Fabricantes alemãs chamam às oficinas 630 mil veículos diesel

Volkswagen reforça para 17 mil milhões as provisões para encargos com a fraude das emissões poluentes e Daimler abre inquérito interno a pedido dos EUA.

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AFP/ Josh Edelson

As ondas de choque do escândalo Volkswagen continuam a propagar-se à indústria automóvel alemã. Esta sexta-feira os principais fabricantes germânicos acordaram chamar às oficinas milhares de veículos para alterar o software de medição de emissões poluentes incorporado nos motores diesel e, além disso, a Daimler (dona da Mercedes) abriu um inquérito interno para detectar eventuais irregularidades nos testes ambientais.

A Reuters, citando um responsável não identificado do Governo alemão, diz que a Porsche, a Volkswagen, a Opel, a Audi e a Mercedes vão recolher 630 mil veículos como parte de um esforço conjunto para limitar as emissões de óxidos de azoto (NOX) dos veículos a gasóleo. Já a Bloomberg (que cita a revista alemã Bild) diz que o objectivo é alterar um sistema que está desenhado para desligar o controlo de emissões poluentes quando os motores atingem determinadas temperaturas.

Ainda não é claro se esta chamada às oficinas é voluntária ou obrigatória. Para já, espera-se que o ministro alemão dos Transportes, Alexander Dobrindt, divulgue os resultados dos testes que as autoridades alemãs efectuaram aos motores dos veículos a gasóleo na sequência do escândalo da Volkswagen. Recorde-se que a gigante alemã reconheceu em Setembro do ano passado (depois de uma denúncia das autoridades ambientais norte-americanas) ter instalado em mais 11 milhões de veículos um software fraudulento que permitiu falsear durante vários anos os resultados dos testes das emissões poluentes.

Desde então, estes sistemas passaram a estar sob escrutínio apertado das autoridades em vários países e a credibilidade da empresa, e do sector automóvel como um todo, tem sido posta à prova. Nos últimos dias, além do Governo japonês ter anunciado que mandou investigar a Mitsubishi depois de a fabricante ter reconhecido a manipulação de dados ambientais, também a Peugeot Citroen (PSA) admitiu que os seus escritórios foram alvo de buscas do departamento francês de combate à fraude. A empresa liderada pelo português Carlos Tavares assegurou que cumpre as regras ambientais e que está a prestar “toda a colaboração” às autoridades.

Na Alemanha, a chamada às oficinas destes 630 mil veículos inclui empresas do grupo Volkswagen (como a Porsche e a Audi), mas também outras que já estão sob suspeita, como a Mercedes. Em Fevereiro, a EPA, a agência ambiental dos Estados Unidos abriu uma investigação preliminar sobre as emissões de veículos da marca e, esta sexta-feira, a Daimler (casa mãe da Mercedes-Benz) anunciou que deu início, a pedido do departamento de Justiça norte-americano, a um processo de averiguações interno para detectar eventuais irregularidades.

Enquanto isso, soube-se que a Volkswagen mais que duplicou para 17 mil milhões de euros o valor das provisões que tinha constituído para fazer face aos encargos com indemnizações e processos judiciais associados ao escândalo das emissões. A empresa anunciou esta semana que chegou a acordo com o departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre as indemnizações a pagar aos proprietários dos veículos com motores a gasóleo manipulados: a fabricante prepara-se para pagar o equivalente a 4400 euros a cada cliente (até agora nada foi anunciado para o caso europeu) e, além disso, assumir os custos de reequipamento dos veículos com software apropriado.

A Reuters escreve ainda que a empresa poderá comprar os automóveis aos proprietários que pretendam desfazer-se deles. Em causa estarão pelo menos meio milhão de clientes que já têm processos em tribunal contra a Volkswagen. Os termos finais do acordo só deverão ser conhecidos em Junho, mas a Reuters refere que o custo para a empresa poderá chegar aos dez mil milhões de euros.

 

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