Portugueses estão a ficar cansados das entrevistas aos líderes partidários?

Audiências televisivas das entrevistas têm vindo a baixar. Esta terça-feira há frente-a-frente entre Catarina Martins e Paulo Portas na SIC; na quarta defrontam-se Costa e Passos.

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António Costa e Pedro Passos Coelho vão enfrentar-se esta quarta-feira no único debate televisivo entre os dois líderes partidários nestas legislativas. MIGUEL A. LOPES/POOL/LUSA

Ainda a campanha eleitoral oficial está a 12 dias de distância e o eleitorado já estará a perder o interesse pelo que dizem os políticos? Olhando para as audiências das entrevistas televisivas nos últimos dois meses, a resposta parece ser cada vez mais afirmativa. Mas ainda falta a maior parte dos frente-a-frente – hoje Catarina Martins e Paulo Portas enfrentam-se na SIC Notícias (21h15) e amanhã será o grande duelo entre António Costa e Pedro Passos Coelho, transmitido pelos três canais de sinal aberto (20h30).

As audiências das entrevistas de Catarina Martins (659 mil espectadores) e Jerónimo de Sousa (547 mil espectadores) à RTP1 na semana passada ficaram bem abaixo da média das entrevistas dos mesmos líderes partidários em Julho na SIC (980 mil e 893 mil, respectivamente) e do programa Tenho uma pergunta para si emitido na TVI. Este modelo de programa foi, aliás, o preferido do público, arrebatando sempre mais de um milhão de espectadores.

De acordo com dados da GfK trabalhados pela Marktest/MediaMonitor, a 27 de Agosto, Jerónimo de Sousa foi visto por 1,056 milhões de pessoas na TVI e por quase 150 mil logo a seguir, na TVI24, onde continuou a entrevista. A porta-voz do Bloco ainda não esteve na TVI.

A somar às fracas audiências das últimas entrevistas está o facto de o primeiro frente-a-frente destas legislativas se ter realizado na RTP Informação: a 1 de Setembro, os 50 minutos do debate entre Catarina Martins e Jerónimo de Sousa foram seguidos por 115.700 espectadores. Também é certo que o canal de notícias público só está disponível nas plataformas pagas do cabo e o mesmo acontece com a SIC Notícias, onde esta terça-feira acontece o segundo frente-a-frente.

Entretanto, Pedro Passos Coelho foi entrevistado no sábado à noite pela CMTV, depois de Jerónimo de Sousa e António Costa terem passado pelo mesmo canal em dias anteriores. Na análise pedida pelo PÚBLICO à Marktest/MediaMonitor, para o período entre as 20h45 e as 22h, o líder do PSD foi visto por 29.100 pessoas, enquanto Costa teve 25.400 espectadores. Jerónimo de Sousa bateu-se, pelo menos na televisão, à altura e conseguiu mesmo ultrapassar os líderes dos dois maiores partidos, ao registar 33.300 espectadores.

A ida de Passos Coelho à CMTV, antes mesmo de aceder ao pedido de entrevista da RTP1, deixou no ar a ideia de que o líder da coligação poderia não ir ao canal público nem a mais nenhuma televisão até às eleições. Ou estar, pelo menos, à espera de ver como corre o debate de amanhã com o seu principal adversário.

O director de campanha da coligação, José Matos Rosa, recusa tal cenário e garante ao PÚBLICO que ainda não está fechado o calendário das entrevistas de Pedro Passos Coelho ou de Paulo Portas. “A seu tempo responderemos a todos os pedidos das televisões. Só dissemos que não ao Ricardo Araújo Pereira”, afirmou José Matos Rosa. Ao programa de humor dedicado às eleições Isso é tudo muito bonito, mas… que vai para o ar na TVI a partir de dia 14, PSD e CDS vão mandar Paulo Portas, “um dirigente máximo da coligação”, reforça o director de campanha.

Sobre a entrevista à CMTV, José Matos Rosa reforça que “todos os líderes partidários” foram entrevistados por aquele canal e Pedro Passos Coelho, “que já tinha sido convidado outras vezes, já tinha há muito tempo que lá ia. Não quis deixar de cumprir o que tinha prometido”. A CMTV foi lançada em Março de 2013 mas continua a estar disponível apenas numa das plataformas de televisão paga.

Perfis de espectadores
Olhando para o perfil da audiência das entrevistas de Jerónimo, Costa e Passos à CMTV, percebe-se que o líder do PCP foi muito mais visto por homens (75,7%) do que por mulheres, mas com Costa (66%) e Passos (57,5%) essa tendência é menor. A audiência de Costa esteve sobretudo a Norte (61,8% e apenas 28,5% em Lisboa), assim como a de Passos (49% no Norte; 20,1% em Lisboa), mas o líder comunista dividiu-se entre o Norte (26,2%) e o Algarve (26,8%), e teve um quinto dos espectadores em Lisboa. Teve 10,6% no Alentejo, contra os 1,3% obtidos por Costa e 1,6 % por Passos.

Na análise por classes, Jerónimo de Sousa foi visto sobretudo pelas classes C (36,1%) e D (43,3%), enquanto a classe B (ou seja, classes média e média alta) preferiu Costa (55,7%), e Passos acabou por ser mais visto pela D (50,6%).

Olhando para as faixas etárias, um terço dos espectadores de Passos eram reformados (apenas 23,4% para Costa e 14,5% de Jerónimo), e um quarto (24,1%) foram pessoas entre os 15 e os 34 anos, a faixa onde o desemprego é maior (Costa teve 6,9% nesta faixa e Jerónimo 16,7%).

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