BCP e BPI admitem recorrer ao fundo público, BES afasta solução

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Ricardo Salgado, presidente do BES Miguel Madeira

O banco estatal CGD é o que apresenta as maiores necessidades de capital para cumprir os novos rácios, alcançando um cerca de três mil milhões de euros.

Em reacção à nota ontem divulgada pelo BdP, que avançou estimativas para a recapitalização do sistema financeiro ( reforço do capital Core Tier 1) de 4,4 mil milhões de euros, em resultado da nova exigência europeia de avaliar a preços de mercado de 30 de Setembro deste ano a exposição a dívida soberana, os bancos portugueses vieram logo pela manhã pronunciar-se sobre a medida.

O BCP e o BPI, que revelam o maior nível de exposição a activos soberanos de países periféricos, já admitiram poder ter de recorrer ao fundo de recapitalização de 12 mil milhões de euros, inscrito no memorando da troika, enquanto o BES afasta a solução.

Dados divulgados pelas autoridades europeias indicam que a banca portuguesa é a quinta com maiores necessidades de capital, pois terão de encontrar até final de Junho de 2012, fundos de 7,8 mil milhões de euros, para respeitar os novos requisitos de capital, sendo que parte, 3,3 mil milhões de euros, já estarão (ou estão em vias de) assegurados.

Depois de durante meses terem travado com o BdP um braço-de-ferro evitando o recurso ao fundo de recapitalização do Estado, de 12 mil milhões, as medidas adoptadas pela UE e que ontem à noite foram anunciadas, vieram colocar os bancos nacionais perante um novo quadro de maior exigência. O valor resultante da avaliação a preços de mercado das exposições a dívida soberana dos três grupos privados BCP, BPI e BES é de quase três mil milhões de euros de euros.

BCP é o mais exposto

Hoje logo ao início da manhã o BCP emitiu um comunicado onde identifica as suas necessidades de capital em 2,361 mil milhões de euros, isto já excluindo as medidas que entretanto tem estado a adoptar.

No seu comunicado revela ainda que dos 2,361 mil milhões, 1,299 mil milhões de euros estão associados ao registo a preços de mercado da exposição à dívida soberana que é de quase sete mil milhões de euros.

O banco liderado por Carlos Santos Ferreira, que dos quatro maiores grupos portugueses apresenta o maior nível de exposição, admite que está a estudar o recurso à linha de recapitalização. Santos Ferreira lembra que já adoptou iniciativas que permitem um aumento dos fundos próprios em mais de 600 milhões de euros, pelo que o reforço de capital deverá ser de 1,750 mil milhões de euros.

Já o BPI, o segundo mais exposto a divida pública, com um total de 5,2 mil milhões de euros, enviou também uma nota ao mercado onde confirma que equaciona igualmente o recurso à linha pública de 12 mil milhões de euros.

O banco liderado por Fernando Ulrich, diz que as suas necessidades de reforço de capitais próprios se situam em 1,717 mil milhões de euros, a concretizar até 30 de Junho de 2012, dos quais 1,640 milhões de euros “correspondem ao valor resultante da avaliação a preços de mercado das exposições a dívida soberana.

O BPI “vai analisar todas as opções de que dispõe para concretizar este reforço de capital, incluindo a utilização da linha de recapitalização de 12 mil milhões de euros".

BES afasta injecção de fundos públicos

Por sua vez o grupo presidido por Ricardo Salgado, BES, afasta uma solução que envolva a injecção de fundos públicos. A exposição do grupo a divida soberana está concentrada em títulos portugueses, possuindo 3,3 mil milhões de euros de divida nacional Num comunicado que acaba de divulgar diz que “o montante global das necessidades de capital identificadas, aplicando a metodologia utilizada pela EBA, é de 687 milhões de euros, correspondendo 44 milhões de euros ao valor resultante da avaliação a preços de mercado das exposições a dívida soberana”.

Salgado nota ainda que a administração adoptou medidas “para aumentar o capital social por novas entradas em espécie até 790,7 milhões de euros, através do lançamento de ofertas de troca sobre valores mobiliários emitidos pelo BES, BES Investimento e BES Finance, que deverá permitir reforçar o rácio de Core Tier 1” para os níveis exigidos segundo as novas regras.

O comunicado termina revelando que “no âmbito das medidas de reforço dos seus rácios de capital”, o banco “continuará o seu processo de desalavancagem do balanço e considerará, se necessário, outras opções”, mas apenas “no âmbito do mercado de capitais”, pelo que exclui o apoio estatal.

Uma análise aos níveis de exposição da banca portuguesa à dívida soberana indica que o BCP é o mais afectado, 7,7 mil milhões, seguido do BPI, 5,2 mil milhões. O BES tem apenas obrigações portuguesas, no valor de 3,3 mil milhões, enquanto a CGD tem uma carteira de dívida pública de 4,2 mil milhões de euros.

CGD com maiores necessidades de capital

O banco público é aliás o que apresenta as maiores necessidades de capital para cumprir os novos rácios, de 3,023,6 mil milhões de euros, conforme revelou já esta manhã a Caixa BI.

No conjunto a CGD, o BCP e o BPI possuem 1,480 mil milhões de euros de títulos gregos (770 milhões estão no BCP), que serão objecto de um “perdão” que pode rondar os 50 por cento (valor que está em discussão).

O BPI distingue-se por ter mil milhões de euros de obrigações italianas, um activo que apenas interessou ao BCP que investiu 50 milhões O banco liderado por Fernando Ulrich possui ainda 391 milhões de euros de títulos irlandeses e a CGD 34 milhões. O banco público aplicou 10 milhões de euros em obrigações espanholas.

Em Espanha o segundo maior banco, o BBVA, já veio também admitir necessitar de 7,087 mil milhões de euros para cumprir os novos requisitos de capital aprovados pela UE, um montante que inclui 1.912 milhões de euros resultantes da deterioração da carteira de dívida soberana.

As autoridades europeias criaram uma linha de 106 mil milhões de euros para recapitalizar a bancos europeia até ao fim de Junho de 2012.

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