Santana Lopes, candidato à Presidência?

Se PSL é assim tão fraco e cheio de defeitos qual o problema de concorrer?

Li o artigo de João Miguel Tavares, no jornal Público de 8 de Janeiro, que me chamou à atenção pelo seu título: “Contra Santana Lopes". Confesso que tenho alguma simpatia e acompanho a espaços o que escreve e o que diz na TVI24, no programa Governo Sombra e anteriormente na TSF.

O referido artigo é um rol de razões para Pedro Santana Lopes (PSL) não se candidatar a Presidente da República, pelo seu desempenho como Primeiro-Ministro e do seu efémero governo derrubado por Jorge Sampaio, presidente socialista.

Não sendo advogado de defesa de Pedro Santana Lopes (primeiro, ele sabe defender-se melhor do que ninguém, segundo não sou do PSD), relembro algumas coisas que são importantes, no meu entender.

Segundo a Constituição Portuguesa qualquer cidadão pode candidatar-se a Presidente da República, desde que reúna um mínimo de 7500 e um máximo de 15.000 assinaturas de cidadãos eleitores. É uma eleição que não depende dos partidos políticos.

PSL já teve muitas vitórias e algumas derrotas. Cabe-lhe a ele avalizar, se deve ou não concorrer a Presidente da República e não estar dependente de críticas veladas, por vezes a roçar um ódio de estimação tão comum nos portugueses, com que ele é achacado incessantemente

PSL foi Primeiro-ministro, porque Durão Barroso "fugiu" do governo que chefiava e impôs como condição sine qua non, presidir à Comissão Europeia, desde que não houvesse eleições antecipadas. PSL, como sempre, disponível e pronto para ajudar o partido, aceitou ser Primeiro-Ministro sem ir a votos e constatou-se que não foi a melhor opção. No fundo recebeu um presente envenenado.

PSL é um case-study e gera resistências e anti-corpos. Alguns dizem dele cobras e lagartos, por exemplo, como João Miguel Tavares, não aceitando que se candidate ao que quer que seja. Por vezes, surgiam candidaturas contrárias à sua, somente porque PSL se candidatava, isso era habitual dentro do seu partido. Todavia muita gente gosta dele, constatei esse facto quando organizei um debate em que esteve presente. Recordo-me que o atacam e inventam coisas do arco-da-velha. Aquando da sua passagem, bem conseguida, pela Figueira da Foz, abdicou de parte do seu ordenado por ser colunista num jornal. O Estado deu-lhe razão ao permitir a acumulação, foi ressarcido em 75.000 euros. Quando foi Presidente da CM Lisboa, as críticas ao túnel do Marquês foram um exemplo paradigmático dessa postura, mas agora dão-lhe razão. A sua capacidade de resistência, dando a cara, nunca fugindo, é seu apanágio.

Evidentemente que PSL cometeu erros, alguns inexplicáveis, mas aprender com os erros ensina-nos a evitá-los. O primeiro passo para tirar proveito deles consiste em perder a vergonha de errar. Com os erros aprende-se. O problema é que em Portugal o erro é mal visto. Errar uma vez não quer dizer que se reincida mas que nos abre as portas para a criatividade e para fazer de outra forma. Nos Estados Unidos, num processo de selecção para um posto de trabalho um currículo com experiências negativas é muito bem visto. Alguém que, por exemplo, montou um negócio ou teve um lugar de chefia e teve uma experiência catastrófica passa a ter mais experiência e maturidade do que quem não a teve. A probabilidade que essa pessoa tem de ter mais iniciativa, ser mais inovadora e criativa aumenta.

Pedro Santana Lopes, que já usufruiu de uma subvenção vitalícia por ter sido Primeiro-Ministro, esteve bem ao não aceitar ser remunerado pela presidência da Santa Casa da Misericórdia. No seu currículo consta ter sido deputado com 24 anos, secretário de Estado da presidência do Conselho de Ministros do Governo de Cavaco Silva, deputado europeu, mais tarde secretário de Estado da Cultura (nessa altura não havia ministro da Cultura, era o equivalente) e Primeiro-Ministro.

Em 2012, numa sondagem promovida pelo Diário Económico, José Sócrates foi escolhido como o melhor Primeiro-ministro, seguido de Pedro Passos Coelho, ficando em terceiro lugar Pedro Santana Lopes, à frente de Mário Soares e outros. Não tenho dúvidas de que se fosse feita agora nova sondagem, tendo em conta o que se está a passar, daria outros resultados.

A eleição para Presidente da República vai ser renhida e terá contornos interessantes. É uma decisão pessoal e não está dependente dos partidos políticos. Há vários hipotéticos candidatos com chances: Marcelo Rebelo de Sousa, António Guterres, Carvalho da Silva, Pedro Santana Lopes, etc. Se PSL é assim tão fraco e cheio de defeitos qual o problema de concorrer? Ou será que mete medo e receio a sua candidatura?

Fundador do Clube dos Pensadores

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