O estado da esquerda

Tirando António Costa que mal abriu a boca, o PS e a esquerda em geral têm dado um triste espectáculo da sua verdadeira natureza, que às vezes chega a roçar e a entrar na pura obscenidade. No PS, a gente de um lado e outro usa (com poucas variantes) a velha “língua de pau” de 1975, que nos fez rir durante 30 anos. Ninguém fala de política: da situação do mundo, da “Europa” ou sequer de Portugal. Ninguém fala da estratégia conveniente ou aconselhável para o partido, mas nos méritos e deméritos dos dois putativos candidatos, na “lealdade” e “gratidão” ao chefe ou nos triunfos que Costa infalivelmente trará consigo. O que estas parlapatices da hipocrisia, do oportunismo e da má-fé podem interessar ao cidadão comum é coisa que não interessa aos “notáveis” que a televisão convida ou escrevem doutoralmente para um jornal qualquer.

Nunca a “classe partidária” mostrou com maior clareza a sua vacuidade e o seu egoísmo. Trata sempre a situação do país como se tratasse do futuro de uma fábrica de sapatos: será que a baixa das vendas é irreversível ou temporária? Será que a concorrência vai aproveitar a oportunidade? Será que os lucros não são suficientes para investir e alargar o mercado? Não seria bom “lançar” um novo modelo, para aproveitar a moda? E não seria bom mudar de director? Sem o pormenor irrelevante dos “sapatos”, que diferença se consegue encontrar entre essa benemérita fábrica e um PS, que pretende reformar a “Europa” e salvar Portugal? Nenhuma ou tão ténue que não se distingue. Os campeões do socialismo não passam de uma empresa vulgar, com exclusivos critérios comerciais, tal qual como as gaba o famigerado “neo-liberalismo”.

Fica ainda a poeira da extrema-esquerda. A extrema-esquerda não sabe o que há-de fazer à vida. Gostava, como um adolescente, de ser rica e “famosa”, e de arranjar um namorado. Mas nada infelizmente a recomenda, excepto uma condenação genuína do estado do país. Só que a terapêutica que se propõe aplicar mataria o doente e 80 por cento dos portugueses percebem isso muito bem. Claro que muitas pessoas do Bloco ou do PCP, como o simpático e confuso João Semedo, merecem a nossa estima. Mas, como se sabe, a mistura entre os bons sentimentos e o espírito de missão tende a criar fanáticos; e o fanatismo leva rapidamente à intolerância e à intriga. O buraco de víboras em que se tornou o radicalismo português, além de paralisar o PS e o regime, não serve para nada e envenena o ar.
 

  



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