Carvalho da Silva promove movimento 3D para as europeias, sem PS e PCP

Bloco não fecha a porta a uma convergência a três. Mas é pouco provável que prescinda de uma lista próprias para as eleições ao Parlamento Europeu.

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Carvalho da Silva negou, mas esta terça-feira na apresentação do Manifesto 3D – Dignidade, Democracia e Desenvolvimento – ficaram dissipadas as dúvidas sobre a participação do ex-secretário geral da CGTP na constituição de um "pólo político" que tem como horizonte imediato as eleições europeias.

No sábado, o PÚBLICO noticiou que Carvalho da Silva se preparava para lançar esta semana um movimento unitário de esquerda para as próximas eleições europeias marcadas par 25 de Maio. “Não criei nem tenciono criar nenhum movimento”, reagiu o ex-líder sindical quando questionado pela Lusa.

Nesta terça-feira, na apresentação do Manifesto 3D, em Lisboa, Carvalho da Silva não apareceu. Mas o seu nome aparece em 48º lugar na lista organizada por ordem alfabética dos 65 subscritores iniciais do documento, que integra, entre outros, Boaventura Sousa Santos, José Reis, Castro Caldas, Ricardo Araújo Pereira, Isabel do Carmo ou Pilar del Rio.

O propósito do movimento também é claro: “Desenvolver um movimento político amplo que no imediato sustente uma candidatura convergente a submeter a sufrágio nas próximas eleições para o Parlamento Europeu”. Horas depois, o manifesto era tornado público, passando a estar disponível para ser assinado online - manifesto3d.blogspot.pt

Mais do que um apelo à convergência que “não cai do céu”, estes cidadãos actualmente sem filiação partidária , como foi sublinhado várias vezes pelo economista e professor catedrático da universidade de Coimbra José Reis na apresentação do documento, assumem o compromisso de reverter um “ciclo infernal” de austeridade, abrir caminho nas eleições europeias e prosseguir com o objectico de evitar um futuro governo de bloco central em Portugal.

O ex-secretário de Estado do Ensino Superior do último governo Guterres, José Reis, sintetizou a ideia ao afirmar que "a esquerda se deve unir onde tem estado dividida" e que "diminuirão a esquerda os que forem sozinhos".  Mas sem formarem um partido político, pelo menos por enquanto. “Começamos pela vontade e o conteúdo, depois iremos à forma”, disse o ex-bloquista Daniel Oliveira, que lamentou o facto de não serem possíveis listas de cidadãos às eleições europeias.

Por outro lado, José Reis não negou nem confirmou o nome de Carvalho da Silva para encabeçar uma hipotética lista às europeias, até porque seria uma “arrogância” cogitar nomes nesta fase. “É dessa convergência que fizermos com outros que surgirá um cabeça de lista, não temos a pretensão de dizer quem são os candidatos, não é esse o nosso debate, não é essa a nossa prioridade”, reforçou também Daniel Oliveira.  

Para o objectivo mais imediato das eleições europeias, PS e PCP estão excluídos das conversações. Terão listas próprias e autónomas. Restam como interlocutores para “sentar à mesa” o BE e o LIVRE (que ainda não está constituído como partido).

Daniel Oliveira responde afirmativamente ao facto de que uma estratégia governativa à esquerda não pode excluir socialistas e comunistas. Mas para já, t rata-se, explicaram, de “uma plataforma política incontornável” para as europeias. "Defendemos a constituição de uma lista credível e mobilizadora que envolva partidos, associações políticas, movimentos e pessoas que têm manifestado inquietação, discutido alternativas e proposto acção", lê-se no documento.

O PÚBLICO apurou que houve, de facto, uma reunião entre os promotores do 3D e o BE no início do mês. Segundo dirigentes do BE ouvidos pelo PÚBLICO, todos os cenários estão neste momento em aberto para as europeias, nomeadamente uma coligação abrangente, mas é pouco provável que os bloquistas prescindam de ter uma lista própria.

“Qualquer pessoa de bom senso perceberá que um partido com 14 anos, oito deputados, dois eurodeputados, 350 mil votos nas legislativas de 2011, não deixa de concorrer às europeias”, disse um dirigente de primeira linha do partido. Desde a última reunião da Mesa Nacional do BE, a 30 de Novembro e que aprovou as linhas de base para a candidatura às europeias, que o partido tem reunido esforços, nomeadamente com independentes, para colaborarem na redacção do programa às europeias.

O PÚBLICO sabe que alguns dos que aceitaram o convite do BE são também promotores do 3D, como o arqueólogo Cláudio Torres e o professor universitário Luís Moita. Vários dos promotores deste manifesto participaram, aliás, no Congresso Democrático das Alternativas, a 5 de Outubro de 2012.

3D e LIvre

O eurodeputado Rui Tavares, principal promotor do LIVRE - qua ainda está em fase de recolha de assinaturas - congratula-se com a busca da convergência, assinala uma reunião com os promotores do 3D e elogia todos os esforços "para superar os bloqueios da esquerda".  

"Só hoje conhecemos o manifesto e ficamos contentes por ver que as coisas estão a mexer à esquerda, como era nossa intenção ao iniciar o caminho do LIVRE", disse ao PÚBLICO. Tavares lembra que no LIVRE não será a direcção do partido a fazer "escolhas" e que o modelo adoptado para decidir candidatos será o de primárias abertas. "Será a primeira vez em Portugal que a palavra será dada aos cidadãos de esquerda, com ou sem filiação partidária", explicou. 

Sobre a possibilidade de uma convergência em Maio, o eurodeputado, que foi eleito pelas listas do BE nas últimas europeias, explicou que o horizonte tem que ser mais ambicioso para ancorar um futuro governo à esquerda e, simultaneamente, impedir que o PS se encoste à direita e viabilize um bloco central.

"Para impedir um governo que empurre o PS para a direita e ponha a Constituição em risco é preciso ser, em simultâneo, corajoso e inclusivo. Estou solidário com o espírito de convergência que anima este manifesto, e farei tudo, como sempre, para levar esse espírito à prática, e superar de uma vez por todas os atavismos da política portuguesa", diz Rui Tavares.

  

 


 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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