Shutdown dos EUA obriga funcionários a vender bens pessoais para pagar despesas

A paralisação do Governo norte-americano está a deixar 25% dos funcionários de várias agências e departamentos públicos norte-americanos sem rendimentos e, por isso, desesperados face às despesas.

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Os funcionários públicos afectados pedem o fim da paralisação que congelou os seus salários Reuters/GEORGE FREY

Bíblias e lençóis da Nintendo. Mesas de massagem. Guitarras. Uma cadeira com imagens da super-heroína Ladybug de mais de 90 dólares agora vendido por dez (cerca de oito euros). Uma réplica em tamanho real do sabre de luz de Kylo Ren. Podiam ser descrições de produtos em épocas de saldos, mas são objectos pessoais que os funcionários públicos norte-americanos afectados pela paralisação parcial do Governo estão a tentar vender para fazer face à falta de rendimentos.

Ao todo, o encerramento parcial dos serviços públicos norte-americanos afecta 25% das agências, num total de 800 mil funcionários, alguns enviados para casa e outros a trabalhar sem salário desde 22 de Dezembro. Em causa está o impasse no Congresso para aprovar uma verba de 5,6 mil milhões de dólares (cerca de cinco mil milhões de euros) para a construção de um muro na fronteira dos EUA com o México destinado, segundo a Administração Trump, a travar a imigração ilegal.

Os anúncios podem ser encontrados em sites como o eBay e a Craigslist e nas redes sociais onde os apelos de funcionários desesperados com o pagamento das contas se vão multiplicando, conta o Washington Post nesta sexta-feira. “É vendida por 93,88 dólares no Walmart. Vendo por dez dólares. Precisamos de dinheiro para pagar as contas”, lê-se num anúncio na Craigslist citado pelo jornal norte-americano. Entre a lista de produtos estão até objectos herdados.

Até agora, o apoio do Departamento de Administração e Orçamento norte-americano a estes funcionários tem sido encorajá-los a falarem com credores e agências de hipotecas. Já a Guarda Costeira publicou uma lista de dicas, sugerindo aos funcionários que realizem vendas de garagem ou vendam coisas online, passeiem cães ou façam part-times enquanto baby-sitters para sobreviver.

“Apesar de não ser agradável lidar com estas situações, o melhor é não enterrar a cabeça na areia. Mantenha-se no controlo da situação, percebendo claramente o que está a acontecer”, lia-se no documento publicado pela Guarda Costeira, entretanto removido do site.

"Magoa perder estas coisas"

Anna Cory, uma bibliotecária de Morrisville, na Carolina do Norte, tenta a sua sorte com livros com centenas de anos, verdadeiras relíquias. “Como bibliotecária, é isto que eu valorizo. É isto o meu tesouro. Magoa perder estas coisas. Uns amigos disseram-me que gostavam de as poder comprar para depois mas devolverem”, conta ao jornal norte-americano. 

Criado por Jay Elhard, funcionário do Parque Nacional Acadia, no Maine, um grupo de Facebook dedica-se exclusivamente à venda de objectos de funcionários federais como cópias de teses de pós-graduação ou mochilas de fibra de carbono usadas para caminhadas no Parque.

Um relatório da Reserva Federal mostra que a dependência mensal das famílias norte-americanas em relação aos seus salários é bastante elevada e transversal a profissões e estados. O relatório conclui, por exemplo, que quatro em cada dez adultos não conseguem juntar 400 dólares para uma emergência sem recorrer a crédito ou sem vender alguma coisa.

É nessa situação que estão parte dos funcionários públicos afectados pela paralisação que dura há 20 dias. O Presidente Donald Trump e o Partido Democrata, agora com maioria no Congresso e que rejeitam o muro, estão irredutíveis na negociação da construção do muro. O muro foi uma das mais emblemáticas promessas eleitorais de Trump, na campanha das presidenciais de 2016.

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