Três anos após a morte de Steve Jobs, o novo "sr. Apple" ainda tem provas a dar?

Tim Cook tem trabalhado sob a pressão de ser o sucessor de Steve Jobs. E os resultados são de peso.

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Tim Cook, no dia em que apresentou o primeiro iPhone lançado sob a sua direcção, o 4s Kevork Djansezian/Getty Images/AFP

Há três anos, a Apple perdia o seu criador e o mundo da tecnologia um “génio visionário”, como muitos consideraram. Steve Jobs tinha 56 anos. Para trás, décadas de investimento numa marca mundialmente poderosa, que ao longo dos anos foi lançando produtos que se tornaram objectos indispensáveis para milhões de pessoas. No terceiro aniversário da sua morte, o homem que lhe sucedeu no cargo diz que Jobs “tornou o mundo melhor”. E Tim Cook? O que fez nos últimos anos pela Apple e para mantê-la na liderança? Ainda vive à sombra do legado de Jobs ou já deu sinais de que, sob a sua direcção, a Apple vai continuar a surpreender?

Steve Jobs morreu a 5 de Outubro de 2011, depois de recuos e avanços numa luta contra um raro cancro no pâncreas. A sua morte foi noticiada em todo o mundo e quem o iria suceder era agora a questão que se levantava. Tim Cook foi o homem a quem a Apple confiou o seu futuro.

Contratado pelo próprio Steve Jobs, em 1997, Tim Cook chegava à empresa com mais de 15 anos de experiência noutros gigantes da tecnologia, como a IBM e a Compaq. Rapidamente assumiu funções importantes que levaram a que se fechassem negócios vitais para a empresa. Substituiu temporariamente Jobs, quando este foi submetido a uma primeira cirurgia após ter sido confirmado que tinha um cancro, em 2004. A Macintosh era agora também da sua responsabilidade.

Em 2011, o homem que tinha como objectivo chegar a “número dois” da empresa de tecnologia passou directamente para o cargo de presidente executivo. As expectativas sobre o que Cook iria fazer com a Apple eram elevadas. Nos últimos três anos, Cook iria enfrentar grandes desafios, como reafirmar o poder do iPhone no mercado de smartphones, responder por acusações de evasão fiscal e reagir a quedas dos lucros no valor de dezenas de milhões de dólares.

O presidente executivo da Walt Disney e membro da administração da Apple, Robert Iger, sublinha que Cook assumiu os comandos da empresa californiana longe das condições ideais. Com a morte de Jobs, a “transição foi dura inicialmente, não apenas para Tim mas para todos”, conta Iger à revista Bloomberg Businessweek. “Ele tinha muito que provar.”

Em Abril de 2013, a Apple sofre a pior queda dos últimos dez anos, quando vê os seus lucros caírem de um trimestre para o outro. Sete meses antes, as acções da empresa chegavam aos 700 dólares, para caírem para valores abaixo dos 400 dólares. Estes resultados mostravam que o crescimento da Apple tinha desacelerado pela primeira vez numa década.

Um mês depois, Cook era ouvido no Senado norte-americano depois de um relatório ter indicado que a Apple tinha dinheiro colocado em paraísos fiscais e beneficiado de dezenas de milhares de milhões de dólares em fugas aos impostos. A empresa foi acusada de usar o código fiscal irlandês para não pagar impostos sobre perto de 74 mil milhões de dólares, nos últimos quatro anos. Cook negou as acusações.

Cook, agora com 53 anos, teve que se afirmar como um forte homem de negócios, a que associou uma atenção redobrada sobre o mundo da moda, através do design dos novos aparelhos, uma característica que sempre foi importante para a Apple. Perante a forte concorrência no mundo dos smartphones, liderada pela Samsung, e dos sistemas operativos, através do sistema Android do Google, que atingia fortemente os resultados da Apple, Cook estava debaixo de uma forte pressão para colocar a empresa novamente no bom caminho.

E foi isso que tentou fazer. Depois do iPad, lançado em 2010 ainda sob a direcção de Steve Jobs, Tim Cook esteve na origem dos iPhones 4s, 5, 5c e 5s, de um iPhone low-cost e do iPad Air, por exemplo. Pelo caminho, também houve más apostas, como foi o caso da Apple Maps e do serviço de reconhecimento de voz Siri.

Mas o rumo da Apple alterou-se radicalmente no passado dia 9 de Setembro, naquele que se tornou no dia mais ansiado no mundo da tecnologia e temido pela concorrência. Apesar de já existirem no mercado produtos semelhantes, a chegada dos iPhones 6 e 6 Plus, do relógio inteligente Apple Watch e do sistema de pagamento Apple Pay, tudo associado ao novo sistema operativo iOS 8, terá convertido até os mais cépticos.

As pré-encomendas dos iPhones dispararam nos dias que se seguiram à apresentação e a Apple conseguiu que instituições bancárias como o Bank of America ou a JPMorgan Chase e empresas de cartões de crédito recebessem com entusiasmo o novo sistema de pagamento móvel Apple Pay.

O Apple Watch foi o produto da era Cook que recebeu mais aplausos, mas o grande teste para o presidente executivo da empresa ainda está para vir quando o relógio chegar ao mercado no próximo ano, ainda numa data a anunciar. Aos críticos do aparelho, Cook responde que ainda há muito para mostrar e que este é o “início de uma longa corrida”.

Na liderança da Apple, Tim Cook tornou-se no quinto homem mais bem pago nos EUA. Segundo um ranking de 2013, liderado pelo co-fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, o presidente da Apple tem uma remuneração anual de mais de 103,9 milhões de euros.

Este domingo, dia em que se assinalou o terceiro aniversário sobre a morte de Steve Jobs, Cook deixou transparecer que, apesar de ser ele agora o “sr. Apple”, o antecessor continuará a ser o homem que “tornou o mundo melhor” com as suas criações. “Muitas das ideias e projectos em que estamos a trabalhar hoje começaram depois da sua morte, mas a sua influência sobre eles — e todos nós — é inconfundível”, escreveu num e-mail enviado a todos os funcionários.

Na sede da Apple, em Cupertino, Califórnia, o escritório que foi ocupado por Steve Jobs permanece inalterado, como se tivesse parado o tempo no dia da sua morte, uma decisão de Cook. “Aquele é o escritório de Steve”, sublinhou o mês passado, numa entrevista à Bloomberg Businessweek.

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