Em três semanas, 60 mil pessoas fugiram da violência do Sudão do Sul

Os países vizinhos do Uganda e Quénia são os mais procurados pelas populações em fuga, diz a agência de refugiados das Nações Unidas.

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O conflito no Sudão do Sul levou a um novo êxodo para os países vizinhos, constatou o ACNUR Beatrice Mategwa/United Nations Mission in South Sudan (UNMISS)/Handout via REUTERS

Cerca de 60 mil pessoas fugiram do Sudão do Sul nas últimas três semanas, quando a violência no país começou a aumentar, avançou esta terça-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

“Trouxeram-nos relatórios muito perturbadores. Grupos armados que operam nas estradas para o Uganda estão a impedir que as pessoas fujam”, revelou Melissa Fleming, porta-voz do ACNUR, citada pela Reuters. “Os grupos armados estão a saquear cidades, a matar civis e a recrutar à força homens jovens e rapazes para as suas fileiras”, acrescentou Fleming.

A maioria destas pessoas tem encontrado refúgio num dos países vizinhos, o Uganda – nos últimos 10 dias o fluxo ao longo da fronteira duplicou. O ACNUR apontou o Sudão e o Quénia como os outros dois países que têm recebido mais cidadãos vindos do Sudão do Sul.

As Nações Unidas decidiram na passada semana o prolongamento até dia 12 de Agosto da sua missão de paz no Sudão do Sul, a nação mais recente do mundo, com apenas cinco anos de independência. Destes, três foram marcados por conflitos internos e guerra civil.

A nova vaga de violência começou no mês passado, quando no dia 7 de Julho as forças leais ao Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e as milícias que apoiam o anterior vice-presidente, Riek Machar, entraram em conflito directo, lembrou Andreas Needham, porta-voz do ACNUR. Desde então já morreram centenas de pessoas na capital, Juba.

O Conselho de Segurança votou por unanimidade a extensão da missão naquele país africano, com o objectivo de dar mais tempo aos diplomatas para explorarem várias opções – como a inclusão de uma força regional ou um embargo de armas, esclareceu a Associated Press. Na sexta-feira passada, dez organizações acusaram a ONU de falhar na protecção de civis no Sudão do Sul. Neste momento existem cerca de 12 mil tropas armadas da ONU no país.

A embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, também se pronunciou sobre os recentes acontecimentos. “Os eventos das últimas semanas demonstraram como a violência pode rapidamente reacender e as consequências humanas devastadoras que existem quando isso acontece”, comentou Power. 

Instabilidade e crise humanitária

No final do mês passado, o líder da oposição e vice-presidente, Riek Machar, fugiu de Juba quando a sua casa foi bombardeada. Taban Deng Gai, um antigo negociador pela facção rebelde, foi o nomeado para assumir o cargo deixado vago por Machar – os seus apoiantes temem que esta seja uma conspiração do Presidente Salva Kiir, que já fez um apelo ao regresso do seu rival político. Segundo a Associated Press, Machar recusa-se a voltar a Juba até que uma força externa, por exemplo da União Africana, restabeleça a paz na cidade.

A 26 de Agosto de 2015 os ex-rebeldes e o Presidente Salva Kiir assinaram um tratado de paz, que nunca foi totalmente aplicado. Mas a população volta a temer o aumento de violência na capital. A situação agravou-se – centenas de pessoas foram mortas e milhares tentam sair do Sudão do Sul para os países vizinhos. Para além disso, há ainda relatos de mulheres de etnia nuer que mencionam violações por parte dos soldados do Governo, que alegadamente aconteceram perto de um campo das Nações Unidas. A instabilidade que se vive no país tem também uma origem étnica, de confronto entre os nuer, a etnia minoritária a que pertence de Machar, e a maioria dinka do Presidente Kiir.

Desde Dezembro de 2013, quando Kiir acusou Machar de preparar um golpe de Estado, o Sudão do Sul vive uma guerra civil de consequências devastadoras: o país atravessa uma grave crise humanitária. Num relatório publicado na semana passada, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa Mundial Alimentar das Nações Unidas (WFP), apresentaram o Sudão do Sul como um dos países em que o conflito continuado tem impedido as pessoas de acederem a alimentos, perpetuando a subnutrição.

 

Texto editado por Rita Siza

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