Emigrantes lesados reforçaram protestos por causa do papel comercial do BES

Manifestantes tentaram forçar entrada na sede do Novo Banco mas foram travados pela polícia.

Num forte alarido de buzinas e apitos, juntaram-se na manhã desta segunda-feira centenas de pessoas em protesto, frente à sede do Novo Banco, em Lisboa. A manifestação teve a particularidade de juntar o Movimento dos Emigrantes Lesados (MEL) e a Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC).

Depois de algum tempo em frente às instalações do Novo Banco, protegido por uma enorme carga policial, a manifestação irrompeu pelo meio da Avenida da Liberdade perturbando o trânsito automóvel, tendo como destino o edifício do Banco de Portugal (BdP).

Os ânimos exaltaram-se quando alguns dos manifestantes da linha da frente tentaram passar o cordão das forças de segurança – primeiro na sede do Novo Banco e depois em duas agências do mesmo.

As centenas de emigrantes e lesados do BES exigem que o dinheiro investido lhes seja devolvido e garantem que não vão baixar os braços enquanto não for feita justiça, uma vez que, garantem, nunca foram avisados que os seus investimentos corriam riscos.  Uma ideia constante ao longo dos últimos meses, período em que já foram feitas várias manifestações.

Agosto é o mês ideal para estes protestos, já que muitos emigrantes regressam a Portugal para gozar as suas férias. A estes juntaram-se os restantes lesados que decidiram apoiar esta iniciativa. De todo o país saíram autocarros em direcção a Lisboa, para que a adesão ao protesto fosse significativa. Inicialmente previram-se 500 pessoas, mas a organização afirma ter havido uma adesão maior.

“Comprei apenas o bilhete de vinda, não tenho bilhete de volta. Fico cá até ser preciso”, declara Lurdes Lima, residente em França há 36 anos. Para a emigrante só interessa recuperar as poupanças que juntou ao longo de anos de trabalho e que até agora pensa estar perdido sem saber o porquê.

Os lesados exigem 100% da quantia que foi investida e, que depois da queda do BES há um ano, confiaram que lhes fosse reembolsado, culpando a actuação do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.

No caso dos emigrantes, o Novo Banco apresentou uma solução comercial no mês passado que previa o reembolso de 90% do dinheiro num prazo de seis anos através da entrega de obrigações aos clientes e da criação de dois depósitos a prazo remunerados em nome dos lesados, mas que foi rejeitada pela maioria dos emigrantes, acusando o banco de ser uma proposta em nada favorável aos clientes.

Ao PÚBLICO, uma das porta-vozes do MEL e organizadora do protesto, Amélia Reis, afirma que “essa proposta é injusta e complexa". "Pedimos que seja feita uma nova proposta que tenha no desenho uma conta a prazo, mesmo com o dinheiro bloqueado por algum tempo. Uma proposta com 60% em obrigações não é viável”, acrescenta.

“As obrigações que nos querem passar não têm valor nenhum. Mas se tiverem, eles [Novo Banco] que as vendam e nos dêem o dinheiro”, rematou. 

A proposta feita pelo Novo Banco já foi aceite por cerca de 2000 emigrantes, mas para a porta-voz algumas dessas pessoas não tinham consciência com o que estavam a concordar. Amélia Reis diz que os lesados só querem recuperar o dinheiro que juntaram e que há muitas pessoas que se encontram numa situação precária. “Porque estavam dependentes dos juros que perderam nos últimos três anos e que, agora, podem ver o seu dinheiro por mais seis anos bloqueado”, justifica.

Para o vice-presidente da AIEPC, Alberto Neves, as pessoas têm todo o direito de se indignarem, afinal são “os seus direitos que estão a ser subjugados por interesses alheios”. “Estão a ser desrespeitadas as recomendações da comissão parlamentar de inquérito e o Governo e as outras instituições reguladoras têm de respeitar esse órgão soberano”, defende.

Alberto Neves diz que é necessário acautelar os eventuais compradores do Novo Banco dos compromissos e direitos que foram garantidos aos clientes. Na sexta-feira foi interposta pela AIEPC uma providência cautelar admitida pelo Tribunal Administrativo de Lisboa exigindo que o BdP informe o comprador do montante de papel comercial devido, ou seja, 530 milhões de euros.

O prazo para a entrega das propostas vinculativas já chegou ao fim, mas ainda não há data para anunciar quem é que ficará com o Novo Banco (Fosun, Angbang ou Apollo). Quanto ao calendário dos emigrantes, este já está organizado: a próxima manifestação será a 27 de Setembro, em Paris.

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