Enfermeira que sobreviveu ao ébola teve recaída e o seu estado é crítico

A doente é uma mulher britânica que fora contaminada pelo vírus há meses, durante uma missão à Serra Leoa para combater a epidemia naquele país.

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Pauline Cafferkey durante o seu primeiro transporte para o hospital de Londres, em Dezembro de 2014 AFP / STR

A enfermeira britânica Pauline Cafferkey, contaminada pelo vírus do ébola e a seguir declarada livre da doença em Janeiro, teve uma recaída e está hospitalizada em estado “crítico” no Royal Free Hospital de Londres.

“É com tristeza que anunciamos que o estado de saúde de Pauline Cafferkey se deteriorou e que ela está actualmente em estado crítico”, declarou aquele hospital num comunicado, acrescentando que está “a ser tratada devido ao ébola numa unidade de isolamento”.  

Esta mulher de 39 anos foi hospitalizada na passada sexta-feira após ter sido transferida de avião militar do Hospital Queen Elizabeth de Glasgow, onde estava internada desde terça-feira, 6 de Outubro.

A recaída suscitou a raiva da sua família, que pensa que o seu estado poderia ter sido diagnosticado mais cedo. A enfermeira tinha sido examinada nas urgências do hospital de Glasgow, na segunda-feira à noite, por um médico que a mandou para casa.

“A minha família e eu acreditamos que [os médicos] falharam uma imensa oportunidade de fazer o diagnóstico certo”, declarou a irmã da doente, citada pelo semanário britânico Sunday Mail.

Perante um eventual risco de propagação do vírus, as autoridades de saúde britânicas estão a monitorizar 58 pessoas que estiveram em contacto com a enfermeira. Propuseram vacinar 40 dessas pessoas – e 25 já receberam o tratamento. Os contactos da doente são essencialmente familiares, amigos e colegas de trabalho.

Pauline Cafferkey, originária do Sul da Escócia, tinha sido testada – e a infecção pelo ébola confirmada – após o seu regresso da Serra Leoa, onde trabalhara para a ONG Save the Children no centro médico de Kerry Town.

Não podendo receber o medicamento experimental ZMapp (à base de anticorpos), tinha aceitado, em vez disso, um tratamento antiviral experimental acompanhado da administração de plasma sanguíneo proveniente de uma pessoa que tinha sobrevivido à infecção pelo ébola. Pauline Cafferkey fora declarada “totalmente recuperada” a 24 de Janeiro de 2015, depois de uma estadia de perto de um mês na mesma unidade de isolamento do Royal Free Hospital onde hoje se encontra.

Na altura, foi saudada no seu país pela sua coragem. A 28 de Setembro, foi galardoada com um "prémio do orgulho britânico” (Pride of Britain Awards) e recebida em Downing Street pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron.

Segundo o jornal Guardian, na véspera da sua entrada no hospital de Glasgow, a enfermeira visitou uma escola primária. Contudo, salienta ainda aquele diário britânico, a maioria dos especialistas pensa que é pouco provável que seja contagiosa, uma vez que não há indicação de que a nova manifestação da doença tenha dado origem a vómitos ou hemorragias, que constituem as vias de transmissão do vírus.

Para Ben Neuman, especialista da Universidade de Reading, esta recaída “é o segundo caso [conhecido] de reactivação do vírus do ébola, sendo o outro o de um sobrevivente que viu um dos seus olhos passar de azul a verde devido a uma infecção persistente”.

Como explicava há dias John Edmunds, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, "o vírus do ébola pode ocasionalmente persistir durante alguns meses em certos tecidos do organismo daqueles que sobreviveram à infecção. O risco de transmissão apresentado por estas pessoas parece muito baixo mas, dado o número de sobreviventes que vivem na África Ocidental, existe sempre a possibilidade de novas epidemias se declararem" naquela região.

A epidemia de ébola na África Ocidental é a mais grave de sempre desde que o vírus foi identificado na África Central em 1976. Segundo os mais recentes dados disponíveis, desde o seu o início em Dezembro de 2013 já infectou um total de 28.457 pessoas, matando 11.312.

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