Salários dos gestores de topo aumentaram, mas caíram nos trabalhos menos qualificados

Estudo da Mercer revela que os ordenados dos administradores ou directores subiram mais de 3%. Os dos operários diminuíram 1,41%.

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Salário dos operários caiu 1,41% este ano Daniel Rocha

A retoma parece ter chegado ao recibo de vencimento de quem ocupa cargos de responsabilidade nas empresas portuguesas. Um estudo da consultora Mercer, que analisou as políticas salariais de 302 empresas, mostra, pela primeira vez nos últimos anos, uma mudança de tendência: se em 2012 e 2013 os salários nominais (o que se recebe efectivamente no final do mês) desceram em praticamente todos os níveis hierárquicos, em 2014 os cargos de direcção geral e administração conseguiram aumentos na ordem dos 3,31%.Os directores de primeira linha e as chefias intermédias tiveram crescimentos de 1,64% e 1,14%, respectivamente.

Essa não foi a realidade para os trabalhadores com funções comerciais e vendas ou para os operários. Nestes casos, registou-se uma descida de ordenado que chegou aos 1,41% (operários) e aos 0,14% (comerciais). Noutras funções, como administrativos ou quadros superiores, a evolução face a 2013 foi quase residual: 0,44% e 0,97%, respectivamente.

“A recuperação está a acontecer nas funções de maior conteúdo funcional e responsabilidade. É uma tendência que não é estranha: com a crise, os salários praticados nestas funções tiveram uma maior penalização e quando há retoma, as empresas têm tendência para reter estes recursos, cuja perda tem implicações mais altas em comparação com outros grupos de colaboradores”, explica Tiago Borges, responsável na Mercer pela área de estudos de mercado e de compensações salariais.

Em anos anteriores, a elevada taxa de desemprego fez baixar os ordenados. Com mais pessoas à procura de emprego e um número reduzido de oportunidades, as empresas conseguiram pagar salários mais baixos. Agora, com a diminuição do desemprego - está em queda há 15 meses consecutivos e situou-se nos 14% em Julho, de acordo com o Eurostat – “as organizações já não estão a conseguir descer os salários”. “Há uma inversão do ciclo e como seria de esperar está a notar-se mais nas áreas de administração e direcções de primeira linha porque também foram as mais prejudicadas no processo de ajustamento”, diz Tiago Borges.

Resultados financeiros e desempenho pesam na decisão
Mas o fenómeno de redução salarial continua a ser uma realidade para os operários ou trabalhadores nas áreas comerciais ou de vendas. O consultor acredita que em 2015 “eventualmente” já haverá “alguma recuperação para estes níveis hierárquicos”, mas as perspectivas de alguma “normalidade” no que toca a aumentos ainda não são muito optimistas.

“Tipicamente os aumentos são alinhados à inflação, que está em níveis residuais. Os salários deverão, pelo menos, acompanhar esta evolução para que não haja quebra de poder de compra dos trabalhadores, mas no caso dos operários, juntando a descida salarial verificada à inflação, estaremos a falar de uma redução de 2% do poder de compra”, analisa.

Os resultados financeiros da empresa e o desempenho do trabalhador são os factores que mais influenciam a atribuição de aumentos. A estes juntam-se o “posicionamento face ao mercado, a equidade interna, directrizes da casa mãe, orçamento aprovado e os acordos colectivos de trabalho”. A antiguidade ou a hierarquia “são os factores que menos influenciam a atribuição do incremento salarial”, lê-se no estudo, denominado Total Compensation Report 2014.

Outro sinal de alguma recuperação foram as respostas dadas pelos gestores sobre as intenções de contratação. A grande maioria (73%) pretende manter o seu quadro de pessoal, mas o número de empresas que prevê aumentar (19%) é superior ao que prevê diminuir (8%). “É a primeira vez que isto sucede nos últimos cinco, seis anos”, diz Tiago Borges.

22% adiantam salários aos trabalhadores
Em 2014, 22% das empresas adiantaram salários ou concederam empréstimos a trabalhadores com dificuldades financeiras. A grande maioria destes adiantamentos (94%) foi motivada por “situações de emergência”, despesas de hospitalização (67%) e educação (17%). Em comparação com anos anteriores, a percentagem diminuiu . Em 2012, esta prática foi registada em 27% das organizações.

Apesar da crise, as empresas inquiridas pela Mercer estão a manter os benefícios que oferecem aos colaboradores. Cerca de 90% das empresas oferecem um plano médico e 38% concedem um complemento de subsídio de doença. No estudo, são ainda analisados os níveis salariais dos recém-licenciados: no primeiro emprego recebem entre 12.600 e os 18.075 euros por ano.

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