quatro dos seus vizinhos – entre os quais uma grávida de 37 anos. Para justificar a falha, os serviços competentes alegaram falta de funcionários e de tempo suficiente para delinear e executar o plano.

Este plano obrigaria o homem a seguir um conjunto de normas de conduta e fiscalização, que o lhe permitia receber tratamento médico ou poderia impedir de contactar com as vítimas. Se não cumprisse, a suspensão da pena poderia ser revogada.

Admitiu autoria dos crimes, mas diz que não se lembra

No julgamento de 2016, o juiz Martins Moreira fez depender a pena suspensa do plano de reinserção social, precisamente para “prevenir o cometimento no futuro de factos de idêntica natureza”, cita o Jornal de Notícias. Depois de ter agredido a filha e a ex-sogra com um ferro, provocando-lhes fracturas ósseas e lesões graves, António Briote foi submetido a tratamento psiquiátrico, que foi interrompido precocemente.

Em Março de 2017, António Adelino Briote terá degolado quatro vizinhos, em Tamel (São Veríssimo), em Barcelos. Começou por admitir a autoria dos crimes mas depois sublinhou não se lembrar do que tinha acontecido. Agora, aguarda o desenvolvimento da investigação em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Braga, estando indiciado por quatro crimes de homicídio qualificado.

No dia a seguir aos homicídios, o PÚBLICO falou com o psicólogo forense Rui Abrunhosa, que considerou importante realçar que entre tribunais, polícias e serviços médicos, “alguém devia ter notado que este era um homem de risco, que havia ali um barril de pólvora prestes a explodir, se ele já estava sinalizado pela polícia, se já havia antecedentes psiquiátricos…”. Porque, em regra, “estas pessoas vão acumulando raiva e tensão e são muito perigosas quando decidem passar aos actos”, dizia.

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