Líder do manifesto contra as renováveis propôs parque eólico off-shore ao Governo

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Mira Amaral Carlos Lopes / arquivo

Mira Amaral, antigo ministro da Indústria que lidera o manifesto contra a política de apoio às energias renováveis do Governo, apresentou ao Ministério da Economia um projecto de um parque eólico off-shore ao largo de Aveiro, mas não chegou a receber luz verde para avançar.

O caso ocorreu na primeira legislatura de José Sócrates e foi confirmado ao PÚBLICO por Manuel Pinho, ex-ministro da Economia, e pelo próprio Mira Amaral, embora os dois não coincidam nas datas. O primeiro afirma que o caso se passou entre dois anos e dois anos e meio atrás, o segundo aponta 2005.

Foi durante uma viagem à Alemanha, há cinco anos, que Mira Amaral e Carlos Alegria, co-proponente do projecto eólico e um dos subscritores do manifesto, tomaram conhecimento da tecnologia off-shore, após o que apresentaram ao Governo "uma ideia em Powerpoint, não uma candidatura", afirma o antigo ministro. A reunião decorreu no gabinete de Manuel Pinho.

Mira Amaral e Carlos Alegria apresentaram um parque com tecnologia de pilares flutuantes, de grande dimensão, para rentabilizar o custo mais elevado em mar, e que no caso elevariam o preço da energia em mais 50 por cento. Manuel Pinho "achou a ideia interessante, mas nunca avançou com nada", queixa-se Mira Amaral, estranhando que "meses depois, o presidente da EDP, António Mexia, passasse a falar do eólico off-shore".

Manuel Pinho justifica que a tarifa do projecto "era um desastre, caríssima", apresentando como segunda razão tratar-se de uma "tecnologia que não estava experimentada".

Mira Amaral declara que o objectivo era aferir o interesse do Governo para, em seguida, encontrar financiamento para o projecto. "Não éramos os promotores, iríamos arranjar financiadores depois", acrescenta.

Para Mira Amaral, não há contradição entre o projecto e o facto de assinar o manifesto de oposição à política do Governo de energia eólica e fotovoltaica. "Como cidadão, tenho toda a legitimidade de discutir a lógica das políticas do Governo e, por outro lado, aproveitar as oportunidades de mercado", respondeu.

Contra Manuel Pinho, aponta o dia em que aquele lhe telefonou a pedir "umas palavras simpáticas [para a imprensa] a elogiar a decisão" de nomeação de Carvalho Neto para o OMIP. Mira acedeu "não por causa do pedido, mas por ser amigo de Carvalho Neto". Os telefonemas da imprensa não chegaram e diz ter ficado espantado no dia seguinte ao ver os jornais a citarem António Mexia.

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