Milhares de pessoas em fuga do Leste de Alepo

Exército tomou três bairros na zona controlada pela rebelião durante o fim-de-semana. “É o primeiro êxodo deste género no Leste de Alepo”, assegura o Observatório, que fala em quatro mil deslocados.

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O bairro de Al-Shaar tem sido um dos mais visados pelos ataques dos últimos dias Abdalrhman Ismail/Reuters
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Os civis tentam fugir das zonas mais próximas dos combates Abdalrhman Ismail/Reuters
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Cerca de 500 civis saíram dos bairros controlados pelo oposição e foram levados para a zona controlada pelo Exército George Ourfalian/AFP
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Os ataques aéreos continuam contra os bairros do Leste Abdalrhman Ismail/Reuters

O Exército sírio anunciou a tomada, em menos de 24 horas, de três bairros no Leste de Alepo, num avanço que o aproxima do objectivo de cortar a meio a maior das zonas urbanas controladas pela oposição. Acossadas pelos combates e os ataques aéreas, milhares de pessoas estão em fuga das zonas mais próximas da linha da frente.

Entre os deslocados contam-se cerca de 1700 pessoas que fugiram para as zonas sob controlo governamental, incluindo o bairro de Massaken Hanano, tomado na véspera pelas forças leais ao regime de Bashar al-Assad. “É o primeiro êxodo deste género no Leste de Alepo” desde 2012, quando os combates dividiram ao meio aquela que já foi a maior cidade da síria, garantiu Rami Abdel Rahman, director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

Nem Hanano, nem Jabal Badro, um dos dois bairros vizinhos onde os militares entraram este domingo, tinham já muitos residentes – situados na extremidade leste da cidade, há muito que a maioria das famílias tinha partido em busca de zonas menos expostas aos combates. Muitos regressaram este domingo na única esperança de serem levadas do inferno em que se transformou o Leste de Alepo, após quatro meses de cercos e muitos mais de ataques aéreos.

“Tínhamos fugido por causa dos bombardeamentos do Exército durante o avanço e dos [ataques] com cloro”, disse à Reuters Muhammad, que esperava com a família pelo autocarro que o levaria para o Oeste de Alepo. Outros dos que embarcaram nos autocarros eram moradores dos bairros adjacentes de Haydariye e Al-Shaar, decididos a sair da zona antes que os combates ali cheguem.

O Observatório adianta que outras 2500 pessoas se refugiaram desde sábado em Sheikh Maqsoud, um enclave no Norte de Alepo controlado pela guerrilha curda e quase intocada pelos ataques aéreos. 

O Exército concentrava este domingo a ofensiva no vizinho bairro de Sahkour, procurando um avanço que lhe permitiria cortar em definitivo as ligações entre o Norte e o Sul das zonas controladas pelos rebeldes, dificultando ainda mais a resistência ao cerco. O “Exército está determinado a continuar os seus esforços, primeiro nos bairros adjacentes a Massaken Hanano, limpando depois por completo os bairros do Leste”, escrevia neste domingo o jornal Al-Watan, porta-voz do regime de Bashar al-Assad. Yasser al-Yousef, dirigente do grupo rebelde Nour al-Din al-Zinki, garantiu à Reuters que os combatentes “estão a reforçar as suas linhas de defesa nas imediações de Hanano […] mas a resistência está a ser dificultada pelos bombardeamentos".  “Os aviões estão a destruir tudo, pedras, árvores pessoas”, afirmou.

Os últimos números recolhidos pelo Observatório dão conta de 219 civis mortos no Leste de Alepo desde o início desta última ofensiva, no passado dia 15. Os combatentes têm também intensificado o disparo de rockets contra as zonas controladas pelo Exército – só na última noite quatro civis morreram, elevando para 27 o número de mortos naquela parte da cidade.

A batalha de Alepo é considerada a mais decisiva de todas as que se travam na Síria, mais de cinco anos depois do início da guerra. Para as forças de Assad, a conquista da zona Leste aproximaria a ambicionada vitória no território que considera essencial para a sobrevivência do regime. Para a rebelião, seria uma derrota que deitaria por terra as últimas esperanças de conseguir uma mudança de regime, ficando reduzida quase só à vizinha província de Idlib e a focos de resistência nos subúrbios de Damasco.

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