Um triste dia no Parlamento português

Há oito meses, a co-adopção passou. O PSD estava distraído. Pena que agora não estivesse

E assim, neste triste 14 de Março de 2014, Portugal escolheu ficar no minúsculo grupo dos que, na Europa, não garantem que as crianças que vivem com casais do mesmo sexo tenham os seus direitos garantidos e iguais às crianças que vivem com casais heterossexuais.

Deste infeliz clube dos europeus que permitem a co-adopção por casais heterossexuais mas não por casais gay fazem parte, além de nós, a Rússia, a Ucrânia e a Roménia. Não seria necessário dizer mais nada para demonstrar a incredulidade face à votação do Parlamento português. A co-adopção por casais gay não é um conceito estranho que uma deputada socialista inventou para chatear o governo.

O mundo mudou e metade dos deputados portugueses ainda não se aperceberam disso. Na Alemanha já não há apenas dois sexos possíveis à nascença. Há três hipóteses. A terceira é para quando não há certeza sobre a fisiologia do bebé. A Áustria foi condenada pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem por impedir a co-adopção por casais do mesmo sexo. Em África, de facto, há cada vez mais países que criminalizam a homossexualidade.

A co-adopção é outra coisa, claro. É mais simples. É apenas garantir que uma criança criada por um casal gay não fica órfã, não é forçada a ir viver com os avós ou não é entregue por um tribunal a um lar caso o pai ou a mãe biológicos morram. É apenas isso. É garantir que o cônjuge sobrevivente continua a cuidar da criança a quem chama filho.

Mas não vale a pena esconder que por detrás do chumbo de ontem está uma incapacidade de aceitar a homossexualidade como uma coisa natural da vida. O PS, que promoveu a iniciativa, e todos os que a defenderam, não quiseram incendiar as emoções. Trataram o tema, e bem, como uma questão jurídica e de direitos básicos. Mas agora que está chumbada, essa vergonha não fica escondida.

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