Direita evita beliscar Marcelo por causa do ministro Centeno

Diogo Feio, do CDS, reconhece que há um peso presidencial sobre o Governo mas não faz juízos de valor

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Diogo Feio é o director do gabinete de estudos do CDS Pedro Maia / PUBLICO

É com pinças que sociais-democratas e democratas-cristãos têm reagido nas últimas horas ao caso do ministro das Finanças, Mário Centeno, que foi caucionado pelo Presidente da República. Nem PSD nem CDS, pelo menos na linha oficial, parecem querer apontar baterias a Marcelo Rebelo de Sousa, preferindo atirar ao Governo.

Já esta terça-feira de manhã, Diogo Feio, director do gabinete de estudos do CDS e ex-deputado, sustentou que o Presidente da República “ocupa o centro político” e que “demonstrou aos mais precipitados que devem aguardar serenamente pelo fim das histórias”. O antigo líder parlamentar do CDS considerou, numa nota publicada no Facebook, que “o Presidente não vai gerar crises”, mas que “na relação entre órgãos de soberania exerce uma enorme preponderância sobre o Governo”. Sem fazer qualquer juízo de valor sobre a actuação do Presidente, Diogo Feio sustentou que Marcelo Rebelo de Sousa “gere com cuidado o maior peso presidencial” de que se lembra no “sistema de Governo”.

A nota foi publicada já depois de ser conhecido o comunicado do Presidente da República em que este declarou aceitar a posição do primeiro-ministro de manter a confiança no ministro das Finanças, “atendendo ao estrito interesse nacional em termos de estabilidade financeira”. Em causa estão os contactos entre o ministro e o anterior presidente da Caixa Geral de Depósitos António Domingues sobre a desobrigação de apresentar declarações de rendimentos e património por parte da administração do banco público ao Tribunal Constitucional.

Também João Almeida, porta-voz do partido, se escusa a fazer avaliações sobre a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa. “Temos papéis constitucionais diferentes. O da Assembleia da República é o de fiscalizar o Governo”, afirma o deputado quando confrontado com a posição assumida pelo Presidente da República.

Ontem à noite, ainda antes do comunicado da Presidência, o social-democrata Luís Marques Guedes deixava um aviso a Marcelo Rebelo de Sousa, mas desprovido de crítica directa ao chefe de Estado. “O Presidente da República que se cuide. No saber de experiência feito do seu ilustre antecessor, quando as palavras deixam de se conformar com a realidade dos factos, convém passar a olhar com desconfiança para a ‘narrativa’ e as ‘boas notícias’ que lhe são vendidas pelo primeiro-ministro”, escreveu o antigo ministro dos Assuntos Parlamentares na newsletter do partido.

Nos dois partidos, as baterias parecem mais apontadas para o primeiro-ministro António Costa e para Mário Centeno do que para o Presidente, apesar de nos últimos dias já se terem ouvido algumas vozes mais críticas da actuação de Marcelo Rebelo de Sousa. Muitos questionam sobre o que os partidos da oposição teriam a ganhar com essa posição e sobretudo com a colagem de uma figura com tanta popularidade ao Governo como é o caso do Presidente da República.

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