Autarca de Caracas é a vítima mais recente de Maduro

Ledezma foi levado por dezenas de agentes da polícia política e a mulher diz desconhecer o seu paradeiro. Presidente venezuelano ameaça os seus opositores com um “punho de ferro chavista”.

Antonio Ledezma foi detido pela polícia política venezuelana
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Antonio Ledezma foi detido pela polícia política venezuelana Thomas Coex / AFP
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Protesto perto da sede dos serviços de inteligência contra a detenção de Ledezma Federico Parra / AFP
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Nicolás Maduro prometeu um "punho de ferro chavista" contra os opositores ao regime Carlos Garcia Rawlins / Reuters

O presidente da câmara metropolitana de Caracas, Antonio Ledezma, foi detido na quinta-feira (madrugada em Portugal) por agentes dos serviços secretos venezuelanos. O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusou o dirigente de estar por trás de um plano para derrubar o Governo. A detenção de Ledezma soma-se a uma crescente repressão do regime à medida que se aprofunda a crise económica.

Ao fim da tarde de quinta-feira, cerca de 80 agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), armados e encapuzados, entraram no escritório do alcaide da capital e detiveram-no. Ledezma terá tentado resistir à prisão e acabou por ser agredido, segundo o jornal El Nacional.

Horas depois, Nicolás Maduro fazia um comunicado ao país em que confirmava a detenção de Ledezma. “Foi capturado e vai ser processado pela justiça venezuelana para que responda por todos os delitos cometidos contra a paz do país, a segurança, a Constituição”, afirmou o Presidente.

Este mês, o autarca assinou uma carta aberta publicada no El Nacional com o título "Apelo aos venezuelanos para um acordo nacional de transição", em que atacou o regime chavista que “nos últimos 16 anos aplicou um modelo fracassado e exerceu de maneira impune a antidemocracia”. O texto, que é assinado também pela ex-deputada Corina Machado e pelo dirigente oposicionista preso há um ano, Leopoldo López, defende a necessidade de um compromisso amplo pela sociedade civil com o fim de “recuperar o espírito e a ordem democrática”.

A mulher de Ledezma, Mitzy Capriles, descreveu a detenção do marido. “[Os agentes] destruíram tudo o que tinham pela frente, não lhe deram tempo para falar, nem deram tempo para informar do que se tratava”, contou à rádio Union.

Ledezma é um veterano da oposição ao regime chavista, reeleito duas vezes à frente do município metropolitano de Caracas – embora com poderes cada vez mais reduzidos, segundo a Reuters. Em 2002, Ledezma era um dos dirigentes que promoveram os protestos que deram origem a uma tentativa de homicídio contra Chávez e no ano passado integrou as manifestações contra Maduro.

Protesto junto à sede dos serviços secretos
Vários dirigentes da oposição, incluindo o antigo candidato presidencial Henrique Capriles, concentraram-se na última noite nas imediações da Sebin para protestar contra a detenção de Ledezma. “Exigimos que nos informem sobre onde está o alcaide e de que o acusam. Antonio Ledezma está desaparecido e isso é inconstitucional”, afirmou Capriles.

Para o líder da coligação Mesa de Unidade Nacional, Jesus Torrealba, o “único recurso do Governo” face à grave crise económica que o país atravessa “é a violência”. “Eles atiraram-se a esse precipício”, disse à imprensa local. Corina Machado afirmou que a detenção de Ledezma é “um acto desesperado da ditadura contra um verdadeiro democrata”.

A Venezuela enfrenta uma grave crise económica, que se agudizou desde o início do ano pela queda do preço do petróleo, e que é representada pelas longas filas nos supermercados, onde os bens são cada vez mais escassos e os preços disparam. Ainda na semana passada, o Governo aprovou uma desvalorização de cerca de 70% da moeda.

Acusado de reagir de forma ineficaz aos choques económicos, Nicolás Maduro, “herdeiro” da revolução bolivariana iniciada em 1999 por Hugo Chávez, tem preferido concentrar-se na perseguição dos opositores políticos ao regime. No ano passado, o país atravessou vários períodos de protestos violentos – entre Fevereiro e Maio, a repressão levada a cabo por milícias pró-governamentais terá feito 43 vítimas mortais.

Leopoldo López foi um dos principais líderes oposicionistas detidos nessa altura, tendo sido levado para uma prisão militar onde ainda se encontra sem ter sido condenado. Mais recentemente, Corina Machado foi acusada de participar numa conspiração para assassinar Maduro, e a detenção de Ledezma indica que a repressão não deverá ficar por aqui.

Ao mesmo tempo que anunciava a prisão do autarca, Maduro prometia um “punho de ferro chavista” contra os seus opositores e anunciava que iria pedir à Assembleia Nacional e ao procurador-geral uma série de propostas legislativas contra os grupos que “fazem política armada e logo aparecem com caras de cordeiritos para participar em eleições”.

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