Bernie Sanders, um “socialista democrata”, é o primeiro adversário de Hillary

Senador avança com candidatura democrata à presidência dos EUA para "apresentar soluções para os problemas dos americanos"

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Bernie Sanders descreve-se como um “socialista democrata” Jonathan Ernst/Reuters

O senador independente do Vermont, Bernie Sanders, oficializou nesta quinta-feira a sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos, tornando-se o primeiro concorrente a desafiar (pela esquerda) a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, nas eleições primárias para a nomeação do Partido Democrático. “Depois de um ano de viagens, discussões e diálogo, decidi candidatar-me”, anunciou numa mensagem aos seus apoiantes, em que apontou o combate à desigualdade económica, às alterações climáticas e à interferência do poder económico na política como as principais razões que o levaram a avançar.

Aos 73 anos, Bernie Sanders, que se descreve como um “socialista democrata”, é o independente há mais tempo no Congresso dos Estados Unidos: eleito pela primeira vez em 1990, para a Câmara de Representantes, representa o pequeno (e liberal) estado do Vermont no Senado desde 2007. Porém, a sua popularidade estende-se muito para além da afluente Nova Inglaterra — Sanders é uma das figuras mais queridas na ala progressista mais à esquerda do Partido Democrata, onde nunca se filiou apesar de votar com esta bancada no Congresso.

Os analistas políticos elogiaram o senador independente, assinalando o interesse e a “utilidade” da sua entrada na corrida presidencial, em termos da dinâmica da campanha e sobretudo da participação nos debates das primárias: a tese é de que poderá forçar a superfavorita Hillary Clinton a falar de temas que escapam à sua agenda mais moderada e a arriscar posições mais progressivas, nomeadamente em matérias fiscais e programas sociais.

“Infelizmente, ninguém parece interessado em discutir e apresentar soluções para os problemas quotidianos dos americanos. A única coisa que tenho visto discutir é o penteado de Hillary Clinton... ou a minha careca”, ironizou, numa entrevista recente à rádio Pública NPR. “Enquanto isso, a classe média debate-se com enormes dificuldades, e o número de famílias em situação de pobreza aumenta”, acrescentou.

Os comentadores já vaticinaram a derrota da sua candidatura, uma previsão que as sondagens parecem confirmar mas que ainda assim desagradou a Bernie Sanders. “Parece-me um erro subestimar o meu apelo [eleitoral]. Tenho uma larga experiência a correr por fora do sistema bipartidário, derrotando candidatos democratas e republicanos e enfrentando os grandes interesses e lobbies. Julgo que se a minha mensagem é apelativa para os eleitores do Vermont, também o pode ser no resto do país”, respondeu, numa entrevista exclusiva à Associated Press.

Questionado sobre o seu interesse em disputar as primárias democratas, explicou que uma candidatura presidencial independente seria praticamente impossível por causa dos custos astronómicos da campanha. “Não sou nenhum milionário”, observou o senador. Pressionado, acabou por reconhecer que o seu principal objectivo é que as ideias mais liberais sejam discutidas e possivelmente incorporadas na plataforma democrata. O Comité Nacional Democrata já aceitou a sua candidatura e saudou a sua entrada na corrida pela nomeação, que por enquanto conta apenas com dois concorrentes (as sondagens da semana passada dão 60% das intenções de voto a Hillary Clinton e 8% a Bernie Sanders).

Apesar das décadas que já leva em Washington, Bernie Sanders nunca se conformou ao molde do político do Congresso. Aliás, quase todas as biografias destacam a sua personalidade verdadeiramente independente: ao contrário do congressista e senador “típico”, não mede as palavras e não tem rodeios, sendo por vezes “anormalmente” sincero, crítico, agressivo e directo ao assunto. Quando a CNN lhe perguntou uma vez pelo seu “estilo peculiar”, lamentou que os jornalistas tratassem os políticos como se fossem estrelas do mundo do espectáculo. “Só que eu não estou aqui para vos entreter”, contrariou.

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