Uma Universidade Invisível e gratuita, com arte para todos

É o grande projecto de 2017 da companhia itinerante Comédias do Minho. A Universidade Invisível é composta por formações gratuitas dedicadas à arte nas suas variadas expressões. A próxima é já em Março, em Valença, sobre teatro

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Quem aprendeu a ler, pode sempre escolher o que ler, quando, onde e até não o fazer de todo; quem não sabe, não tem escolha. Magda Henriques, directora artística das Comédias do Minho (CdM), apropria-se desta analogia do investigador e programador cultural António Pinto Ribeiro para explicar a missão da Universidade Invisível, o novo grande projecto de 2017 da companhia de teatro, uma herança do anterior director, João Pedro Vaz. “Eu não acredito que a arte salve o mundo — se salvasse já há muito que tínhamos sido salvos — mas pode, pelo menos para alguns, aprimorar uma série de coisas. (...) E se acredito que tem esse potencial, sinto a responsabilidade de partilhar instrumentos que permitam o acesso a ela.”

Está assim definido o desígnio desta formação, absolutamente gratuita e caracteristicamente móvel, dedicada à arte nas suas variadas expressões: os seis módulos que a compõem são dedicados ao encontro com a obra de arte, ao teatro, à performance, à música, ao cinema e, por fim, à dança. As sessões são orientadas por formadores da área em questão e incluem, para além da teoria, peças de teatro, concertos, filmes e uma feira do livro temática, em parceria com a Centésima Página. 

Fazendo jus à genealogia da companhia, esta universidade ocupa um município fundador de cada vez, ao longo de todo um fim-de-semana (sextas e sábados) — a saber, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira. Uma vontade que, aliás, está presente em todo o programa das CdM. A partir deste ano, e para evitar a característica “correria constante” de freguesia em freguesia de todo o Vale do Minho, toda a actividade se vai concentrar em apenas três ou quatro freguesias de cada município; para o ano, serão outras as escolhidas. “Optámos por tornar mais visível a presença das Comédias. Estamos aqui, ocupamos, não estamos a correr para aqui ou acolá.” O mesmo se passa nestas sessões: “As pessoas e as obras de arte exigem tempo e presença.” Daqui sairá, eventualmente, um documentário de Eva Ângelo sobre a ideia de espectador. 

Lotação esgotada, mas...

O primeiro encontro, esgotadíssimo, realizou-se no início de Fevereiro e foi orientado pela própria Magda, partindo de um dos comentários mais frequentes perante a arte contemporânea — Isto é arte?!. Dia 3 e 4 de Março, Valença recebe Que teatro é este?, sessão orientada por Pedro Sobrado, que inclui ainda o espectáculo para toda a família Deixa-me Ser, de Luís Filipe Silva, a peça Comunidade, de Maria Duarte, Gonçalo Ferreira de Almeida e João Rodrigues, o filme, com conversa à medida, A Comédia e a Vida, de Jean Renoir, e uma feira do livro temática. Seguem-se a 28 e 29 de Abril, em Paredes de Coura, o módulo Performance?! O que é?, orientado por Miguel Bonneville, e, depois de uma pausa veraneante, Monção acolhe, a 15 e 16 de Setembro, o encontro Que música é esta?, coordenada por Filipe Silva. Já na recta final do ano, em Outubro, Pedro Filipe Marques dedica-se ao cinema em Melgaço e, em Dezembro, Vera Santos à dança em Paredes de Coura.

“A proposta”, explica Magda, “é partir daquelas obras do nosso tempo que provocam estranheza, seja em teatro, cinema, dança, e depois viajar no tempo para perceber melhor o que temos hoje”. Todas as actividades são de acesso gratuito e independentes entre si — quem não participou no módulo teórico pode ver os espectáculos na mesma — sendo que apenas a formação necessita de inscrição prévia. Para se candidatarem, os interessados, que devem ter mais de 15 anos e gostar de artes visuais, teatro, performance, música, dança e cinema, têm de preencher o formulário disponível no site da companhia. Há 30 vagas para cada módulo e é dada prioridade às cinco primeiras inscrições de participantes de cada um dos municípios do Vale do Minho; as restantes são validadas por ordem de chegada. A lotação já está esgotada em todas as sessões, mas, conselho da organização, vale a pena tentar para o caso de haver desistências. À partida, para o ano há mais, provavelmente com outros temas.

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