França arromba portas, descobre armas de guerra e alerta para ataques “nos próximos dias”

A polícia francesa aproveita o estado de emergência para fazer buscas sem mandado. Em poucas horas descobriu armas de guerra, pôs 104 pessoas em prisão domiciliária e deteve 23 suspeitos jihadistas. Bruxelas acusou já duas pessoas de actividades terroristas e libertou o irmão do suspeito em fuga.

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A polícia belga também montou uma operação no distrito de Molenbeek JOHN THYS/AFP
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Manuel Valls, primeiro-ministro francês STEPHANE DE SAKUTIN/AFP

O primeiro-ministro francês relança o alerta. "Sabemos que há operações que foram preparadas e estão ainda a ser preparadas, não apenas contra a França mas contra outros países europeus também", afirmou, numa entrevista à rádio belga RTL. Estes atentados, sublinha, podem vir "nos próximos dias, nas próximas semanas".

Serão as novas "réplicas francesas", segundo o governante francês, sublinhando que será a geração dos jovens adultos atacados na sexta-feira quem terá de lidar com esta ameaça. "Há apenas alguns meses, eu disse que esta geração teria de viver com a ameaça durante muito tempo. E fui criticado, como se quisesse que as pessoas tivessem medo." 

Pouco depois dos atentados de Paris, os mais graves da história moderna da França, Valls disse que os serviços de informação franceses impediram nos últimos meses pelo menos cinco ataques da mesma natureza. David Cameron, primeiro-ministro britânico, disse nesta segunda que as suas autoridades impediram sete. "Poderia ter sido aqui", disse, a partir de Londres.

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As autoridades acompanham a directiva de Valls e agem numa escala sem precedentes. França acordou nesta segunda-feira com a notícia de que em poucas horas foram executadas 168 operações de busca de norte a sul do país. Atingiram zonas conhecidas das autoridades pelo seu risco radical e resultaram para já em 104 prisões domiciliárias e 23 detenções.

Foram apreendidas 31 armas. Destas, quatro são armas de guerra, o que inclui um lança-rockets apreendido em Lyon e pelo menos uma espingarda automática Kalashnikov, como as que foram usadas nos atentados de sexta-feira. As operações deram-se em Bobigny, em Paris, Calais, Grenoble, Toulouse e Jeumont, na fronteira com a Bélgica.

Esta intervenção em larga escala não seria possível se a França não estivesse sob estado de emergência. “Estamos a aproveitar o enquadramento legal do estado de emergência para interrogarmos membros do movimento radical jihadista… e todos os que advogam o ódio pela República”, disse nesta segunda-feira o primeiro-ministro francês.

O estado de emergência permite que a polícia francesa faça buscas domiciliárias sem mandado judicial. Até agora, a imprensa francesa tem dito que as operações da madrugada de domingo para esta segunda-feira parecem não estar directamente ligadas aos atentados de Paris e que a sua origem parece estar em operações em curso sobre suspeitos jihadistas.

De acordo com o Le Monde, o Governo francês quer que este estado de emergência dure três meses e já o terá comunicado aos deputados. Por enquanto, este estado jurídico durará mais 12 dias, data em que o Parlamento francês vota para o prolongar, ou interromper.

Para além de mandados sem busca, o estado de emergência em França permite a reposição temporária de controlos de fronteira, apesar de Schengen, e também que governos locais imponham um recolher obrigatório. O Le Monde escreve também que estão proibidas concentrações públicas em Paris até ao dia 19 de Novembro, embora esta ordem tenha sido ignorada nas vigílias diante da sala de espectáculos Bataclan, no domingo, e no minuto de silêncio desta segunda-feira. Apesar disto, Valls diz que os concertos e actividades paralelas à conferência da ONU sobre o clima estão "sem sombra de dúvida cancelados", embora a cimeira se realize como previsto.

Operações na Bélgica
Não era apenas em França que nesta segunda-feira se faziam contas de grandes operações. Bruxelas anunciou ao início da tarde que duas das sete pessoas detidas no dia seguinte aos ataques de Paris estavam acusadas de terem executado "um acto terrorista e de participarem nas actividades de um grupo terrorista". 

Na comuna de Molenbeek, naquele que é visto como o centro operacional dos atentados, as operações da polícia prosseguiram pelo terceiro dia. Agora com um alvo concreto: encontrar Salah Abdeslam, o suspeito-chave em fuga e, possivelmente, o oitavo elemento dos ataques de sexta-feira.  

A detenção de Salah chegou a ser avançada pela rádio belga RTL, mas foi desmentida minutos depois. Uma equipa de forças especiais belgas invadiram um apartamento pelo telhado, alegadamente em busca do grande suspeito. A operação durou três horas, mas Salah não foi encontrado.

O suspeito em fuga é um de três irmãos que foram inicialmente dados como tendo todos participado no ataque. Sabe-se agora que não será exactamente assim. Apesar de um dos Abdeslam se ter feito explodir no restaurante Counter Voltaire e de Salah estar a ser procurado, o terceiro irmão, detido no sábado em Molenbeek, foi nesta segunda-feira libertado pelas autoridades belgas, aparentemente livre de suspeitas. "Não fez as mesmas escolhas de vida [dos seus irmãos]", disse à rádio belga RTL a advogada de Mohamed Abdeslam, o irmão libertado. .

 

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