Cartas à Directora

A esquerda do nosso descontentamento!

É velho o aforismo que diz que a direita se une por interesses e que a esquerda se divide por ideologias. Ele vem do tempo da guerra civil de Espanha, após a revolução de Outubro na Rússia, que tão trágicas consequências trouxe para os republicanos do país vizinho; do tempo do pós-25 e Abril em que um sem números de partidos e grupúsculos, muitos vindos do Maio de 68, se apresentaram às primeiras eleições democráticas. Era assim mas já não faz sentido que continue a ser. Se as ditas ideologias morreram, deixando um grande vazio ideológico em toda a esquerda, não faz qualquer nexo que ela continue a aparecer perante o eleitorado completamente esfrangalhada, agora já não sob o pretexto das ideologias, mas, simplesmente, por conflitos de personalidades. Se o Partido Socialista (PS) tem deixado muito a desejar nos últimos anos e se o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda não querem sujar as mãos com alianças com o PS seria lógico que algo à esquerda acontecesse, à semelhança, aliás, do que aconteceu noutros países europeus. Até aqui tudo compreensível. O que não tem qualquer razoabilidade é que após a formação do Livre e do Tempo de Avançar, outros partidos se formem com projetos idênticos e com vontade também de ser poder. O cidadão comum de esquerda interroga-se, legitimamente, se essas organizações não poderiam entabular negociações para se apresentarem todas juntas às eleições legislativas; se há assim tanto que as separe para que tal desiderato não se cumpra; se a vaidade e a sede de protagonismo não pode ficar de lado para bem da alternativa de esquerda em Portugal! Ainda há dias, o João Miguel Tavares, na sua cronica do Público, lamentava que à direita não aparecesse outra força política distinta da coligação no poder. Eu compreendo a sua perplexidade mas ele tem que admitir que o velho aforismo ainda está presente no cenário político português. Talvez seja uma idiossincrasia lusitana ou, simplesmente, a ingenuidade sempre pueril da esquerda, em contraponto com a velha sabedoria da direita.

José Carlos Palha, Gaia

 

Não querem ou não sabem

Não sou político. Por isso, posso comentar comentadores. Não sendo hoje o meu aniversário, ainda assim me apetece sentir bem com alguma coisa. Foi o que aconteceu quando li o acutilante artigo da autoria de Cristina Semblano (Público 26/03)  que, em boa hora, apareceu neste jornal.

A observação que a autora faz, à distância mas tão perto, de alguns dos aspectos mais relevantes da nossa vida quotidiana é rigorosa e faz-me pensar que há quem não queira, certamente por mesquinhos interesses pessoais e/ou partidários, ou não consiga, por distanciamento e insensibilidade, reconhecer a realidade dura e crua que os portugueses actualmente vivem. E falo de quem tem obrigação disso, quanto mais não seja porque os dados estatísticos, se não forem “torturados”, estão aí à mão de semear.

Cheio de boas intenções, quis ser simpático e bonacheirão mas, à boleia do rasgado elogio que endosso à professora da Sorbonne, não consegui evitar a zurzidela a certos responsáveis pelo (estado do) País. Definitivamente, algo não vai bem em Portugal.

José A. Rodrigues, V.N.Gaia


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