Dilúvio é uma coisa utópica: a delicadeza amparada pela fúria”

O cantor e compositor Dani Black, um dos jovens talentos da música paulista, inicia esta quarta-feira no São Luiz uma digressão de seis concertos.

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Dani Black: “Sou um bicho do palco, o meu grande lance é fazer shows” DR

Descendente de músicos não tem de ser, obrigatoriamente, músico. Mas Dani Black, filho de Arnaldo Black e de Tetê Espíndola, seguiu as pisadas dos pais. Nascido em 8 de Dezembro de 1987, na cidade de São Paulo (“sou paulistano e paulista”, diz), tem uma “raiz forte” no Mato Grosso do Sul, porque a mãe é de lá. “E mais toda a minha família, que são 20 primos, oito tios músicos… Uma família bem tradicional.” Já tocou em Portugal, junto com Chico César, em 2012, e volta para uma série de seis concertos em várias cidades, a começar em Lisboa. Traz um disco novo na bagagem: Dilúvio.

“Desde que eu me entendo por gente, não me lembro de nenhuma época em que não tenha tido uma relação forte com a música.” Começou a tocar violão com sete anos. “Quando faltava a luz lá em casa, a família junta, para se distrair e enfrentar o escuro, ficava fazendo som à luz de velas.” O pai segurava o braço do violão, ia marcando os acordes com a mão esquerda, e ele tocava nas cordas para cantar o que queria. Foi aí que começou o seu gosto pelas cordas. “Aos nove anos fiz aulas de violão, fui iniciado em música e não parei mais. Foi uma coisa natural. Quando nos perguntam o que queremos ser quando crescermos, não pensamos em trabalho, pensamos em vontade. E eu sempre respondi que queria ser o ser humano que trabalha com música. O ser humano músico.”

Antes de se lançar a solo, Dani formou uma banda chamado 5 a Seco. E integrou-a durante um ano. “É uma super-banda de cinco amigos meus, fundei a banda com eles.” Mas a sua formação musical tem bases mais antigas. “Eu sempre ouvi os grandes cancioneiros do Brasil, Gil, Caetano, Djavan, Milton Nascimento… Depois, essa geração posterior à deles, Lenine, Chico César. Depois tive contacto com a guitarra e fui ouvir muita música instrumental, muito jazz, música alternativa, world, descobri Bobby McFerrin, Herbie Hancock, Miles Davis. E, por, fim, ouço as pessoas da minha geração. Que são pessoas que se escutam, que seguem as novidades de cada um. Ouço-os muito e sinto-me muito ouvido também. Os ouvidos ali estão sempre muito atentos.”

Mas quando lhe perguntam se alguém o influenciou particularmente, ele responde que a sua música resulta da síntese de tudo o que ouviu. “Acho que é uma mistura boa disso. Essa riqueza da canção, da poesia junto com a musicalidade, é rica de mais no Brasil. Há um tio meu, Geraldo Espíndola, que é um super-cancioneiro do Mato Grosso do Sul (embora não seja conhecido no Brasil) e que me influenciou tanto quanto o Djavan. E há o Chico César, que chegou a ser meu babysitter quando eu era pequeno e que é praticamente da família. Até já fiz um show em Portugal, só eu e ele, juntos [foi no Espaço Brasil da Lx Factory, em Lisboa, a 21 e 22 de Dezembro de 2012].”

“Um bicho de palco”
“Sou um bicho do palco, o meu grande lance é fazer shows”, diz. Mas é também um “compositor meio compulsivo”: “Desde a capella, andando na rua, até ao violão ou ao piano. Não escrevo música, componho organicamente. A própria composição é um estúdio musical, aprende-se muita harmonia, muitos caminhos diferentes. E também estudei música, brasileira, jazz, o que me deu muitas ferramentas. Mas para mim o que importa na composição é a mensagem, é o que eu quero dizer. Esse é o meu fio condutor. E uso as ferramentas musicais para vestir as mensagens.”

O seu novo disco, Dilúvio, que apresenta nesta digressão portuguesa em solo absoluto, também parte desse mesmo princípio. “É um disco pop, na procura do groove perfeito (já o Marcelo D2 dizia que procurava a batida perfeita, e eu adoro isso), tem essa perfeição pop de achar os timbres e as texturas. Que nem sempre se encontram como se quer, mas no final o que vale é a procura. Porque é na procura que surgem coisas que a gente nem estava procurando. No Dilúvio aconteceu muito isso.”

Mas o que é este Dilúvio, para Dani Black? “É essa conversa entre a delicadeza poética, das metáforas, a construção bem arquitectada das letras e das imagens que eu quis fazer, essa minuciosidade, amparada pela fúria do som. O que é um dilúvio? É uma coisa implacável da natureza, uma coisa furiosa, destruidora, potente! Mas ao mesmo tempo é uma palavra tão poética, tem uma delicadeza tão grande. Então ela simboliza a mistura que este disco propôs e que é uma coisa utópica: a delicadeza amparada pela fúria.”

Dani Black apresenta-se em Portugal em solo absoluto (voz, violão, guitarra eléctrica e pedais). Esta quarta-feira, 27 de Janeiro, estará no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, às 21h (entrada livre, com levantamento de bilhetes antes do espectáculo), seguindo-se Sines, no dia 29 (Auditório Municipal, 22h), Tavira, dia 30 (Casa do Povo de Santo Estevão, 22h), Porto, dia 1 de Fevereiro (Casa da Música, sala 2, 21h30), Coimbra, dia 2 (Salão Brasil, 22h) e Braga, dia 3 (Espaço Cultural Pedro Remy, 22h).

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