CMVM "não foi envolvida" no processo de resolução do BES, garante Carlos Tavares

O responsável do supervisor do mercado de capitais diz que Carlos Costa lhe comunicou que haveria mais informação no domingo.

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Carlos Tavares foi ouvido nesta terça-feira no Parlamento Miguel Manso

Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), afirmou nesta terça-feira na comissão de inquérito parlamentar que a entidade de supervisão do mercado de capitais não foi envolvida no processo que conduziu à intervenção no BES. "Não foi sequer consultada sobre a matéria", acrescentou.

Sobre em que momento tomou conhecimento de que o BES iria ser intervencionado, Carlos Tavares relatou: "Os resultados [do banco] foram divulgados, salvo erro, na quarta-feira à noite. Na sequência disso, foram emitidos dois comunicados, convergentes nos termos, do BES e do Banco de Portugal (BdP). Diziam que o banco iria precisar de capital adicional. Inclusivamente se dizia que podia haver investidores privados interessados na recapitalização".

Tavares acrescentou que, face a estes dois comunicados, havia toda a informação que o supervisor considerava suficiente no mercado. "Mas ainda assim optamos por suspender as acções durantes umas horas", lembrou o responsável, acrescentado que se verificava uma queda acentuada.

No início da tarde de sexta-feira, "sobretudo a partir das 13h e mais inteiramente a partir das 15h é que se verificou uma queda abrupta e uma negociação particularmente intensa" e a "CMVM não pode, não deve, suspender a negociação só porque os preços estão a cair", defendeu o presidente da CMVM. "Não tínhamos razão para supor que havia falta de informação."

Carlos Tavares relatou que eram 15h12 quando "o senhor governador [do Banco de Portugal] me contactou, dizendo apenas que receava que houvesse uma fuga de informação". E, "mesmo assim, fomos ver a negociação. Telefonei alguns minutos depois ao senhor governador a perguntar se iria haver informação nova. Ele disse que sim, que ia haver, no fim-de-semana."

Na seugunda-feira, Carlos Costa, governador do BdP, disse que as acções do BES estavam a descer o que motivou o telefonema à CMVM, a 1 de Agosto, pelas 15h32, enquanto Carlos Tavares contou que Carlos Costa justificou o contacto por receio de existência de fuga de informação. Inquirido pelo BE se o BdP explicou a que se devia a fuga de informação, o presidente da CMVM respondeu: "Não. Nem eu lha pedi."

Carlos Tavares revelou que no dia 1 de Agosto, sexta-feira, "muitos institucionais mais pequenos convencidos de que a informação no mercado era boa" estiveram a comprar acções do banco, enquanto "os grandes investidores estavam a vender" as suas posições. Por volta das 15h30, a CMVM suspendeu as cotações do banco, isto depois de Carlos Costa, às 15h12, lhe ter telefonado a dizer que havia "fuga de informação", mas sem revelar outros detalhes.

Carlos Tavares reconheceu que se tivesse tido acesso a informação mais cedo de que o banco ia falir, os accionistas, em especial os de menor dimensão, que confiaram nas mensagens das autoridades, teriam sido protegidos.

À pergunta do PS sobre quem deveria ter avisado a CMVM de que o BES ia ser intervencionado, e evitar as perdas para os pequenos accionistas, Carlos Tavares respondeu: "Naturalmente as entidades que conheciam" que ia ser accionado o Fundo de Resolução, o BdP e o Governo. Solução que ia implicar perdas para os accionistas e obrigacionistas do BES. Na véspera quer o BdP, quer o Governo, vieram garantir que a situação no BES estava controlada.

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