Passos Coelho pede consenso político na questão dos refugiados

António Costa respondeu a críticas que lhe foram feitas depois de ter sugerido que os refugiados podiam trabalhar nas florestas. “Nem todos os refugiados têm estudos superiores.”

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“Não creio que isso nos divida, sinceramente. E teremos todos muito que fazer e boas ideias, com certeza", disse o primeiro-ministro em Braga Miguel Madeira

A questão do acolhimento em Portugal de refugiados suscitou nesta sexta-feira várias declarações de responsáveis políticos. Em Braga, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho disse que é “muito importante que, do ponto de vista político-partidário, esta questão seja tratada de uma forma tão consensual quanto possível”. No Funchal, a ministra da Administração Interna, Anabela Rodrigues, disse que não está ainda “fixado um número de refugiados” que serão acolhidos e que há “um trabalho que está a ser desenvolvido”. Em Pombal, António Costa secretário-geral do PS, voltou ao tema. Para responder às críticas que lhe foram feitas depois de ter sugerido que os refugiados podiam trabalhar nas florestas.

“Nem todos os refugiados têm estudos superiores, nem todos são cientistas e eu também não aceito esta ideia de que a Europa só deve estar aberta para os altamente qualificados”, disse António Costa aos jornalistas. “Tem de estar aberta para todos, incluindo para aqueles que viviam no mundo rural. Se queremos dar oportunidades de uma nova vida em Portugal, temos que procurar de forma inteligente quais as melhores formas de integração.”

Horas depois destas declarações, em Braga, e questionado sobre as propostas do secretário-geral do PS para os refugiados em Portugal, o primeiro-ministro não quis fazer qualquer comentário, mas considerou ser "muito importante que, do ponto de vista político-partidário, esta questão seja tratada de uma forma tão consensual quanto possível, porque o país precisa de se mobilizar no seu conjunto para responder a esta crise humanitária".

“Não creio que isso nos divida, sinceramente. E teremos todos muito que fazer e boas ideias, com certeza.” Mais do que o anúncio do número de refugiados que Portugal vai acolher — para além dos 1500 com que se tinha comprometido — importa tratar da sua integração, disse Passos, uma vez são “pessoas que trazem situações muito difíceis na sua história pessoal, que têm necessidades de respostas muito específicas”, como a questão da língua, acesso à educação e à saúde e acesso às políticas de emprego.

“Não é uma tarefa simples, fácil, basta dizer que Portugal passou por uma crise importante em que muitas pessoas — não estavam nestas condições — mas tinham situações de desemprego, de vulnerabilidade económica e social e o Estado não pode deixar também de atender à satisfação dessas necessidades”, afirmou.

A polémica
Esta semana, Costa defendera que, face “ao estado” da floresta portuguesa com “os proprietários e os autarcas das zonas de pinhal interior a queixarem-se de falta de mão-de-obra para a manutenção do pinhal”, os refugiados podiam ter “uma nova oportunidade de vida” contribuindo ao mesmo tempo “para recuperar um património” abandonado.

Na quinta-feira à noite o vice-presidente do CDS e eurodeputado Nuno Melo acusou o secretário-geral do PS de encontrar no acolhimento aos refugiados “um pretexto para o combate à desertificação”. E acrescentou, segundo a Lusa: “Se entendemos que quem venha deve ser acolhido com humanismo não podemos ver nessas pessoas um pretexto para resolver um problema.”

No jantar-debate sobre o futuro da Europa, que abriu a Escola de Quadros do CDS-PP, em Ofir, o vice-presidente do PSD e ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, sublinhou, por seu lado, que não se deve associar à responsabilidade de acolhimento de refugiados uma “oportunidade económica”.

“O que também não pode acontecer é a propósito desta crise humanitária, como disse o secretário-geral do PS, é nisso encontrar um pretexto para o combate à desertificação, porque isso é que também não lembra a ninguém”, acrescentou Nuno Melo.

Nesta sexta-feira Costa respondeu às críticas: “A política de apoio aos refugiados não é a política de caridade, abrindo-se fronteiras para se colocar pessoas em campos de refugiados e dando um prato para as pessoas se alimentarem. É preciso dar novas oportunidades de vida.” E dirigiu-se ao grupo de jornalistas que tinha à sua volta para lhes perguntar se já tinham visitado campos de refugiados, adiantando logo a seguir que, pessoalmente, já os visitara em Ceuta e Melila (Espanha) e na Jordânia (um campo com 300 mil pessoas).

“Na Europa, temos de honrar os nossos valores, acolhendo os refugiados e dando-lhes novas oportunidades”, apontou, antes de fazer um elogio à acção do antigo Presidente da República Jorge Sampaio em relação ao acolhimento de estudantes sírios.

“Mas nem todos os refugiados têm estudos superiores”, disse. E referiu-se depois à conjuntura nacional marcada pela emigração de muitos quadros superiores portugueses, lamentando que haja neste momento “pouco emprego qualificado para oferecer”. “Nem para os nossos”, salientou.

“Não se trata de trabalhos forçados, não é obrigar alguém a fazer um trabalho para o qual não tem vocação", disse Costa. "Mas alguém julga que os refugiados são só altos quadros científicos? E não são só sírios."

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