Reservas de ouro portuguesas já valem 12,5 mil milhões de euros

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Ouro tem batido sucessivos recordes e, para isso, tem ajudado a crise da dívida em vários países Issei Kato/ Reuters (arquivo)

As reservas de ouro que o Banco de Portugal detém valiam, no final de Fevereiro e segundo dados fornecidos pela instituição, 12.532 milhões de euros, reflectindo a escalada de preços que o metal precioso tem vindo a registar nos mercados das matérias-primas.

Ontem, a cotação do ouro ultrapassou os 1500 dólares por onça (o equivalente a 31,1 gramas).

A quebra desta barreira psicológica é sobretudo atribuída à derrapagem de quase 1 por cento registada pelo dólar, depois de a agência de notação Standard & Poor"s ter colocado sob vigilância negativa os títulos da dívida pública norte-americana.

Mas a valorização do metal precioso é também devida às incertezas que continuam a pairar sobre a crise da dívida soberana nos países periféricos da União Europeia. Ontem, os juros associados à dívida grega quebraram a barreira dos 20 por cento e os que são pedidos para comprar títulos da dívida portuguesa a cinco anos ultrapassaram os 11 por cento.

Num quadro deste tipo, o ouro assumiu de novo o papel que a história lhe vem reservando há muito tempo: o de refúgio para os investidores que temem o agravamento da situação noutros mercados.

Ciclo ascendente

Com as cotações a manterem um sustentável movimento ascendente, as reservas do Banco de Portugal representam, actualmente, o dobro do que valiam no início do milénio e quase oito vezes a contabilização apurada no início dos anos 1980. A valorização conheceu um mais significativo incremento nos últimos cinco anos, acompanhando a rápida ascensão dos preços do metal precioso a partir de 2006 nos mercados internacionais, porque, durante este período, foi praticamente nula a prática de compra e venda de ouro por parte do Banco de Portugal.

A utilização das reservas para fazer face à actual crise financeira nunca foi equacionada e, a ser adoptada, não serviria para aliviar o défice público, segundo as normas de contabilização adoptadas pela União Europeia. Mas numa situação de aperto como a actual, libertariam liquidez para fazer face a encargos financeiros mais imediatos.

De qualquer forma, os bancos centrais são, por princípio, desfavoráveis ao recurso às reservas de ouro para dar resposta a situações conjunturais e têm, até, acordos que limitam drasticamente essa possibilidade.

Desde o início do ano que o valor do ouro tem vindo a registar sucessivos recordes, numa escalada que chega quase aos 6 por cento. Um movimento em tudo semelhante ao verificado no ano passado, quando a cotação da onça progrediu cerca de 30 por cento.

Mas o máximo alcançado ontem (1506,75 dólares por onça), além de representar a passagem de mais uma barreira psicológica, surge alavancado em acontecimentos que ameaçam perdurar no tempo, o que faz crer que o metal precioso vai continuar a atingir recordes. Os analistas do banco Barclays estimavam ontem que a cotação pode chegar aos 1520 dólares nas próximas semanas.

Ontem, o dólar caiu quase um por cento face às seis mais importantes moedas que circulam no mundo. A razão é óbvia e directa: o facto de a agência de notação financeira Standard & Poor"s ter colocado em vigilância negativa os títulos da dívida da maior potência económica do mundo. Ou seja, o "intocável" triple A das obrigações dos Estados Unidos pode deixar de o ser num futuro que pode não ser muito distante.

Esta decisão da agência tem a ver com o facto de democratas e republicanos continuarem a não se entender sobre uma estratégia para reduzir o astronómico défice orçamental nos próximos anos. O que enfraquece o papel do dólar nos mercados internacionais e afasta os investidores da moeda verde.

Mas esta não é a única razão. "O catalisador da recente subida do ouro foi o downgrade da S&P, juntamente com a turbulência da dívida soberana na Europa e o conflito no Médio Oriente", afirmou à Bloomberg o analista Gavin Ewndt, para acrescentar: "É uma tempestade perfeita para os metais preciosos, incluindo o ouro e a prata", que costumam ser os produtos alternativos para os investidores com liquidez.

com Sérgio Aníbal
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