Caixa Geral de Depósitos tem exposição de 300 milhões a empresas do Grupo Espírito Santo

Banco público recebeu acções da Espírito Santo Financial Group como garantia e também activos imobiliários no âmbito do projecto da Comporta.

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A rede de financiamentos montada pela Espírito Santo Internacional chegou também ao banco controlado pelo Estado Joana Freitas

A exposição da Caixa Geral de Depósitos (CGD) a sociedades detidas pelo Grupo Espírito Santo ronda os 300 milhões de euros, mas todos os créditos têm garantias reais como acções ou imobiliário. Entre as empresas que se foram financiar junto da CGD está a Espirito Santo Internacional, que controla o Espírito Santo Financial Group (ESFG), o maior accionista do BES, e que pode vir a pedir a protecção de credores.

O PÚBLICO apurou que a ESI terá entregue como aval do empréstimo que contraiu junto da CGD, por exemplo, acções da ESFG - que anteontem pediu à CMVM a suspensão da negociação na bolsa de Lisboa. A decisão da holding, com sede no Luxemburgo, terá tido a ver com a possibilidade de o seu controlador, a ESI, avançar com um pedido de insolvência com protecção judicial.

Caso se confirme esta intenção, a CGD poderá ter de encaixar uma perda total ou parcial. Isto, dependendo do contrato que celebrou e que prevê que, sempre que o título caia abaixo de um certo valor, o credor possa exigir ou o reforço de garantias ou a venda das acções. A execução dos títulos da ESFG é outra opção, o que tornará a CGD accionista do BES. A Caixa pode exigir, ainda, que as acções sejam vendidas.

Para além do apoio financeiro dado à ESI, a CGD tem também créditos junto da Comporta, empresa onde a família Espirito Santo agrega várias propriedades. Neste caso, recebeu como garantia activos imobiliários.

O Expresso Diário noticiou ontem que a família Espírito Santo "pediu um crédito" de mais de 100 milhões de euros ao banco Nomura para acorrer ao último aumento de capital do BES [1045 milhões de euros] e "deu como garantia as próprias acções do BES". Uma decisão que possibilitou à ESFG reduzir a sua presença no BES de 27% para apenas 25%, e não para 22% como era expectável. O Nomura activou a cláusula que visa regularizar a garantia e, com a venda dos títulos para pagar o crédito, a ESFG verá baixar a sua posição no BES. Mas deve ficar com cerca de 20%.

Os títulos do banco voltaram ontem ao mercado, depois de a comissão executiva ter revelado o grau de exposição directa e indirecta ao GES, mas os analistas apontam para a probabilidade de necessidade de um novo aumento de capital, o que pode exigir o recurso à linha de recapitalização pública (que tem livres cerca de 6000 milhões de euros). O Citigroup, que há um mês adquiriu acções do BES, estima que, no pior dos cenários, o reforço seja de 4300 milhões de euros. 

Na origem da turbulência dos mercados em torno do sistema GES/BES/PT (a operadora está exposta à Rioforte em 900 milhões a GES) está não só eventualidade de o Estado poder ter de socorrer o BES, como a informação de que a ESI terá de declarar a insolvência. As conta da holding foram manipuladas com a ocultação de 1300 milhões de perdas. Uma entre várias transacções polémicas relacionadas com sociedades e gestores do GES e que estão no centro de uma investigação do Banco de Portugal, que envolve, por exemplo, a actuação de Ricardo Salgado enquanto banqueiro.  

No meio das averiguações está também o contabilista do GES que fez declarações contradizendo Ricardo Salgado - que veio dizer nada saber das irregularidades. Depois de ter garantido por escrito (segundo o relatado pelo Expresso) que Ricardo Salgado não só fora informado do buraco de 1300 milhões na ESI, como participara na decisão de o ocultar das autoridades, Francisco Machado da Cruz passou a estar incontactável, o que aconteceu após ter auferido uma indemnização que já foi classificada de "choruda".

O PÚBLICO apurou que o Brasil, país sem acordo de extradição com Portugal, terá sido o local escolhido pelo contabilista para fazer umas férias de silêncio. Em entrevista ao Jornal de Negócios, Salgado remeteu as culpas para o commissaire aux comptes, Machado da Cruz, que alegou ser na prática o único funcionário da holding. E quem decidiu avançar com a denúncia das irregularidades, tese que o banqueiro replicou ao Banco de Portugal. Só que Machado da Cruz tinha dito aos advogados contratados pelo GES que desde 2008 que Salgado sabia que as contas da ESI não reflectiam a verdade financeira. E que nada fazia sem conhecimento da administração da ESI, de que faz parte o ainda presidente do BES que vai sair do banco a 31 de Julho (para entrar Vítor Bento). 

O contabilista, hoje em parte incerta, confessou que, em 2008, retirou 180 milhões de euros do passivo da ESI, verba que devia ser registada como prejuízo. Sublinhe-se que Salgado declarou ter sido surpreendido quando soube que parte do passivo não estava reflectido nas contas da ESI. Apesar das revelações de Machado da Cruz a contrariar as de Ricardo Salgado, o contabilista declarou-se responsável, mas salienta que o objectivo da ocultação do passivo da ESI destinou-se a salvar o BES.

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