G7 convocado a reunir-se sem Moscovo, depois de Putin receber a Crimeia na Rússia

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Mulher com um calendário de Estaline, em Sebastopol, na Crimeia, enquanto Vladimir Putin discursava Baz Ratner /REUTERS

Barack Obama convidou os dirigentes do G7 e da União Europeia a reunirem-se na próxima semana em Haia, na Holanda, para considerarem novas respostas à integração da Crimeia na Federação Russa. De acordo com o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, a Rússia foi suspensa do G8, o grupo dos oito países mais industrializados.

“Está previsto que os restantes países, os sete mais importantes, se reúnam sem a Rússia”, tinha dito Laurent Fabius já esta manhã à rádio Europe-1. Agora, depois do discurso de Vladimir Putin, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Caitlin Hayden, anunciou a convocatória da reunião, que deverá realizar-se à margem da cimeira nuclear marcada para Haia. O G7 inclui os Estados Unidos, a Alemanha, o Reino Unido, Canadá, França, Japão e Itália. A Rússia devia ser a anfitriã, em Junho, da próxima cimeira do G8 em Sochi.

Após o discurso do Presidente russo desta terça-feira no Parlamento em Moscovo, com que assinalou o acordo para a integração da Crimeia na Federação Russa, declarando que “a Crimeia será sempre uma parte inseparável da Rússia”, têm chovido reacções de choque do Ocidente.

“A Rússia fez a escolha do isolamento”, advertiu o ministro dos Negócios Estrangeiros britânicos, William Hague, que também falou de um G7 onde Moscovo não estaria representado. Anunciou também a suspensão de toda a cooperação militar bilateral entre o Reino Unido e a Rússia.

“Devemos preparar-nos para um novo tipo de relações entre a Rússia e o Ocidente nos próximos anos, diferente do que foi nos últimos 20 anos. Uma relação onde as instituições como o G8 funcionarão sem a Rússia, e em que se reduzirá a cooperação militar e as exportações de material militar”, avisou Hague. O caso da Crimeia foi uma “imensa provocação” de Moscovo” e existe um “risco grave de novas provocações noutros locais da Ucrânia”, considerou o ministro britânico, aludindo ao Leste do país, onde há uma maioria de população russófona.

“Os passos dados por Putin para tentar anexar a Crimeia à Rússia são uma quebra flagrante da lei internacional e enviam uma mensagem arrepiante a todo o continente europeu”, disse o primeiro-ministro britânico David Cameron. “É inaceitável que a Rússia use a força para alterar fronteiras, tendo por base um referendo fantoche, realizado sob a ameaça das armas russas”, declarou, citado pela BBC. “O Presidente Putin não deve duvidar que a Rússia enfrentará consequências mais sérias, e eu pessoalmente incentivarei a União Europeia a tomar medidas mais fortes quando nos encontrarmos na quinta-feira”, assegurou Cameron.

As sanções até agora impostas à Rússia tanto pelos EUA como pela União Europeia foram ligeiras e centraram-se em políticos, na sua maioria sem interesses fora da Rússia – portanto não têm grande eficácia. Além disso, Moscovo tem ameaçado retaliar.

"Confiscação de território"
O vice-presidente norte-americano Joe Biden está esta terça-feira na Polónia, país vizinho da Ucrânia, e não poupou palavras para criticar o rápido processo de referendo e integração da Crimeia na Federação russa. “A Rússia alinhou toda uma paleta de argumentos para justificar o que não é mais do que uma confiscação de território”, afirmou.

 A chanceler alemã Angela Merkel repetiu mais uma vez que o referendo na Crimeia violou “o direito internacional”, tal como o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, que frisou que “a anexação não pode ser aceite pela comunidade internacional.” François Hollande, em Paris, apelou “à adopção de uma resposta europeia forte e coordenada”.

O governo provisório de Kiev, por seu turno, não só não reconhece a integração da Crimeia na Federação Russa como anunciou que se reserva o direito de apreender propriedades russas em território ucraniano, se Moscovo aprovar a nacionalização de bens do Estado ucraniano na península da Crimeia. “A Ucrânia reserva-se o direito de tomar medidas apropriadas para compensar as suas perdas graças a bens pertencentes à Rússia que se encontrem na Ucrânia ou noutros países”, declarou o ministro da Justiça, Pavlo Petrenko, citado pela AFP.

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