Barreiro comemora hoje 60.º aniversário de grande greve operária

No dia 28, os cerca de 7500 trabalhadores da CUF encontram os portões da unidade fabril encerrados e dirigem-se para o Bairro Operário, onde fazem uma manifestação. Gritam “temos fome, temos fome”. A seguir fazem parar dois comboios. A retaliação não tardou: o Exército e as forças policiais fazem centenas de prisões

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Esta é a foto mais emblemática da paralisação do Barreiro, mas, segundo um investigador, terá sido tirada em Lisboa ARQUIVO DO JORNAL “O SÉCULO”/FOTOTECA

O Barreiro assinala hoje o 60º aniversário de um dos momentos mais importantes da história recente da cidade: a greve de 1943, que mobilizou milhares de operários da Companhia União Fabril (CUF) e deu origem a um longo período de forte repressão no Barreiro que só terminaria com o 25 de Abril de 1974.

Para assinalar a data, a câmara inaugura na Quimiparque, local onde estava instalada a CUF, uma exposição com documentos da época, fotografias e um documentário com testemunhos de ex-operários que participaram na paralisação. Realiza-se também uma conferência destinada a debater alguns temas relacionados com a greve. Pacheco Pereira — que abordará os efeitos sociais e políticos da greve — e o político local João Feijão — que falará sobre as lutas do Barreiro de 1943 — são dois dos participantes neste debate.

Apesar da importância que o acontecimento teve para o Barreiro, só recentemente começou a ser estudado. “Esta é a primeira fase do trabalho no qual recolhemos as primeiras informações, em que colocamos as pessoas a lembrarem- se do que se passou na greve de 1943. A investigação vai continuar durante mais um ano”, explica Vanessa de Almeida, que está investigar o período também conhecido por “verão quente” de 43 para a autarquia.

A greve deu sequência a um período de agitação social no país que tinha sido iniciado um ano antes com outra paralisação. O Governo esforçava-se para conter estas movimentações, através de decretos e portarias, mas a situação dos trabalhadores era muito complicada ao nível das condições de trabalho e salariais.

A Segunda Guerra Mundial fazia escassear os alimentos e a queda de Mussolini dois dias antes tinha criado em alguns a sensação de que se poderia viver num regime não totalitário em Portugal.

É na tarde de 26 de Julho que tem início a greve em Lisboa, nos estaleiros navais da Rocha de Conde de Óbidos. O protesto chega ao Barreiro um dia depois, quando os operários da CUF resolvem fazer uma greve de “braços caídos”, ou seja, mantendo-se no seu posto de trabalho sem produzir.

No dia 28 os cerca de 7500 trabalhadores da companhia encontram os portões desta unidade fabril encerrados e dirigem-se para o Bairro Operário (o actual Bairro das Palmeiras), onde fazem uma manifestação. Gritam “Temos fome, temos fome”. Depois procuram mais apoio e dirigem-se às corticeiras. Na estação ferroviária Sul e Sueste fazem parar um comboio que se dirige para Setúbal. Em Alhos Vedros repetem a proeza. Na tentativa de conter o movimento operário, o Governo mobiliza para o Barreiro o Exército e um enorme conjunto de forças policiais, ao ponto de se considerar que, naquele período, o Barreiro viveu um autêntico regime militar.

“Era um ambiente de terror”, lembra o antigo trabalhador da CUF Belmiro Ferreira, no documentário que vai estar em exibição. Foram feitas centenas de prisões e os operários que aderiram à greve acabaram por ser despedidos. A retoma ao trabalho aconteceu nos primeiros dias de Agosto de 1943.

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