Candidatos tentam pacificar TAP com promessas de distribuição de lucros

Garantidas três ofertas de compra pela companhia, Parpública e TAP decidem até à próxima semana se têm qualidade. Neeleman e Efromovich já estão a concorrer nas promessas aos trabalhadores, mas também têm pela frente Pais do Amaral.

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Greve de dez dias convocada pelo sindicato dos pilotos gerou preocupação aos investidores AFP PHOTO / PATRICIA DE MELO MOREIRA

Se dúvidas restassem sobre os receios que a instabilidade laboral na TAP gerou nos candidatos à compra da companhia, ficaram agora desfeitas com as promessas que dois deles fizeram nas últimas horas. Tanto David Neeleman, como Germán Efromovich, que na sexta-feira entregaram ofertas pela empresa a par do empresário português Miguel Pais do Amaral, querem passar a mensagem de que vão distribuir lucros pelos trabalhadores se ganharem a corrida. A guerra agora é a das percentagens, já que um aponta para 10% e o outro diz que pode chegar aos 20%.

A sucessão de greves na empresa e a contestação de alguns trabalhadores à venda foi, à semelhança da posição crítica do PS, um dos temas que mais preocupou aqueles dois investidores na hora de decidirem se avançavam com uma proposta de compra. A promessa que agora estão a fazer, e que dependerá de muitas variáveis (a começar pela existência de lucros numa transportadora que, em 2014, gerou prejuízos de 46,4 milhões de euros), pretende serenar os ânimos, a menos de uma semana de distância do fim da paralisação de dez dias convocada pelo sindicato dos pilotos, que causou um rombo de 35 milhões de euros à TAP.

Neeleman, dono da brasileira Azul e da norte-americana Jetblue, foi o primeiro a passar a mensagem, suportando-se numa prática que tem adoptado nas suas empresas. Desconhece-se, porém, com que critérios seria atribuído este prémio. Já Efromovich, que controla o grupo sul-americano Avianca, fez-se ouvir na sexta-feira, pouco depois de entregar a oferta de compra. Fonte próxima do empresário garantiu ao PÚBLICO que a proposta “inclui a obrigação de distribuição de lucros entre 10% a 20% pelos trabalhadores”. Não por todos, explicou, já que a decisão será tomada “em função do mérito”.

Estes dois candidatos têm também feito questão de sublinhar que estão preparados para aquele que é o grande desafio da TAP: as fragilidades de tesouraria. Ou seja, garantem dispor dos fundos necessários para satisfazer as necessidades financeiras da empresa. O Governo estima que a transportadora aérea necessite de cerca de 300 milhões de euros a breve trecho, mas a proposta terá de conter ainda um valor a pagar por 61% do capital que está à venda e de prever a assunção da dívida, que em 2014 atingiu 1062 milhões. Também não há dúvidas de que farão reajustes à operação da TAP.

Bem mais discreto, Miguel Pais do Amaral acabou por confirmar o interesse na TAP, juntando-se ao lote de candidatos que na sexta-feira entregaram uma oferta, através da sua holding pessoal, a Quifel Holdings. De início, o empresário português surgiu ao lado de Frank Lorenzo,  o antigo dono da norte-americana Continental mas a proposta que Pais do Amaral apresentou tem apenas a sua assinatura. 

Já Efromovich lançou-se novamente sozinho nesta corrida, num regresso depois de a primeira tentativa de comprar a TAP ter fracassado, em 2012, com a rejeição da sua proposta por parte do Governo. E de Neeleman sabe-se apenas que concorre em consórcio, até porque as regras comunitárias o impedem de controlar companhias de aviação europeias, mas a única certeza é que partilha a proposta com o empresário português Humberto Pedrosa, presidente da Barraqueiro.

Agora que o Governo garantiu um processo mais competitivo do que em 2012, quando apenas Efromovich se perfilou com candidato, falta assegurar que as ofertas apresentadas na sexta-feira têm a qualidade necessária. Até sexta-feira, a Parpública, holding estatal que detém as acções da TAP, avaliará as propostas pelo lado financeiro. A administração da companhia terá o mesmo prazo para analisar o projecto estratégico apresentado.

Com base nestes pareceres, o Governo decidirá se abre um período para negociações ou se escolhe de imediato o vencedor, mantendo a expectativa de tomar a decisão final e assinar o contrato até ao final de Junho. Mas, mesmo pacificando a TAP, a segunda grande preocupação dos investidores ainda está por resolver, já que dificilmente a transferência das acções acontecerá antes das eleições e, na sexta-feira, o secretário-geral do PS veio criticar novamente a privatização, depois de já ter garantido que tudo fará para reverter o negócio.

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