Caixabank é a nova peça do puzzle da banca portuguesa

Esta quarta-feira, o BPI oficializa o seu novo dono: o grupo espanhol Caixabank. Depois de o BCP ter estabilizado com a Fosun e de Paulo Macedo já estar a recapitalizar a Caixa, fica a faltar encaixar o Novo Banco no turbulento puzzle financeiro português.

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fvl Fernando Veludo/NFACTOS

Com a conclusão da Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank ao BPI fecha-se um dos dossiês bancários que nos últimos quatro anos marcou a agenda financeira mediática, devido ao envolvimento de accionistas angolanos e espanhóis. O resultado da operação será conhecido esta quarta-feira, em conferência de imprensa agendada para as 18h00 nas instalações do banco liderado por Fernando Ulrich, com a presença do CaixaBank, que ficará o dono do banco português.

Depois de na semana passada o BCP ter eliminado as dúvidas sobre a sua estrutura accionista, com uma aliança sino-angolana, a dominar 43% do capital, chegou a vez de o BPI anunciar o resultado final da oferta bolsista lançada pelo espanhol Caixabank, com sede na Catalunha.

A Santoro, de Isabel dos Santos, já veio confirmar que vendeu os 18,5% que detinha no banco. O mesmo deverá acontecer com Fernando Teles, do BCI, com cerca de dois por cento, com a família Violas (2,6%) e com os accionistas do BPI que se juntam na Arsopi (com mais de dois por cento). É expectável que a seguradora alemã Allianz, com 8,5 %, se mantenha no banco para defender o acordo de distribuição de produtos financeiros aos balcões do BPI.

Concluída a OPA, o BPI passa a ter um dono, com cerca de 80% do capital, e que é um banco espanhol: o CaixaBank, que detinha 45% até agora. E com esta solução perde o seu formato accionista histórico, de vários investidores e equilíbrios constantes. Uma mudança que beneficiou sobretudo das decisões tomadas durante a oferta de bolsa: a desblindagem estatutária e a venda do controlo do Banco de Fomento de Angola a Isabel dos Santos, medida que se destinou a afastar a pressão do BCE sobre o BPI para novos aumentos de capital.

BCP nas mãos de dois Estados

Se o fim da OPA ao BPI enterra uma guerra accionista que durava há quase quatro anos, a conclusão esta sexta-feira do aumento de capital do BCP, de 1.330 milhões de euros, levou a uma grande mudança na sua organização interna. E que culminou numa maior concentração accionista (mas menos do que a verificada no BPI): 42,3 % da instituição estão agora nas mãos de quatro investidores articulados entre si. Para além da chinesa Fosun (23%), a líder que quer chegar aos 30%, Nuno Amado conta com a angolana Sonangol (15%), a (agora luso-chinesa) EDP (2,1%) e a luso-angolana Interoceânico (1,7%).

E ao contrário do BPI, onde Fernando Ulrich ficará subordinado a um accionista, que é um banco (como acontece com Vieira Monteiro no Santander Totta), Nuno Amado não terá de responder perante nenhuma instituição do sector, dado que a Fosun é um fundo e a Sonangol uma petrolífera que, por coincidência, é presidida por Isabel dos Santos (dona da Santoro).

Mas o reforço do capital do BCP veio sobretudo consagrar uma aliança indirecta entre dois Estados, o chinês (Fosun e EDP) e o angolano (Sonangol e Interoceânico), por intermédio de empresas que funcionam sobre o chapéu dos governos dos países de onde provêem.

Uma mudança que protege o BCP de ataques externos e confere estabilidade à governação, pois desaparece o modelo anterior, sustentado numa estrutura accionista frágil e dispersa. E dominado, nos últimos anos, por um grande investidor, a Sonangol, sem fôlego financeiro para suportar o segundo maior banco do país, a necessitar de se capitalizar e de pagar ao Estado, até Julho, a dívida de 700 milhões de Cocos. Se nada acontecesse o BCP corria o risco de nacionalização.

A associação sino-angolana, tem por objectivo promover a ligação da chinesa Fosun (que comprou 80% da Fidelidade à CGD) a África usando o BCP como instrumento dessa estratégia. Pelo caminho, capitaliza o banco e permite a Nuno Amado mantê-lo livre da intervenção estatal. 

Nos últimos anos, a discussão em torno do futuro accionista do BCP e do BPI ocupou muitas páginas dos jornais, e atraiu a atenção das autoridades, pelo impacto politico nas relações externas de Portugal. 

Caixa e Novo Banco são novos desafios

Os dois dossiês BCP e BPI foram resolvidos na esfera dos seus accionistas privados, como era suposto. Mas no sector há outros desafios, estes de âmbito estatal. Depois de o primeiro-ministro António Costa ter vendido a parte boa do Banif ao Santander (com o banco espanhol a poder vir a encaixar uma mais valia de quase mil milhões), o tema Caixa Geral de Depósitos (CGD) está em vias de ser concluído, uma vez que foi encontrada uma solução estrutural de reforço dos capitais em 5.200 milhões de euros. Mas qualquer avaliação terá de aguardar pelos resultados do modelo de capitalização.

A excepção é o Novo Banco que se revelou um imbróglio para o vendedor, o Fundo de Resolução. Um “barril de pólvora” que pode rebentar e contaminar os contribuintes, tendo em conta que se trata de risco do Estado. Uma instituição, que recebeu 4.900 milhões de euros (3.900 milhões por empréstimo estatal) e que até Agosto terá de passar para o domínio privado.

Com o tempo a passar prosseguem as negociações preferenciais com o norte-americano Lone Star, uma mega imobiliária que entregou ao Fundo de Resolução uma oferta firme de compra do Novo Banco. As conversações destinam-se a remover os obstáculos que se levantam ao negócio, um deles prende-se com a exigência de uma garantia pública (o Lone Star quer evitar ter de pôr capital de lado por conta de activos do Novo Banco), mas que o Governo não valida.

Já o fundo norte-americano Apollo (que também pede apoio público) está prestes a terminar a avaliação ao Novo Banco, que poderá levar, ou não, à entrega às autoridades de uma proposta vinculativa. E, no mercado fala-se que o China Minsheng aproveitou o compasso de espera para se voltar a movimentar no sentido de aparecer com a prova de que dispõe dos fundos para comprar o Novo Banco.

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