“Eles querem destruir a minha vida política”, contra-ataca Lula

O ex-Presidente brasileiro diz-se vítima do “ódio das elites” face ao sucesso das suas políticas sociais. “O meu fracasso não teria provocado tanto ódio contra o PT”, diz.

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Comovido até às lágrimas, mas mais ácido do que o normal, Lula afirmou-se “indignado” Nelson Almeida

O ex-Presidente brasileiro, Lula da Silva, atribui as graves acusações de corrupção apresentadas formalmente contra si na quarta-feira à vontade das “elites” de “destruírem” a sua vida política, num último capítulo da controversa destituição da sua herdeira política, Dilma Rousseff.

Se for condenado, o ex-sindicalista e metalúrgico, que se tornou no chefe de Estado mais popular do Brasil, não poderá apresentar-se a um terceiro mandado, em 2018.

“Como num folhetim, eles criaram um epílogo: elegeram [Michel] Temer, destituíram Dilma Rousseff […] e agora querem destruir a vida política de Lula”, acusou o ex-chefe de Estado (2003-2010) numa conferência de imprensa rodeado de inúmeros militantes e de gigantescas pinturas do seu Partido dos Trabalhadores.

Na véspera, o procurador de Curitiba, Deltan Dallagnol, designou Lula como “chefe supremo” da enorme rede de corrupção na empresa pública petrolífera Petrobas. Comovido até às lágrimas, de voz rouca, mas também mais ácido do que o normal, Lula afirmou-se “indignado” com o que “se passa no país”. E negou uma vez mais todas as acusações: “Provem a minha corrupção e irei entregar-me à polícia a pé”.

Lula diz-se vítima do “ódio das elites” face ao sucesso das suas políticas sociais, responsáveis por tirarem perto de 30 milhões de brasileiros da miséria. “O meu fracasso não teria provocado tanto ódio contra o PT”, defendeu.

O político de 70 anos voltou a acusar do governo Temer, de centro-direita, de querer “entregar aos capitais estrangeiros” as grandes empresas estatais, como a Petrobras.

O procurador Dallagnol transmitiu o dossier de acusação de corrupção e branqueamento de dinheiro contra Lula ao juiz Sergio Moro, inimigo notório de Lula que tem a cargo toda a Operação Lava-Jato e quem terá a última palavra na decisão de levar Lula a tribunal.

Segundo Dallagnol, Lula recebeu 3,7 milhões de reais em subornos pagos pela construtora OAS (1 milhão, cerca de 240 mil euros, gastos em obras num apartamento triplex de que o ex-Presidente nega ser proprietário). A OAS é uma das principais empresas implicadas nesta rede de corrupção. Em três contratos Petrobras-OAS, as somas desviadas elevam-se a 87 milhões de reais, diz Dallagnol.

Estes seus problemas judiciais representam um novo golpe duro contra a esquerda brasileira, seguindo-se à destituição, pelo Senado, de Dilma Rousseff, por suspeita manipulação das contas públicas. A Presidente foi substituída a 31 de Agosto pelo seu antigo vice, Michel Temer, que pretende permanecer no cargo até ao fim do mandato, no fim de 2018.

Em editorial, esta quinta-feira, o jornal Folha de São Paulo sublinhava a discrepância entre uma acusação longa com elementos mínimos de prova: “Até agora, temos a impressão que, sem conseguir apresentar provas mais robustas contra Lula, o Ministério Público Federal tenta compensar as lacunas com retórica.”

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