Carne bovina dificulta exportações de vinho para o Brasil

Ministro da Agricultura, Capoulas Santos, visita Vinhos de Portugal no Rio, iniciativa do PÚBLICO e o jornal O Globo

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Ministro da agricultura de Portugal, Luís Capoulas Santos, visita o mercado de vinhos Sibila Lind
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A equipa do jornal PÚBLICO com os críticos e produtores de vinho Sibila Lind
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O Master of Wine Dirceu Vianna Jr. evidenciou uma citação de Benjamin Franklin: "O vinho é a prova que Deus nos ama" Sibila Lind
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A cantora Adriana Calcanhotto apresentou uma sessão de Tomar um copo seguindo uma citação de Eça de Queirós: "Um vinho fresco, esperto, seivoso" Sibila Lind
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Ministro da agricultura de Portugal experimenta um vinho do produtor Domingos Alves de Sousa Sibila Lind

Quando Luis Capoulas Santos entrou no Mercado do Vinho de Portugal no Rio passava pouco das onze da manhã mas já a fila ia longa. De banca em banca, o ministro da Agricultura ia tecendo alguns comentários, elogiando “um aroma inconfundível” de um vinho, ou o “rótulo lindíssimo” de outro, fazendo alguns malabarismos para que não lhe enchessem demasiadas vezes o copo. Mas a conversa teve de ficar mais séria quando a produtora Sofia Prazeres, da Quinta de São José, lhe lançou sem rodeios quando o ministro da Agricultura passou na sua banca: “Veja lá se consegue baixar as taxas” de importação.

A participação de 66 produtores de todas as regiões vinícolas do país nesta terceira edição do Vinhos de Portugal no Rio – iniciativa dos jornais PÚBLICO e O Globo em parceria com a ViniPortugal – só momentaneamente ofusca as dificuldades que os produtores portugueses enfrentam para fazer chegar os seus vinhos às mesas dos brasileiros. A questão levantada por Sofia Prazeres – antiga campeã nacional de ténis que se apaixonou pela vinha do Douro – foi respondida. “Estão a decorrer negociações entre a União Europeia e o Mercosul” (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela), que é um “mercado com um enorme potencial”. Mas o processo é demorado.

O resultado para os vinhos portugueses, e somando às taxas os custos logísticos e as margens de lucro dos importadores e distribuidores, é que “o vinho chega à prateleira [no Brasil] oito vezes mais caro do que o preço em Portugal”, explica Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal. “Os vinhos europeus pagam taxas que países do Mercosul ou o Chile não pagam. Mas como este não é um problema da UE, é um problema de Portugal...”

Minutos mais tarde, Capoulas Santos confirmará ao PÚBLICO que as taxas são o maior entrave nas exportações de vinho para o Brasil. “Há vários anos que estas negociações não avançam, mas elas terão de ter um epílogo feliz. E isso passará necessariamente por concessões recíprocas.”

O que está a complicar? A carne de bovino. “O Mercosul é hoje a maior potência agrícola a nível mundial”, sendo que o Brasil contribui em grande medida para isso, essencialmente na produção de carne bovina – “que é uma produção muito importante na Europa. Este dossier tem impedido as negociações do tratado de comércio, que terá de ser mutuamente vantajoso”. Ou seja, a Europa “tem todo o interesse em colocar no Mercosul os seus produtos (da indústria automóvel, da banca, dos seguros)”, ao mesmo tempo que “o Brasil e os outros países do Mercosul olham para o mercado europeu como principal importador de produtos agrícolas”. Mas “se abríssemos agora os mercados, a carne de bovino desapareceria na Europa. Temos que criar mecanismos que garantam que esse sector não desaparecerá”, que tragam vantagens para os dois lados.

Entretanto, o ministro reconhece que devemos, “sem dúvida”, investir em alternativas: “Qualquer estratégia comercial deve apostar na diversificação de mercados. Infelizmente, as circunstâncias internacionais não têm sido fáceis. Têm-se sucedido crises, mas o mundo sempre foi perigoso em todas as épocas históricas. A crise obriga-nos a esforços acrescidos, quer de diversificação do mercado, quer de uma aposta mais ampla dentro desses próprios mercados”. No caso brasileiro, o próximo passo é conquistar São Paulo, por exemplo. “Já exportamos para todo o mundo, para mais de 50 países diferentes. A dificuldade é que não há meios financeiros que nos permitam fazer uma campanha promocional em todos os países ao mesmo tempo”.

Jorge Monteiro explica que, no primeiro trimestre de 2016, o Brasil representou 2,9% das exportações de vinho portuguesas (a União Europeia continua a pesar mais, com 61%, os Estados Unidos a seguir, com 10,9%, Canadá 5,7%, Suíça, com 4,9%, Angola com 2,7% e China 2%). Para os produtores vitivinícolas, a crise no Brasil pode ser uma preocupação, mas não tanto como a de Angola. “Angola teve uma queda mais estrutural. Se deixar de vender Barca Velha em Luanda - que tem o restaurante onde se vende mais Barca Velha em todo o mundo - consigo vender para outros mercados. Mas o vinho a granel – de entrada de gama- esse foi o que baixou. Houve uma queda de 24% em 2015, passou de 95 milhões para 72 milhões. Este ano prevê -se que termine entre 20 e 30 milhões”, diz o presidente da ViniPorrtugal.

Em relação ao Brasil, “não há diminuição do consumo, mas o consumidor está a preferir vinhos a preços mais acessíveis (que faz com que o volume tenha caído este trimestre 10,9%). A comunidade da diáspora continua a beber e está fidelizada numa marca - em geral Casal Garcia ou Monte Velho - mas está a deixar de comprar os reserva”.

Em todo o caso, os brasileiros estão longe de serem grandes consumidores de vinho – no ano passado o país consumiu 1,9 litros per capita (em Portugal foram 42 litros). O vinho “ainda é uma bebida para momentos especiais”, afirma Jorge Monteiro. E os brasileiros “preferem claramente o tinto, apesar de ser um país quente” – tal como acontece com os angolanos, aliás. Para refrescar, venha a cerveja estupidamente gelada.

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