Matosinhos e Vila Real querem usar cultura para chamar os vizinhos

As duas cidades partilham, a partir de Maio, o título de capital cultural do Eixo Atlântico. Programação cultural suportada por investimentos de 5 milhões de euros.

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O teatro municipal de Vila Real foi inaugurado há dez anos Paulo Pimenta

Matosinhos e Vila Real vão ser Capital da Cultura do Eixo Atlântico durante este ano. As duas cidades iniciam formalmente o certame em Maio, investindo ao todo cerca de 5 milhões de euros na programação cultural, cujos contornos foram apresentados esta segunda-feira, em Braga. O objectivo central das duas autarquias é atrair visitantes entre os mais de 7 milhões de habitantes que pertencem à euro-região que inclui o Norte de Portugal e a Galiza.

As duas capitais culturais partilham o tema para a sua programação: “Do Douro Ao Atlântico”. Este mote foi também usado, durante a apresentação do certame, pelos presidentes das duas câmaras, para salientar a necessidade de fazer circular o público entre as várias cidades. “A nossa A4 termina em Matosinhos”, sublinha o autarca de Vila Real, Rui Santos. As melhorias da ligação ferroviária do Porto à Galiza e a abertura do túnel do Marão são também apontados como factores que podem contribuir para aumentar as relações dentro da região.

“Estamos a uma hora de distância da fronteira. Isso é o que, em muitas grandes cidades, as pessoas gastam para chegar ao trabalho”, exemplifica Guilherme Pinto, presidente da câmara de Matosinhos. O autarca espera, por isso, receber a visita, ao longo dos próximos meses, de habitantes de outros concelhos da euro-região. Para isso, é preciso que a região “abandone algum paroquialismo e as pessoas passem a frequentar as coisas que fazem os seus vizinhos”, vinca.

A programação das capitais da cultura do Eixo Atlântico arranca no fim-de-semana de 5 e 6 de Maio, prolongando-se até Outubro. Começa primeiro Vila Real, com um concerto da Orquestra Gulbenkian, com Mário Laginha como convidado, que estreia ao vivo o seu Concerto para Piano e Orquestra. No dia seguinte é a vez de Matosinhos, que faz a festa na rua, com um espectáculo de vídeo mapping na fachada do edifício da câmara municipal.

Os dois projectos são bastante diferentes. Matosinhos faz coincidir o título com um programa de regeneração urbana, que criará novas praças na cidade, um memorial a Passos Manuel e um monumento de homenagem aos trabalhadores da indústria conserveira. O conjunto de investimentos programado pela autarquia matosinhense prevê também a construção de novos equipamentos culturais como a Casa da Arquitectura, a Casa da Memória, a Casa do Design, o Museu da Aviação e o lançamento do projecto de um museu da diáspora.

Em termos de programação cultural, Matosinhos destina 3 milhões de euros para suportar os vários eventos, reforçando a aposta em organizações habituais na cidade, mas que terão este ano uma visibilidade diferente por via do título regional. São exemplo disso o Festival de Literatura em Viagem (13 a 15 de Maio), o festiva de música e dança Romani (18 de Junho), a Beach Party na praia de Leça (1 e 2 de Julho) ou as várias recriações históricas das eras romana e medieval.

Ao contrário de Matosinhos, Vila Real não fará grandes investimentos infra-estruturais. O presidente da autarquia, Rui Santos, considera que o concelho está já bem servido de equipamentos culturais, como o Teatro Municipal, inaugurado há dez anos. Por isso, as apostas para a Capital da Cultura do Eixo Atlântico são sobretudo na programação, que tem um orçamento de cerca de 2 milhões de euros.

Entre os mais de 200 espectáculos previstos no programa de Vila Real, há uma grande concentração em torno de dois eventos que atraem habitualmente bastante público à cidade transmontana, as Festas da Cidade e o Circuito Internacional de Carros de Turismo, ambos no mês de Junho. Da programação constam também o Salão Luso-Galaico de Caricatura (Setembro), o Festival Douro Jazz (Outubro), uma Quinzena da Dança, entre o final de Agosto e o início de Setembro, e uma festa de cariz etnográfico em torno da vinho e do vinho.

Esta é a primeira vez que o título de Capital da Cultura do Eixo Atlântico é partilhado por duas cidades. A programação foi, por isso, trabalhada conjuntamente pelas duas autarquias, ainda que haja dias em que haverá alguma sobreposição de propostas. “Não faltará gente para todos os espectáculos”, acredita Guilherme Pinto. Ao longo do ano, as duas cidades vão continuar a trabalhar para coordenarem a sua programação, seguindo um modelo inspirado na Capital Europeia da Cultura – que também é um título partilhado. Nesse sentido, foi criado um comité coordenador com as equipas das vereações de cultura dos dois municípios.

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