Rio de Janeiro prepara-se para ter um bispo evangélico como prefeito

Sondagem sobre a segunda volta das eleições municipais, que decorrem este domingo, mostram uma clara liderança de Marcelo Crivella

Foto
Crivella com Dilma Rousseff num comício em Setembro de 2014 Ricardo Moraes/Reuters

Um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), que acha que as mulheres devem obedecer aos homens e que a homossexualidade é uma “conduta maligna”, deverá estar prestes a tornar-se presidente da câmara do Rio de Janeiro.

O senador Marcelo Crivella, do Partido Republicano Brasileiro (PRB), leva uma vantagem bastante confortável sobre o seu rival nesta segunda volta das municipais brasileiras, segundo a última sondagem do Datafolha: 66% dos votos válidos, contra 37% de Marcelo Freixo, deputado estadual do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL, de esquerda). Tendo em conta o total da votação (incluindo votos nulos, brancos e abstenções), Crivella terá 46% contra os 27% de Freixo.

Crivella é sobrinho do fundador da IURD, o milionário Edir Macedo, que criou a igreja em 1977. Foi eleito senador em 2002, pelo estado do Rio de Janeiro, e ajudou a construir o PRB, um dos partidos aliados do ex-Presidente Lula da Silva.

Durante esta campanha, “Crivella fez de tudo para deixar de lado a imagem de bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e se firmar como um político desvinculado de questões religiosas”, lê-se no site da revista Piaui. “Em diversas ocasiões, disse: ‘Jamais misturei política com religião’.” A mesma publicação adianta que segundo as contas feitas pelo Folha de São Paulo, Crivella fez pelo menos 29 discursos e 11 propostas legislativas misturando política e religião.

O jornal Globo referiu recentemente que “o candidato que hoje se apresenta como tolerante e ecuménico” mostra outras posições no seu livro Evangelizando a África, sobre os dez anos em que viveu no continente. Nele faz “pesadas críticas a praticamente todas as religiões, apresentadas como ‘diabólicas’, e classificou a homossexualidade de ‘conduta maligna’ e de ‘terrível mal’”. Num vídeo gravado durante uma celebração, Crivella afirma: “A mulher não é uma costela do homem?... As mulheres deviam até obedecer mais aos homens porque afinal de contas são um pedaço dos homens”.

Ao que tudo indica, será mesmo ele que os eleitores do Rio de Janeiro querem para prefeito. O Datafolha mostra que o senador obtém as maiores vantagens sobre Freixo entre os mais velhos (46% contra 23%), entre os mais pobres (54% contra 19%), entre os menos instruídos (57% contra 17%), entre os evangélicos não pentecostais (70% contra 12%) e entre os evangélicos pentecostais (79% contra 8%). Por seu lado, Freixo lidera no voto jovem (41% contra 34%).

A primeira volta destas municipais, a 3 de Outubro (a segunda está reservada aos municípios com mais de 200 mil habitantes e onde nenhum candidato obteve mais do que 50% dos votos), mostrou que os brasileiros quiseram castigar os candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT), depois de meses de uma crise política que levou à destituição da Presidente Dilma Rousseff e à queda do seu Governo. O PT apenas conseguiu eleger um candidato em Rio Branco, no Acre; e perdeu a importante prefeitura de São Paulo, a maior cidade do país, com 12 milhões de habitantes, onde João Doria, do Partido da Social-Democracia Brasileira  (PSDB), derrotou confortavelmente Fernando Haddad, concorrente do PT eleito em 2012 com o apoio de Lula, agora oficialmente imputado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

A derrota do PT, que esteve 13 anos à frente do Brasil, beneficiou os partidos que agora se coligaram no novo Governo do país, o PSDB e o PMDB, de Michel Temer, que substituiu Dilma Rousseff – isto apesar de o partido ter perdido no Rio de Janeiro.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários