Embaixador dos EUA em Lisboa comandou actividades da CIA em Portugal

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Carlucci chegou a Portugal no início de 1975, e tinha palavras de ordem contra ele pintadas nas paredes de Lisboa Enric Vives-Rubio (arquivo)

Um livro sobre a forma como os Estados Unidos acompanharam a situação em Portugal no pós-25 de Abril revela Frank Carlucci como coordenador pessoal de todas as actividades da CIA durante o Verão Quente de 1975.

A obra "Carlucci vs. Kissinger – Os EUA e a Revolução Portuguesa", de Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá, recorre a documentos desclassificados dos arquivos norte-americanos para, em 500 páginas, analisar as movimentações dos Estados Unidos, no período que sucedeu à Revolução dos Cravos.

"Tudo o que a CIA fez foi sob o meu comando. Qualquer acção que possa ter desenvolvido destinava-se a executar a política dos EUA, que era apoiar as forças democráticas em Portugal. A CIA era parte da equipa [da embaixada] e eles faziam o que lhes mandava", diz o antigo diplomata, na obra.

A declaração de Carlucci é feita a propósito da importância que dava às "informações" e para explicar o primeiro diferendo que teve com o secretário de Estado da altura, Henry Kissinger, sobre a revolução portuguesa e a resposta a dar pelos Estados Unidos.

Carlucci estava a favor dos "moderados" e Kissinger, durante algum tempo, alimentou a teoria da vacina: Portugal estava perdido para os comunistas e, por isso, serviria de "vacina" para outros países em transição (como Espanha e Grécia) ou países onde o comunismo tinha crescente influência (como Itália).

Alvo permanente do PCP e da extrema-esquerda, Frank Carlucci chegou a Portugal no início de 1975, em pleno ambiente revolucionário, e tinha palavras de ordem contra ele pintadas nas paredes de Lisboa.

No livro, os dois autores dizem que Washington receou que Portugal se tornasse um país comunista e consideram que a "acção da América acabou mesmo por contribuir para a vitória das forças democráticas". A obra defende também que Washington recebia, antes da revolução portuguesa, muitas informações sobre a eventualidade de um golpe militar – apesar da surpresa pelo golpe do MFA, a 25 de Abril de 1974.

A obra defende que, durante o Verão Quente, num país à beira da guerra civil, o PS, liderado por Mário Soares, chegou mesmo a "pedir ajuda militar". O “pedido” terá sido recusado e a “ajuda” só chegou depois do 25 de Novembro, com a entrega de material para a tropa de choque.

O livro dos investigadores portugueses resulta de um trabalho desenvolvido nos Estados Unidos e em Portugal e será apresentado no dia 30 de Setembro, na Fundação Luso-Americana, em Lisboa.

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