Europa à procura do plano A

“Mais Europa” ou “melhor Europa”? Dois meses depois do "Brexit”, o caminho não em claro. Nem estas duas expressões.

Merkel, Hollande e Renzi reuniram-se numa minicimeira a três num porta-aviões em frente à ilha de Ventotene e de imediato choveram críticas sobre os três países quererem afirmar que, com o Reino Unido de fora, quem manda na Europa é a Alemanha, a França e a Itália.

Os espanhóis e os polacos reclamaram e gostariam de lá ter estado. Mas mesmo num mundo ideal e federalista, em que cada país europeu teria um voto em todos os processos de decisão, estas cimeiras continuariam sempre a existir, nem que fosse para orquestrar estratégias.

Para ajudar os críticos, o próprio Presidente francês disse que o encontro de Ventotene “não era para decidir pelos outros”, mas “apenas o assumir das responsabilidades pelos três maiores países da União Europeia”. As três maiores economias.

Os críticos têm no entanto coisas mais urgentes com que se preocupar. Uma delas demonstrada de forma crua pela reunião a bordo do porta-aviões Garibaldi (quantos países europeus têm um, já agora?): dois meses depois de o Reino Unido ter votado pelo “Brexit”, a União Europeia continua à procura de um plano A.

Para além deste vazio, os discursos são divergentes. Mesmo entre os três grandes. A França e a Alemanha não se entendem sobre a defesa e olham para a NATO e para os EUA de forma distinta. Nem sobre como fazer a economia crescer – aí, França e Itália estarão mais próximas. Sobre o impacto do “Brexit”, cada um diz sua coisa, revelador de como, no fundo, muitos líderes europeus não acreditaram que ganhasse o “Leave” e não se prepararam para enfrentar este cenário. Merkel tem combatido a tentação anti-britânica (até porque tem interesses comerciais importantíssimos) e defende que o Reino Unido tenha um estatuto muito próximo da União. Todos dizem que a saída do Reino Unido "não é o fim da Europa", mas ninguém sabe como será dado o prometido “novo impulso”, um “novo impulso” capaz de isolar os fogos antieuropeístas e evitar mais fragmentação.

Renzi, o optimista, fala em “virar a página” e “escrever um novo futuro”. Escolheu para receber a cimeira o lugar onde, em 1941, um célebre antifascista italiano escreveu um manifesto que inspirou os “pais” da União Europeia. Mas como?

A Alemanha não quer reformas estruturais. Diz que basta aplicar os mecanismos e políticas que existem. Nem todos pensam assim. E afinal qual é a diferença entre o ideal de “mais Europa” (de Renzi) e o de "uma Europa melhor” (de Merkel)?

A um mês da cimeira de Bratislava, aí, sim, alargada a 27, a única ideia que os três grandes têm em comum é a necessidade de reforçar a segurança das fronteiras internas e a cooperação entre as secretas, e distribuição de forma mais justa o peso dos refugiados. Mas mesmo essa convergência, sabemos bem, foi até agora incapaz de dar resposta a qualquer desses problemas.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários