Governo italiano envolve-se na busca de soluções para banco que falhou testes de stress

Extensão de prazos de devolução da ajuda estatal pode ser equacionada para apoiar o Monte dei Paschi, o mais antigo banco do mundo.

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O Banco Monte dei Paschi foi criado em 1472

O Estado italiano poderá dar uma ajuda no esforço de recapitalização que o Banco Monte dei Paschi di Sienna terá que fazer para atingir os rácios de solvabilidade exigidos pelo Banco Central Europeu (BCE) na sequência do chumbo nos testes de stress (resistência a cenários adversos) conduzidos pela instituição.

O banco foi um dos 25 que não passaram no exame do BCE, entre 130 que foram analisados. O mesmo aconteceu com o BCP, embora o banco português tenha agora uma situação mais confortável face à situação apurada no final de 2013, data a que reportam os testes.

O caso do banco de Sienna é bem diferente. Os técnicos da autoridade monetária da zona euro, que tem também a seu cargo a monitorização de todo o sistema financeiro, detectaram uma falha de capital de cerca de 2100 milhões de euros para que a instituição esteja preparada para enfrentar uma situação de crise grave.

Fontes contactadas pela agência Reuters, que pediram o anonimato, assinalam esta terça-feira que desde ontem que estão a decorrer contactos entre responsáveis do banco e o Ministério da Economia italiano, com o objectivo de estudar como é que o Estado poderá apoiar a recapitalização do banco.

Uma das soluções em cima da mesa seria a de estender o prazo de pagamento de duas tranches de ajuda estatal que o banco recebeu no auge da crise financeira e que ainda não pagou. Trata-se de um montante de 750 milhões de euros a reembolsar em 2015 (600 milhões) e 2016 (150 milhões). Estes valores são pacotes de obrigações criadas ainda pelo governo presidido pelo antigo primeiro-ministro Mário Monti.

A extensão destes pagamentos, equivalentes a cerca de um terço do reforço de capital que o Monte dei Paschi necessita, daria alguma margem de manobra para que o banco pudesse procurar alternativas no mercado financeiro, como seria, numa primeira análise, a vontade do governo de Matteo Renzi.

Conhecido como o mais antigo banco do mundo (foi fundado em 1472, em Sienna), o Monte dei Paschi começou por ter como missão apoiar os cidadãos mais desfavorecidos, num contexto de crise económica local. Só um século e meio mais tarde é que, através de um processo de reforma interna, assumiu uma vocação mais própria daquilo que hoje conhecemos como um banco comercial, aceitando as poupanças de clientes e concedendo empréstimos. Os depositantes beneficiavam de uma garantia estatal, poe determinação do Grão-Duque Fernando II.

Nas últimas décadas, o banco procurou expandir a sua base operacional, através de acções que promoviam o crescimento orgânico combinadas com aquisições no mercado italiano. A compra de várias instituições com vocação regional e do banco Antonveneta ao grupo Santander ilustraram essa disposição. Mas os encargos financeiros assumidos, associados a apostas de muito alto risco no mercado dos produtos derivados, acabou por minar a saúde financeira da instituição.

Nos últimos três anos, o banco acumulou prejuízos de 9300 milhões de euros e, para evitar males maiores, viu-se obrigado a fechar 550 agências, a rescindir com cerca de 8000 trabalhadores e a proceder à venda de alguns activos não estratégicos. Recebeu 4100 milhões de euros de ajuda do Estado, para evitar a falência, dos quais já devolveu 3000 milhões.

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