Governador do BdP apela à Europa para que afaste risco de default
O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, afirmou esta sexta-feira que o facto de os líderes europeus admitirem o default de um Estado provocou uma “falha sísmica” na zona euro e colocou os bancos na dependência dos políticos. Para resolver o problema, a Europa tem de afastar qualquer possibilidade de um país não pagar as suas dívidas.
Durante a sua intervenção no 4.º Congresso Nacional dos Economistas, que termina hoje em Lisboa, Carlos Costa acusou os políticos europeus de terem sido, eles próprios, a colocar a zona euro no epicentro da crise.
“A partir do momento em que se admitiu a possibilidade de um default, criou-se uma falha sísmica em toda a área do euro”, explicou o governador, dizendo que isso pôs em causa muitas convenções, desde logo o cálculo de risco dos bancos, que passaram a necessitar de reforçar capitais para fazer face ao risco soberano.
“Os bancos estão numa situação em que dependem dos políticos – ou estes confirmam que o risco soberano é nulo, ou se mantêm em manifestações contraditórias, e os spreads e as imparidades vão aumentar”, avisou Carlos Costa.
Com a ameaça de um default, o responsável do banco central alerta que os investidores institucionais, que têm sido os grandes compradores de dívida pública, “podem de um momento para o outro desaparecer do mercado, porque não têm mais capitais para absorver essa dívida”.
Para o governador do BdP, é o sistema político que tem de resolver o problema, porque foi ele que colocou a Europa no epicentro da crise. “O sistema político criou a dúvida e o problema e, agora, tem de os eliminar”, pede Carlos Costa, dizendo que, se isso acontecer, o problema do risco soberano ganha outros contornos, bem como a recapitalização da banca.
O governador relembra, aqui, que só os bancos centrais têm mantido a coerência, ao recusar terminantemente qualquer incumprimento por um Estado-membro da zona euro.
Nota da Redacção, introduzida às 14h42: Numa notícia anterior, foram erradamente atribuídas ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, as declarações de Eduardo Catroga em que criticava o Presidente da República por ter considerado o corte de subsídoso aos funcionários públicos como carecendo de falta de equidade fiscal. Pelo facto, pedimos desculpa aos dois visados e aos leitores.