Combates em Áden abrem nova frente de batalha na guerra do Iémen

Forças governamentais têm combatido nos últimos dias contra um movimento separatista apoiado pelos Emirados Árabes Unidos.

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Combatente do movimento separatista do sul do Iémen em Áden Reuters/FAWAZ SALMAN

A luta pelo controlo da cidade portuária de Áden abriu uma nova frente de batalha na guerra do Iémen, com potencial para aprofundar ainda mais uma das mais graves crises humanitárias no planeta.

Desde domingo que o exército leal ao Governo internacionalmente reconhecido do Iémen tenta defender os principais edifícios públicos da maior cidade do Sul do país contra as investidas de um grupo separatista, apoiado pelos Emirados Árabes Unidos. Os combates fizeram pelo menos 12 mortos e mais de 130 feridos, segundo a Reuters, e a cidade está praticamente dividida.

Os combates começaram depois de ter expirado um ultimato apresentado pelo Conselho de Transição do Sul (CTS), um movimento armado que defende a independência do sul do Iémen, para que o Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi demitisse o primeiro-ministro, explica a Al-Jazira. Hadi recusou, proibiu as manifestações na cidade portuária de Áden e enviou a guarda presidencial para reforçar a segurança.

O primeiro-ministro iemenita, Ahmed bin Dagher, descreveu o que se está a passar em Áden como um “golpe”. “O que está a acontecer é muito perigoso e afecta a segurança, estabilidade e unidade do Iémen”, afirmou o chefe do Governo actualmente no exílio na Arábia Saudita, através de um comunicado.

Desde 2014 que o Iémen é palco de uma guerra entre o Exército de Hadi e os rebeldes houthis, que controlam a capital Sanaa e parte do norte do país. O conflito ganhou uma dimensão internacional com a entrada em cena de uma coligação regional liderada pela Arábia Saudita que tem bombardeado os houthis – e que é responsabilizada pela morte de milhares de civis em ataques indiscriminados.

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Visão geral de Aden Fawaz Salman/REUTERS

Mais de dez mil pessoas morreram e há milhões de desalojados. A intervenção saudita no conflito é vista pela generalidade dos analistas como uma resposta ao alegado apoio dado pelo Irão aos houthis – os dois países travam uma luta pela hegemonia na região, onde o Iémen é mais um capítulo.

Os combates em Áden vêm abrir uma nova frente de batalha na guerra, mas as pretensões independentistas do sul do Iémen nunca estiveram ausentes da história do país. O objectivo de movimentos como o CTS é a refundação da República Popular do Iémen, um Estado socialista que existiu desde a descolonização, em 1967, e que durante a Guerra Fria contou com o apoio da União Soviética.

Com o país dividido e afundado no caos da guerra, o movimento separatista tem tentado fazer avançar a sua agenda. Para isso conta agora com o apoio dos Emirados Árabes Unidos, que apesar de integrarem a coligação que tem apoiado Hadi têm também interesses próprios em jogo. “A coligação está dividida e já não sabe o que quer”, dizia à Al-Jazira em Outubro a analista do Centro de Estudos Estratégicos de Sanaa, Maysa Shuja al-Deen.

“Os sauditas consideram que qualquer apoio à secessão irá deslegitimar o esforço de guerra, que têm insistentemente repetido ter o objectivo de repor o Governo do Presidente Hadi. Entretanto, os Emirados não querem que um qualquer partido próximo de Hadi e do Islah [partido que se opõe aos huthis e é próximo da Irmandade Muçulmana] se aproxime do poder”, explicou Deen.

Para acalmar o nervosismo de Riade, o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados, Anwar Gargash, reiterou esta segunda-feira o apoio à intervenção da coligação regional no Iémen.

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