Justino Alves – querido amigo, Homem da Nação

Partiste precocemente e não me deste possibilidade presencial de te continuar a acompanhar como sempre fiz! Venceste um primeiro cancro há longos anos, mas este último para além de insidioso foi rápido na sua eficácia destruidora.

O João, como era por todos tratado, foi um amigo recente que ajudei a curar a sua primeira e grave doença e com o qual tive a felicidade de ao longo de 14 anos conhecer, conviver e iniciar uma amizade crescente e sempre sólida. Tivemos cumplicidades e confidências únicas as quais me permitiram reconhecer que era um homem simples, honesto, de personalidade vincada, fiel aos seus compromissos, e sempre pronto a ajudar os seus amigos e a sua família. Lembro que as suas grandes paixões, para além da pintura, era o amor da sua vida, sua mulher Madalena, e o dos seus filhos. Muitas vezes teve de impor restrições na sua casa e convívio, para acudir a situações familiares que considerava ter necessidade de colmatar.

Era um grande Mestre da pintura contemporânea que levou as suas obras, a pintura nacional, para além das fronteiras nacionais a vários países e continentes.

A sua simplicidade era diametralmente oposta à sua magnitude de Mestre e de pintor. Era um perfeccionista, procurando sempre evoluir e melhorar a sua obra. Várias vezes me confidenciou que em muitos dias não gostava do que fazia, tendo de recomeçar tudo de novo. Não sou crítico de arte, mas sei reconhecer o que é indiscutivelmente bom e, por isso, sei que a obra de Justino Alves perdurará como marca na pintura contemporânea.

O João era um sedutor, um bom coração, um batalhador, um trabalhador emérito ao serviço da cultura nacional, um defensor acérrimo de melhores condições para todos os artistas plásticos, colocando-se como grande figura nacional e internacional.

Era também um benemérito – há cerca de 12 anos realizou, em conjunto com o meu querido amigo Armando Alves, uma das maiores e melhores exposições de mestres da pintura nacional a favor do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Com ele tivemos uma comissão de notáveis (Valente de Oliveira, Miguel Veiga, Artur Santos Silva, Cândida Morais e Justa Oliveira). Só à distância pude compreender a fantástica exposição que se realizou, com largos benefícios para a Liga Portuguesa Contra o Cancro, e o trabalho que teve em procurar porta à porta quadros de todos os Mestres da pintura de Lisboa, onde era extremamente conceituado e tinha inúmeros amigos. Em Dezembro passado, recebeu a medalha de ouro comemorativa dos 50 anos do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

Nascido no Porto, rumou a Lisboa onde frequentou a Escola de Belas Artes, sendo posteriormente Professor catedrático dessa emérita instituição de ensino. Mas o seu desejo de conhecer, de melhorar e de conviver com grandes nomes internacionais da pintura, levou-o a longas estadias fora do país, como em Paris, onde conviveu com grandes nomes como Maria Helena Vieira da Silva e o seu marido Arpad Szenes. Posteriormente, veio morar para o Norte de Portugal. Adorava o Porto, mas reconhecia que o seu coração artístico continuava em Lisboa.

Sempre foi um grande defensor dos direitos dos mais pobres e oprimidos, tendo sido inúmeras vezes convidado a integrar comissões de honra incluindo de Presidentes da República – nunca se envolveu directamente na política e mantinha um grande distanciamento em relação a qualquer benefício que daí pudesse advir.

Senhor Presidente da República, Senhor Doutor Aníbal Cavaco Silva, penso que é imperativo que o País preste homenagem a esta figura nacional que engrandeceu a Cultura na sua vertente de Belas Artes e que teve uma acção contínua de beneficência e de luta pelos direitos dos que menos podem!

Meu querido amigo João, vou ter saudades da tua companhia!

Presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro

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