Morreu Robert Stigwood, que guiou os Bee Gees e criou Saturday Night Fever

Os Bee Gees foram a sua grande descoberta, e foi na intersecção entre a música, o cinema e as artes de palco que fez a sua carreira. A Febre de Sábado à Noite, Grease ou Jesus Cristo Superstar têm a sua marca.

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Robet Stigwood cruzou-se com os The Who ou Eric Clapton, mas o seu maior feito foi ter criado o estrelato dos Bee Gees REUTERS/Adrees Latif

A carreira de Robert Stigwood atravessou a contracultura da Swinging London e levou-o a instalar-se bem no centro da cultura popular. Nascido na Austrália, emigrado para Inglaterra na década de 1950, foi produtor dos The Who ou dos Cream de Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker, mas seriam os Bee Gees, que conduziu ao sucesso, o grupo do qual se manteve mais próximo. A Febre de Sábado à Noite, o filme e a respectiva banda-sonora, foram criação sua – como Grease, a versão cinematográfica de Tommy e Jesus Cristo Superstar, ou o Hair apresentado no West End londrino.

Soubemo-lo através da página de Facebook de Spencer Gibb, filho do Bee Gees Robin Gibb e afilhado de Stigwood: “Gostaria de partilhar com todos a triste notícia de que o meu padrinho, e manager da minha família, Robert Stigwood, morreu”. Stigwood tinha 81 anos. “Adeus, meu amado Robert, o grande homem do espectáculo que me ensinou tanto”, escreveu no Twitter Andrew Lloyd Weber, que com ele colaborou, por exemplo, no supracitado Jesus Cristo Superstar. Tim Rice, o letrista de Webber, na mesma plataforma classificou Stigwood como “uma componente vital” da sua vida.

Nascido a 16 de Abril de 1934 em Adelaide, chegou a Londres 21 anos depois. O seu primeiro emprego, enquanto responsável nocturno de uma instituição de acolhimento de adolescentes com deficiência, não indiciava o que se seguiria. O seu interesse no mundo do espectáculo conduziu-o à fundação de uma agência teatral e seria aí, na Robert Stigwood Associates Ltd, que o acaso exerceria influência decisiva, quando um dos actores que agenciava, John Leyton, se torna um sucesso inesperado enquanto cantor. O universo da pop e as artes de palco unidas – Stigwood seria, a partir daqui, um homem que navegava com mestria e aguçado sentido de negócio entre as duas.

Trabalhou com Joe Meek, o mítico produtor que foi equivalente britânico ao mais bem-sucedido Phil Spector, produziu Substitute, single dos The Who, em 1966 e, no mesmo ano, começou a dirigir a carreira dos Cream, o trio que durante o breve período em que se manteve activo (1966-1968) foi uma das bandas mais populares e celebradas do universo rock. Quando estes se despedem, manteve-se como manager de Eric Clapton. Nessa altura, porém, já se havia cruzado com um trio de ingleses regressados a Inglaterra depois de anos emigrados na mesma Austrália de onde saíra Stigwood. Chamavam-se Maurice, Robin e Barry Gibb: os Bee Gees.

Robert Stigwood chegara aos cantores de To love somebody através de uma recomendação de Brian Epstein, o manager dos Beatles, para quem trabalharia até à morte deste, em 1967. A partir daí, com o nascimento da RSO, Robert Stigwood Organisation, o seu raio de acção expandiu-se definitivamente. Reuniu junto a si o compositor Andrew Lloyd Weber e o letrista Tim Rice e, enquanto produtor, levou ao cinema Tommy, Jesus Cristo Superstar e Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, baseado no famoso álbum dos Beatles. Esteve também por trás de Grease e, já nos anos 1990, vimos o seu nome incluído nos créditos de Evita, o filme de Alan Parker com Madonna e Warren Beatty – o seu último crédito enquanto produtor.

Porém, o momento mais marcante na sua carreira será inegavelmente A Febre de Sábado à Noite, que revelou John Travolta e que transformou o disco-sound num fenómeno de massas. O sucesso do filme não o terá surpreendido. Já o impacto da banda-sonora foi inesperado. Recorda o obituário da Rolling Stone, citando memórias de Barry Gibb, que Stigwood pedira à banda uma sucessão de ambientes que servissem as imagens. “Quero frenesi no início. Depois quero um pouco de paixão. E depois quero um frenesi selvagem”. Uma curtíssima semana depois, os Bee Gees tinham preparadas canções como Stayin’ alive Night fever, More than a woman ou How deep is your love.

Stigwood, cuja carreira até então já lhe garantia um lugar na história do entretenimento britânico, tornava-se responsável por um verdadeiro marco cultural que atravessou o tempo. Tudo por causa de um filme de orçamento reduzido para o qual pedira aos seus Bee Gees um par de canções.

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