E se as eleições não derem a maioria a ninguém no Reino Unido?

Uma estimativa do instituto YouGov, com base num modelo pouco ortodoxo, coloca cenário de Parlamento em que nenhum partido tenha a maioria. Líder do Labour, Jeremy Corbyn, aproveita.

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A campanha está a correr bem ao líder trabalhista, Jeremy Corbyn Reuters/PETER NICHOLLS

Nem de encomenda o líder trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, poderia ter tido um dia de campanha mais favorável do que esta quarta-feira, com a publicação de uma projecção dos resultados das legislativas de 8 de Junho que, pela primeira vez, deixava em aberto a hipótese de um resultado inconclusivo. Em vez de consagrar a actual primeira-ministra Theresa May, as eleições poderão deixar o Parlamento sem maioria – e obrigar os partidos a entenderem-se para formar Governo.

Sem perder tempo, Corbyn reconsiderou a sua decisão de não participar no debate televisivo entre os líderes de todos os partidos concorrentes a Westminster promovido pela BBC, e desafiou Theresa May a fazer o mesmo. Na defensiva, a primeira-ministra viu-se obrigada a justificar o seu boicote: está demasiado ocupada a preparar as negociações do “Brexit”, disse. E além disso, acrescentou, para ela é mais importante o contacto directo com os eleitores do que a participação em debates que “não têm grande sentido”.

Escarrapachada na primeira página do The Times, a projecção do instituto YouGov, com base em estimativas de distribuição de votos em cada círculo eleitoral (um método controverso e que não reúne consenso entre os especialistas em sondagens), atribui 41% das intenções de voto aos conservadores e 38% aos trabalhistas e arrisca uma previsão do número de deputados que cada partido elegerá: 310, no caso dos tories, e 257 para o Labour. O que comparando com as bancadas dos dois partidos na anterior legislatura, representaria uma perda de 20 lugares e da maioria parlamentar dos conservadores, e uma recuperação de 29 assentos da bancada trabalhista.

Embora o director do YouGov tenha alertado para a “larga margem de erro da projecção”, e reconhecido que os valores do seu modelo “pouco ortodoxo” divergem da média das sondagens convencionais, os números confirmam a percepção dos últimos dias de campanha, que sugerem uma alteração significativa da dinâmica da corrida. “Estes números são um sinal de como a campanha está a correr bem para Jeremy Corbyn”, resumia a conservadora New Statesman.

O líder do Labour, que muitos analistas descontavam no arranque da campanha, viu a sua popularidade aumentar com a defesa de propostas consideradas “radicais”, de investimento no serviço nacional de saúde ou no sistema público de educação, e com boas prestações em entrevistas televisivas. Aproveitando o élan da subida nas sondagens, e o facto de já estar a comentar a eventual negociação de coligações de Governo (um cenário impensável há um mês, quando Theresa May convocou as eleições) Corbyn aumentou a pressão sobre a sua adversária. “Vá lá, primeira-ministra, apareça para debater connosco. Tenho muitas perguntas que gostaria que respondesse, e prometo fazê-las de forma educada”,

A líder conservadora, que antecipava uma campanha tranquila para uma vitória anunciada nas eleições legislativas de 8 de Junho, viu-se confrontada, pela primeira vez, com a real possibilidade de falhar a super-maioria parlamentar que reclamou para reforçar a sua mão antes do arranque formal das negociações do “Brexit”. Reagindo à projecção eleitoral, numa acção de campanha com pescadores em Plymouth, Theresa May frisou que “a única sondagem que interessa é a votação de dia 8 de Junho, que é quando as pessoas decidem quem querem que dirija o país para o futuro. Eu tenho um plano para o ‘Brexit’, mas também tenho um plano para construir um país mais forte e mais próspero”, acrescentou.

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