Últimos anos foram “dos mais duros” para a Caixa Geral de Depósitos

José de Matos, presidente da CDG, diz que um banco só celebra 140 anos quando “é sólido em contextos exigentes”.

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José de Matos considera que o "ajustamento difícil" da economia portuguesa "ainda não terminou" Daniel Rocha

No dia em que a instituição celebra 140 anos, o presidente Caixa Geral de Depósitos (CGD), José de Matos, admitiu que "os últimos anos foram dos mais duros" para o banco e considera que o "ajustamento difícil" da economia portuguesa "ainda não terminou".

"Os últimos anos foram dos mais duros da longa vida da CGD, num contexto europeu e internacional particularmente desfavorável e com a economia portuguesa a passar por um ajustamento difícil e que ainda não terminou", afirma,numa declaração escrita enviada à agência Lusa.

"As dificuldades do presente são melhor postas em perspectiva quando olhamos a nossa história. E isso dá-nos confiança para comemorar o dia de hoje como um dia de festa porque celebramos não só o passado e o presente, mas também o futuro", continua José de Matos, sublinhando que "o futuro é a certeza de que a Caixa continuará a cumprir integralmente os seus desígnios, com a responsabilidade de quem sabe o quanto os portugueses gostam e exigem" da instituição.

O presidente do banco público considera que "um banco só chega aos 140 anos quando assenta a sua missão e a sua actividade nos pilares da sustentabilidade, quando privilegia e protege a confiança depositada pelos seus clientes, quando adapta o seu negócio às condições de mercado, quando é sólido em contextos exigentes e quando inova a cada momento, antecipando tendências".

"Somos o banco que criou um grupo financeiro capaz de responder a todas as necessidades financeiras dos clientes e do mercado. Somos o banco que continua a acompanhar as gerações que emigraram, as empresas que exportam e internacionalizam os seus negócios e que, por isso, tem hoje a maior presença internacional do sector financeiro português", escreveu.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) registou prejuízos de 171,5 milhões de euros em 2015, ainda assim menos do que os apurados no ano anterior, que se cifraram em 348 milhões. O activo total atinge agora 100.901 milhões de euros e os depósitos de clientes subiram para 73 mil milhões.

Na apresentação de resultados, em inícios de Fevereiro, José de Matos, disse que nos últimos anos as contas têm sido fortemente prejudicados pela necessidade do banco de constituir provisões e imparidades, resultantes de decisões tomadas pelas anteriores administrações. Em 2015 o banco estatal continuou a registar prejuízos consolidados de 171 milhões de euros (menos 176,5 milhões do que em 2014). As provisões e imparidades reduziram-se em 233,1 milhões de euros (-24,6%) totalizando 716,5 milhões. Desde 2011, quando a actual gestão assumiu funções, a CGD foi obrigada a contabilizar imparidades de 5000 milhões, relacionadas com operações problemáticas e mau crédito antigo.

A CGD ainda não pagou ao Estado o empréstimo de 900 milhões através de CoCos, as obrigações de capital contingente que pagam juros. Na altura, o presidente da CGD lembrou que desde 2012 a instituição "foi dos bancos portugueses que menos pediu ajuda ao Estado”. O valor foi de 1650 milhões, dos quais 750 milhões por acções e 900 milhões em CoCos. O BCP pediu 3000 milhões de Cocos, o BPI 1500 milhões, o BES não pediu, mas acabou por colapsar e beneficiar de uma injecção de 4900 mil milhões, e o Banif acabou por obrigar o Estado a avançar com 3400 milhões.

Numa entrevista Diário de Notícias e à TSF, e questionado sobre a entrada de capitais privados na CGD, o primeiro-ministro disse que já transmitiu ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, "a opinião do Governo português sobre essas matérias" e recebeu "com muita satisfação a opinião" do líder europeu. Defendeu que as instituições financeiras públicas "não podem, por um lado, ser aliviadas de cumprirem os mesmos rácios de capital que os privados, porque isso seria distorcer a concorrência", e por outro ser as únicas impedidas de serem capitalizadas. "Aí seria uma distorção", defendeu. "O entendimento do Governo português é que o Estado deve proceder à capitalização da Caixa nos exactos  termos que qualquer privado capitalizaria os seus próprios bancos, para cumprir os mesmos rácios", disse.

António Costa sublinhou ainda que estas seria "exclusivamente" dinheiros públicos, nos termos e no montante que vier a ser determinado face ao apuramento das contas de 2015 e às avaliações feitas pelo sistema de supervisão".

Questionado sobre a nomeação do novo presidente da CGD, o primeiro-ministro adiantou que Mário Centeno, ministro das Finanças já está em contactos para que, assim que as contas estiverem aprovadas, substituir a administração da Caixa. E garantiu que a escolha será "independente das cores partidárias dos administradores".

Para celebrar 140 anos, este domingo a instituição tem abertas mais de 20 agências a nível nacional, incluindo Açores e Madeira, com várias actividades, como exposições, acções de responsabilidade social e ambiental, voluntariado e empreendedorismo, tertúlias, jogos de literacia financeira para crianças, entre outras. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República e Mário Centeno, ministro das Finanças, participam ao final da tarde na sessão comemorativa do aniversário.

 

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