O paradigma das empresas ibero-americanas: um imperativo nacional

As empresas ibero-americanas são uma realidade e encerram um potencial que nos cabe, a nós, reclamar.

Quando a vice-presidente de uma empresa avaliada em 340 mil milhões de dólares afirma que o maior mercado emergente do mundo não é a Índia ou a China, mas as mulheres, somos confrontados com uma mudança de paradigma. Para Peggy Johnson, da Microsoft, uma economia emergente já não é simplesmente um país ou uma região, mas antes uma realidade económica mais ampla, independente de fronteiras.

Esta nova forma de encarar os negócios globais, aliada às recentes convulsões na economia mundial e à desconfiança que os mercados têm manifestado face às economias emergentes, deve fazer-nos refletir sobre a urgência de uma nova estratégia para as empresas portuguesas.

No contexto atual, é preciso fazer conciliar as ferramentas mais eficazes da globalização com as abordagens mais disruptivas que as crises nos obrigaram a desenhar, aliando as oportunidades descobertas nos mercados emergentes com os nossos progressos enquanto economias desenvolvidas.

Ora, é no espaço ibero-americano que encontramos uma resposta a este desafio. Trata-se de uma realidade com 500 anos de existência, que não só não desapareceu com as independências dos países da América Latina, como se fortaleceu por via das afinidades culturais, por um lado, e dos interesses económicos, por outro. Com mais ou menos revezes, a Ibero-América, enquanto comunidade de valores e de ambições comerciais, existe desde o primeiro dia em que portugueses e espanhóis desembarcaram no continente americano.

Chegados a 2016, o número de empresas portuguesas e espanholas na região ultrapassa as centenas, mas o movimento contrário é cada vez mais presente: por exemplo, o segundo maior acionista do Banco Popular, em Espanha é Antonio del Valle – 10.º homem mais rico do México, com uma fortuna estimada em 4.200 milhões de dólares e líder de um consórcio com presença em mais de 70 países.

É precisamente pela consciência do potencial latente para as empresas portuguesas nesta comunidade ibero-americana que o Instituto para a Promoção e Desenvolvimento da América Latina organiza, pelo segundo ano, o Encontro Ibero-americano de Cascais.

O objetivo é simples: reunir os principais decisores empresariais para que, em Portugal, se discuta o futuro das grandes empresas portuguesas e espanholas na região, procurando soluções conjuntas para desafios comuns. Hoje, dia 1 de Fevereiro, em parceria com a Fundación Iberoamericana Empresarial e a Câmara Municipal de Cascais, o IPDAL recebe nomes como Repsol, Indra, Banco Sabadell, Iberdrola, BID e CAF para, à porta fechada, discutirem com as empresas portuguesas o futuro dos seus investimentos e negócios na América Latina.

Com efeito, Enrique V. Iglesias, o ex-Secretário-Geral da Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB), dizia-nos que os investimentos ibero-americanos são um processo espontâneo, sem influência de “nenhuma ação política deliberada de orientação do investimento, mas uma consequência das decisões de empresários e investidores” e que esse movimento constitui “uma das evidências mais fortes da existência de uma comunidade ibero-americana”.

Quando falamos de mercados emergentes, temos de recordar-nos de Peggy Johnson e olhar não só para países mas para as comunidades de valores, em crescimento e das quais fazemos, naturalmente, parte. As empresas ibero-americanas são uma realidade e encerram um potencial que nos cabe, a nós, reclamar.

Secretário-Geral do IPDAL – Instituto para a Promoção e Desenvolvimento da América Latina

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