Depois do UKIP, Farage inicia ronda eurocéptica pelo continente

A eurodeputada Diane James é a nova líder do partido populista britânico e avisa que os eleitores não vão aceitar uma "versão minimal" do "Brexit".

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Diana James herda um partido dividido por quezílias internas Daniel Leal-Olivas/AFP

Diane James, eurodeputada e um dos rostos da campanha do UKIP no referendo britânico à União Europeia, foi eleita PARA suceder a Nigel Farage na liderança do partido populista. Na despedida, o ex-líder anunciou que nos próximos meses vai andar pela Europa a apoiar formações com uma agenda idêntica à sua.  

Farage anunciou que deixaria a liderança do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) dias depois de os eleitores aprovarem em referendo a saída do país da UE, a grande obsessão da sua vida política e a razão de existir da formação que liderou (com um pequeno hiato) na última década. “Não poderia ter trabalhado mais arduamente, ou ter sido mais determinado – foi o trabalho da minha vida chegar até aqui”, disse o eurodeputado, no seu último discurso como líder à convenção anual do partido.

Mas o adeus é apenas parcial – à vida partidária, não política. Anunciou que vai continuar como presidente do grupo encabeçado pelo UKIP no Parlamento Europeu, mantendo até 2019 a tribuna que nos últimos anos lhe permitiu irritar vezes sem conta os eurodeputados de outras bancadas e os comissários que ali foram discursar.

E depois de ter contribuído, talvez mais do que nenhum outro político, para o voto que ditou a saída britânica da UE, quer agora exportar a sua receita de sucesso para o continente, onde o populismo e o nacionalismo ganham terreno a cada votação. “Conto viajar por várias capitais para tentar ajudar movimentos a favor da independência e da democracia”, afirmou. Em 2017, haverá eleições legislativas na Alemanha e Holanda e presidenciais em França – escrutínios decisivos para o rumo da UE e nos quais os partidos de extrema-direita esperam obter resultados recorde, abrindo previsíveis novas brechas no projecto europeu.

Em entrevista ao site Politico, Arron Banks, principal financiador e aliado de Farage, disse que há nos países europeus um eleitorado sedento do discurso contra as elites que dominam a política e a economia e a favor de dar aos países um maior controlo sobre o seu destino. “Esta mensagem – a de que é possível vencer o sistema político – viaja bem”, afirmou o milionário, num anúncio que o Politico acredita ser capaz de “provocar calafrios entre os eurocratas”.

O objectivo é claro – fomentar o sentimento eurocéptico através da Europa – e Banks cita o Movimento 5 Estrelas, o partido anti-sistema que lidera actualmente as intenções de voto em Itália, como um aliado natural. Mas “é perfeitamente possível ir a lugares como a Dinamarca e a França dizer: ‘Olhem para nós, é possível, vocês também podem sair’. A lógica económica da UE está a abrir brechas”.

O papel de “embaixador ambulante” de Farage contra a UE ameaça, no entanto, fragilizar a sua sucessora, que no discurso inaugural disse não ter um estilo semelhante nem ser “uma versão light” do ex-líder. Eleita por 47% dos votos (quase o dobro de Lisa Duffy, a segunda mais votada), Diane James era uma poucas figuras do UKIP que não se tinha incompatibilizado com Farage, que a apoiou implicitamente.

Seguidora da mesma linha dura anti-imigração do antecessor, a eurodeputada usou a sua primeira intervenção para exigir que a primeira-ministra britânica desencadeie o quanto antes o processo formal para a saída da UE. “As ameaças ao referendo aumentam a cada dia que passa”, afirmou, acrescentando que o UKIP não se conformará com uma “versão minimal de ‘Brexit’”, exigindo o fim da livre circulação de pessoas e a saída do mercado único europeu.

No discurso, a eurodeputada afirmou que, depois do sucesso no referendo, o UKIP é agora “o partido da oposição em espera”, num claro aviso aos trabalhistas, que viram boa parte dos seus eleitores tradicionais alinhar com os populistas no referendo europeu. Mas James herda um partido muito dividido por quezílias internas e que, com o sucesso de 23 de Junho, perdeu parte da sua razão de existir – uma antiga assessora de Farage disse ao jornal Guardian que muitos apoiantes estão a trocar o UKIP pelo Partido Conservador, que sob a liderança de May assumiu muitas das bandeiras dos populistas.

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