“Os bancos não podem estar só à espera que o crescimento regresse”

Subir Lall, chefe de missão do FMI a Portugal, defende que para resolver os problemas que enfrentam, os bancos têm eles próprios de começar a agir, por exemplo cortando custos.

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REUTERS/Hugo Correia

O responsável pelos relatórios de análise a Portugal feitos regularmente pelo Fundo Monetário Internacional defende que não basta pôr mais capital nos bancos para resolver os seus problemas. Numa entrevista feita por telefone, Subir Lall diz que “as redes bancárias são muito grandes e a menos que sejam feitos cortes será muito difícil os bancos conseguirem atingir os lucros de que precisam para lidar com os seus problemas”.

No relatório sobre Portugal, afirmam que enfrentar as fragilidades do sistema financeiro é uma “prioridade urgente”. Isto não era verdade também em 2011? Não devia ter sido feito mais durante o programa da troika?
Era verdade na altura e é verdade agora. A nossa opinião é a de que não foi feito o suficiente para que o sistema bancário ultrapasse os desafios que enfrenta. Mas há algumas instituições que conseguiram bons resultados, por exemplo, ao nível do rácio de receitas por custo. E isso são boas notícias. Por outro lado, o crédito malparado registou uma descida no último trimestre de 2015, mas depois voltou a subir. A banca é um assunto por concluir, não é fácil de resolver, mas no fim os bancos vão ter de o fazer.

O programa da troika não deveria ter previsto mais capital para os bancos?
Não é apenas uma questão de pôr mais capital nos bancos. No programa, havia dinheiro disponível para o caso de ser preciso. A questão tem mais a ver com o modelo de negócio dos bancos. Os bancos têm de criar espaço nos seus balanços de forma a poderem assumir perdas com o crédito malparado e voltar a emprestar dinheiro em novos sectores.

E como é que podem fazer isso?
As redes bancárias são muito grandes e a menos que sejam feitos cortes será muito difícil os bancos conseguirem atingir os lucros de que precisam para lidar com os seus problemas. Os bancos têm de enfrentar de frente este problema em vez de estarem à espera que o crescimento regresse.

É isso que os bancos têm feito, esperar?
O pensamento em muitos bancos tem sido o de que, assim que o crescimento económico voltar, os problemas desaparecem. O problema é que, se os bancos não tiverem capacidade para financiar novas empresas e novos  sectores, o crescimento económico não regressa. É um ciclo vicioso.

Que papel é que o Governo pode ter aqui?
O Governo não pode fazer muita coisa. Têm de ser, principalmente, os bancos e os seus accionistas. É claro que o Estado é o dono de um grande banco e portanto, nessa capacidade, tem um papel a desempenhar.

Acredita nas garantias dadas pelo Governo de uma gestão independente e profissional na CGD?
Não temos os detalhes, mas claro que uma gestão independente e profissional é uma coisa muito boa para ter num banco. Temos esperança que tal aconteça, seria muito bom para todo o sector, pelo exemplo que constituiria.

Teria ficado mais satisfeito com algum tipo de privatização na Caixa?
Bom, o Governo sempre deixou muito claro que a privatização não é uma opção, portanto não há vantagem em estar a discutir um cenário hipotético. O que é importante é que o banco seja gerido na base da criação de valor para os seus accionistas, que são o Estado e, como consequência, a população portuguesa.

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