Trump obrigou o filho a omitir motivo do encontro com advogada russa

O Presidente dos EUA ditou o comunicado enganador em que Donald Trump Jr. garantiu que o encontro com advogada próxima do Kremlin se tinha destinado a discutir adopção de crianças russas.

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Donald Trump e o filho mais velho, Donald Trump Jr., durante a campanha eleitoral Reuters/Brian Snyder

Se o encontro de Donald Trump Jr. com uma advogada russa para obter informação comprometedora sobre Hillary Clinton foi mais uma prova da interferência de Moscovo no processo eleitoral norte-americano, a forma como o pai, Donald Trump, tentou lidar com a notícia, espelha bem o que têm sido estes meses da sua Administração: caos e desordem.

O Washington Post noticia esta terça-feira que Donald Trump foi o responsável pela estratégia de defesa do filho mais velho relativamente ao encontro com a advogada Natalia Veselnitskaya durante a campanha para as presidenciais norte-americanas, em Junho de 2016. A estratégia escolhida pelo Presidente dos Estados Unidos para justificar um encontro que foi noticiado no início de Julho pelo New York Times, em plena cimeira do G20, em Hamburgo, foi o de mentir sobre o motivo da reunião.

Segundo o Washington Post, que cita fontes anónimas governamentais, foi o próprio Donald Trump que ditou o comunicado em que se admitia que o encontro na Torre Trump existiu, mas que o tema debatido por Donald Trump Jr. e Veselnitskaya foi o do programa de adopção de crianças russas por norte-americanos que foi interrompido em 2014.

A notícia da reunião em que também participaram Jared Kushner (cunhado de Donald Trump Jr. e marido de Ivanka) e o então director de campanha de Trump, Paul J. Manafort, foi avançada a 7 de Julho. Nos dias seguintes veio a público mais informação sobre o encontro, incluindo que a advogada com ligações ao Governo de Vladimir Putin prometeu a Trump Jr. informação comprometedora sobre a adversária do pai nas presidenciais.

Mas a 7 de Julho, quando os conselheiros de Trump foram apanhados de surpresa com a bomba mediática, essa informação ainda não era pública. Nos bastidores da cimeira entre os líderes mundiais, a equipa de Donald Trump discutiu a estratégia e chegou à conclusão que o melhor seria que Donald Trump Jr. emitisse um comunicado onde deveria confirmar a existência da reunião com a advogada, de forma directa e sem subterfúgios, para que a sua versão não pudesse vir a ser contrariada, caso surgissem novos detalhes.

Mas foi apenas uma questão de horas até que os planos mudassem, por decisão de Trump, garante o Washington Post. No regresso a casa, a bordo do Air Force One, a 8 de Julho, Trump ditou pessoalmente o comunicado em que se explicava que o motivo do encontro entre Donald Trump Jr. e Veselnitskaya “foi principalmente discutir um programa sobre a adopção de crianças russas”. De acordo com o que foi relatado por várias fontes próximas do Presidente ao Washington Post, o comunicado enviado aos media frisava que o encontro “não se tratava de uma questão eleitoral naquela altura”.

Com o aumento da pressão sobre o clã Trump nos dias seguintes, o filho do Presidente acabou ter de prestar mais esclarecimentos sobre a reunião, até reconhecer que aceitou conversar com Veselnitskaya ao receber um email em que ela lhe prometia o acesso a informação comprometedora sobre Hillary Clinton.

Donald Trump Jr. também haveria de garantir nesse comunicado que não lhe foi transmitida “qualquer informação relevante" e que as afirmações da advogada russa “eram vagas, ambíguas e que não faziam sentido algum”.

Mas o Washington Post nota que a intervenção de Trump na resposta do filho – com os detalhes que até à data não se conheciam – é mais um para juntar à lista de movimentos desastrados que os seus conselheiros temem que o coloque a si e aos seus próximos em apuros legais.  

Enquanto decorre a investigação do ex-director do FBI Robert S. Mueller à interferência russa nas presidenciais de 2016, os assessores de Trump temem que o envolvimento directo do Presidente venha a deixá-lo exposto a acusações de ter tentado encobrir toda a história. “Isto era… desnecessário”, disse ao Washington Post um dos conselheiros de Trump, que não quis ser identificado. “Agora qualquer um pode dizer que foi o Presidente que tentou passar informação errada” ou que “não quer que se diga toda a verdade”, acrescentou.

Dentro da Administração Trump crescem as preocupações de que o Presidente dos Estados Unidos aja cada vez mais como o seu próprio advogado ou estratega, desprezando as recomendações dos profissionais que contratou. “Ele recusa-se a estar quieto”, queixou-se o conselheiro ao Washington Post. “Não acredita que corre riscos legais, e por isso vê isto como um problema político que vai resolver sozinho”, acrescentou.

Esta é mais uma polémica, numa altura em que Trump demitiu o director de comunicação da Casa Branca ao fim de apenas dez dias no cargo e em que a Rússia ordenou que os EUA reduzam os funcionários que tem no país.

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