Plano para salvar o Monte dei Paschi com risco de execução elevado

Será possível atrair os investidores a colocarem 5000 milhões de euros num banco que perdeu 8000 milhões desde 2014?

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O banco Monte dei Paschi di Siena exite há 544 anos

Faltavam poucos minutos para que fossem divulgados os resultados dos temidos testes de stress à banca europeia quando, na passada sexta-feira, a instituição financeira mais antiga do mundo anunciou que tinha finalmente encontrado a solução para a sua sobrevivência. Contudo, passados quatro dias, e à medida que vão sendo conhecidos os detalhes da operação, vai ficando cada vez mais evidente que o banco italiano Monte dei Paschi di Siena ainda tem uma tarefa muito complexa pela frente em que nenhum detalhe pode correr mal.

Para que não houvesse dúvidas sobre a urgência da situação, os testes de stress realizados pela Autoridade Bancária Europeia mostraram que o Monte dei Paschi é de facto o banco na Europa que se encontra numa situação mais débil, apresentando um rácio de capital negativo quando é sujeito a um cenário económico difícil durante três anos. A necessidade de reestruturar o seu balanço e de se capitalizar é imediata e de grande dimensão.

Por isso, numa tentativa de jogar em antecipação (evitando uma reacção negativa dos mercados na segunda-feira), foi anunciado que se tinha encontrado a solução financeira que permitiria capitalizar o banco em 5000 milhões de euros até ao final deste ano, um montante aparentemente capaz de tornar o banco italiano numa instituição sólida e segura. O problema, é claro, vai estar nos detalhes da operação.

Em primeiro lugar é necessário levar em conta que, para evitar custos directos para os contribuintes e ultrapassar os obstáculos existentes nas regras europeias, a capitalização irá ser feita pelo sector privado. E que, por isso, é preciso convencer os investidores a entrar no capital do Monte dei Paschi.

Essa tarefa adivinha-se difícil. E é fácil perceber porquê. O que se vai pedir aos investidores é que coloquem 5000 milhões de euros num banco que, neste momento, não vale mais do que 1000 milhões de euros no mercado, depois de terem desaparecido 8000 milhões de euros de reforços de capital feitos durante os últimos dois anos e meio.

É verdade que, até agora, já oito bancos internacionais, incluindo o JP Morgan e o Mediobanca que organizam a operação, já assumiram o compromisso de subscrever a compra de acções, mas esse compromisso ainda está dependente da existência de um interesse efectivo dos mercados.

Para conseguir tornar o Monte dei Paschi minimamente atractivo para os investidores, será preciso efectuar uma limpeza completa aos seus balanços. E será também aqui que se jogará o sucesso da operação.

O objectivo é que o banco consiga vender a totalidade dos 27.700 milhões de euros de crédito que o banco concedeu a entidades que neste momento estão em situação de insolvência. Para que o plano corra previsto, esses créditos serão empacotados em títulos que serão depois vendidos por um valor total de 9200 milhões de euros. Isto é, por cerca de 33% do seu valor nominal.

Este é mais um dos problemas da operação, já que, num passado recente, as ofertas que foram realizadas por bancos de investimento internacionais interessados em comprar estes créditos andavam entre os 20% e os 25% do valor nominal.

Os créditos vão ficar divididos consoante o seu nível de risco. Com os empréstimos que têm uma maior probabilidade de ser recuperados (e que contarão com uma garantia do Estado), espera-se garantir 6000 milhões de euros. Haverá depois um grupo intermédio de créditos que deverá ser comprado pelo veículo Atlante (que tem outros bancos italianos como accionistas) por 1600 milhões de euros. Por fim, os créditos com um nível mais elevado de risco serão entregues aos accionistas do Monte dei Paschi, usando o capital do próprio banco.

Para garantir que tudo isto é feito até ao final deste ano (ou pelo menos até ao início de 2017) é preciso ainda a aprovação dos reguladores e deverá ser necessário um empréstimo ponte, que de acordo com vários órgãos de comunicação social, será concedido pelo banco norte-americano JP Morgan.

Vários analistas têm alertado para o facto de nenhum destes pontos do plano, que apresentam riscos elevados na sua execução, pode falhar, caso contrário um cenário de intervenção pública, em que há o risco de perdas para milhares de pequenos credores e a ameaça de contágio para o resto do sector bancário italiano e europeu, torna-se inevitável.

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