Crise migratória na mira do Nobel da Paz, mas ainda se aceitam apostas

Acordo do Irão, negociações de paz na Colômbia ou resistentes ao regime de Putin, as hipóteses são várias para o nome que será revelado na sexta-feira.

Foto
Desde o início do ano mais de 630 mil pessoas tentaram chegar à Europa Yannis Behrakis/Reuters

Da crise migratória aos esforços contra as armas nucleares, há várias pistas para o Prémio Nobel da Paz de 2015 que vai ser anunciado em Oslo na sexta-feira. Entre os nomes falados estão Angela Merkel e o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), dirigido por António Guterres.

Único Nobel atribuído na Noruega, sendo os outros anunciados em Estocolmo, o da Paz é aquele que suscita mais prognósticos e apostas, um exercício complicado já que a lista das candidaturas é secreta e este ano conta com 273 nomes.

Vários peritos consideram que o foco do prémio devia ser a crise migratória, já que desde o início do ano mais de 630 mil pessoas fugiram de conflitos e miséria no Médio Oriente e em África para procurarem refúgio na Europa, testando assim a generosidade do Velho Continente.

Segundo o director do Instituto de investigação sobre a paz de Oslo (Prio), Kristian Berg Harpviken, o nome da chanceler alemã impõe-se. “Foi Angela Merkel que assumiu verdadeiramente a liderança moral” na crise dos refugiados, diz

Ainda neste contexto, o ACNUR, que já recebeu o prémio em 1954 e 1981, e o padre católico eritreu Mussie Zerai, que ajuda a salvar migrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo, são os favoritos da Nobeliana, um colectivo de historiades especialista do Nobel.

Apesar da violência e tragédia na Síria, no Iraque e em África, o ano de 2015 também ficou marcado por alguns avanços em direcção à paz. No Irão, as grandes potências e o regime chegaram a uma acordo em Julho que deverá evitar que o país se equipe com a bomba nuclear a troco de um levantamento progressiva das sanções de que é alvo. “Penso que o trabalho do comité Nobel ficou subitamente mais fácil”, escreveu na altura na sua conta do Twitter, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Carl Bildt.

O prémio poderá ser entrege aos principais artesãos do acordo, os chefes da diplomacia americana, John Kerry, e iraniana, Javad Zarif, com “talvez “, a representante da diplomacia europeia, Federica Mogherini ou Catherine Ashton, que ocupava anteriormente este posto, avançou Peter Wallensteen, professor da Universidade de Uppsala, na Suécia..

Na Rússia “um pecado por omissão”
O comité Nobel poderá também perpetuar uma tradição de recompensar os esforços contra o uso militar da energia atómica ao longo das últimas décadas desde os bombardemanetos de Hiroshima e Nagasaki em 1945. Em 1975, foi o dissidente soviético Andreï Sakharov que foi premiado; em 1985 foi a Associação Internacional dos médicos para a prevenção da guerra nuclear; em 1995 foi Joseph Rotblat e o movimento Pugwash que luta por um mundo livre de armas nucleares; e em 2005 foi a vez da Agência Internacional da Energia Atómica e o seu director Mohamed El-Baradei.

Assim, Peter Wallensteen e a Campanha internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican, na sigla inglesa) pode ser também uma alternativa.

Outro desenvolvimento recente, nas negociações de paz na Colômbia, o governo e a guerrilha das FARC ultrapassaram uma etapa decisiva com um acordo, no mês passado, sobre a justiça e comprometeram-se a assinar novo texto antes de 23 de Março de 2016. Mas, como no caso do acordo iraniano, um Nobel ao Presidente, Juan Manuel Santos, e ao chefe da guerrilha, Timoleon Jimenez, poderá ser um pouco prematuro, considera Asle Sveen, um membro da Nobeliana.

Entre os outros candidatos, encontram-se os suspeitos do costume, como o Papa Francisco pelo seu empenhamento na justiça social e na defesa do ambiente, assim como o médico Denis Mukwege, que trata das mulheres vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo.

Cada edição do Nobel da paz conta igualmente com o lote de personalidades e organizações russas que se destacam pela sua independência e oposição ao Presidente Vladimir Putin: as militantes Svetlana Gannouchkina e Lioudmila Alexeeva; as organizações não-governamentais Memorial e Agora; ou ainda o jornal Novaïa Gazeta... “Isto começa a parecer um pecado por omissão de não dar um prémio da paz relacionado com a Rússia”, considera Kristian Berg Harpviken

Também se aceitam apostas para o blogger saudita, Raef Badaoui, condenado à prisão e a chibatadas; e para o antigo analista da NSA, Edward Snowden, que expôs o esquema de espionagem em massa dos EUA. Claro que o comité Nobel pode sempre tirar o seu próprio coelho da cartola. A resposta será conhecida na sexta-feira às 10h (hora de Lisboa).

Sugerir correcção
Comentar